APELAÇÃO CRIMINAL – TRIBUNAL DO JÚRI – ART. 121 , § 2.º , INCS. II , IV E VI , E § 2.º-A, INC. I, C/C § 7.º , INC. III , DO CÓDIGO PENAL E ART. 14 DA LEI N.º 10.826 /03 – CONDENAÇÃO – IRRESIGNAÇÃO DEFENSIVA – 1. PRELIMINAR EX OFFICIO DE NÃO CONHECIMENTO PARCIAL DO APELO – PRETENDIDA A APLICAÇÃO DA MINORANTE PREVISTA NO ART. 121 , § 1.º , DO CÓDIGO PENAL – TESE RELATIVA AO HOMICÍDIO PRIVILEGIADO QUE NÃO FOI SUBMETIDA AO CRIVO DO CONSELHO DE SENTENÇA – INOVAÇÃO RECURSAL – RISCO DE USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DA CORTE LEIGA – 2. MÉRITO – ALMEJADA A NULIDADE DO JULGAMENTO – DECISÃO SUPOSTAMENTE CONTRÁRIA ÀS PROVAS DOS AUTOS NO QUE REFERE À PRESENÇA DE DOLO E À INCIDÊNCIA DAS QUALIFICADORAS DO MOTIVO FÚTIL E DO RECURSO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA – IMPROCEDÊNCIA – LASTRO PROBATÓRIO QUE EMBASA A DECISÃO DO JÚRI POPULAR QUANTO AO ANIMUS NECANDI E AOS TIPOS PENAIS DERIVADOS – OPÇÃO DOS JURADOS POR UMA DAS POSSÍVEIS CORRENTES DE INTERPRETAÇÃO PROBATÓRIA – PRINCÍPIO DA SOBERANIA DOS VEREDITOS – 3. VINDICADA A READEQUAÇÃO AO MÍNIMO LEGAL DA PENA DERIVADA DO CRIME DOLOSO CONTRA VIDA – PARCIAL PROCEDÊNCIA – CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS E MAJORANTE QUE OBSTAM A REDUÇÃO AO PATAMAR MÍNIMO – RETIFICAÇÃO DO QUANTUM DE INCREMENTO OPERADO NA PRIMEIRA FASE DA DOSIMETRIA, COM VISTAS A ATENDER AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE – 3. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESTA EXTENSÃO, PARCIALMENTE PROVIDO, COM REFLEXOS SOBRE A PENA FINAL DO APELANTE. 1. É inviável conhecer, em grau recursal, da alegação relativa à figura do art. 121 , § 1.º , do Código Penal se a tese não foi objeto dos debates em Plenário e tampouco constou dos quesitos submetidos ao crivo do corpo de jurados, sob pena de ofensa ao comando insculpido no art. 5.º, inc. XXXVIII, alínea d, da Constituição Federal , que confere ao Tribunal do Júri a competência para julgar os crimes dolosos contra a vida e as suas circunstâncias, inclusive eventuais causas de diminuição e privilégios. 2. Não se trata de decisão manifestamente contrária às provas dos autos a eleição, por parte do Conselho de Sentença, da proposição acusatória deduzida pelo Ministério Público na denúncia, pois, in casu, há elementos no lastro probatório capazes de respaldar a conclusão da Corte Leiga no sentido de que o apelante, imbuído de animus necandi e propelido por discussão de somenos importância, ceifou a vida da sua companheira sem lhe dar chance de defesa, de modo que a tese defensiva quanto à ausência de dolo e de duas das qualificadoras constitui apenas uma das possíveis correntes de interpretação probatória, devendo ser mantida a opção dos senhores jurados pela versão que entenderam mais verossímil, com fulcro no princípio da soberania dos vereditos, previsto no art. 5.º, inc. XXXVIII, alínea c, da Constituição Federal . 3. Em que pese a incidência da confissão espontânea e a primariedade do réu, devidamente reconhecidas pelo juízo a quo, a redução ao mínimo legal da pena derivada do crime doloso contra a vida esbarra na presença da majorante e das circunstâncias judicias valoradas negativamente mediante fundamentação idônea, impondo-se, contudo, a readequação do quantum de incremento operado na primeira fase da dosimetria, com vistas a atender aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 4. Apelação parcialmente conhecida e, nesta extensão, parcialmente provida, com reflexos sobre a pena final do apelante.