PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. ART. 20 DA LEI 8.742 /1993. CONCESSÃO INICIAL E DIREITO DE REVISÃO DE ATO DE ANÁLISE CONCESSÓRIA. PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO. NÃO OCORRÊNCIA. IDENTIFICAÇÃO DA CONTROVÉRSIA 1. Trata-se de Recurso Especial, remetido pela Segunda Turma, para exame da Primeira Seção nos termos do art. 14 , II , do RI/STJ.Discute-se a prescritibilidade do fundo de direito ao benefício assistencial previsto no art. 20 da Lei 8.742 /1993. PANORAMA JURISPRUDENCIAL 2. O Superior Tribunal de Justiça tem-se manifestado a favor de afastar a prescrição do fundo de direito quando em discussão direito fundamental ao Benefício de Prestação Continuada da Lei Orgânica da Assistência Social (BPC-LOAS), previsto no art. 20 da Lei 8.742 /1993, como instrumento de garantia à cobertura pela Seguridade Social da manutenção da vida digna e do atendimento às necessidades básicas sociais .3. Conforme precedente do STF ( RE XXXXX/SE , Rel. Min. Roberto Barroso , Tribunal Pleno, julgado em 16/10/2013, DJe 23/9/2014), julgado sob o rito da repercussão geral, o direito fundamental à concessão inicial ao benefício previdenciário pode ser exercido a qualquer tempo, sem que se atribua consequência prejudicial ao direito pela inércia do beneficiário, entendimento esse aplicável com muito mais força ao BPC-LOAS, por seu caráter assistencial. IMPRESCRITIBILIDADE DO DIREITO AO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL 4. No caso do BPC-LOAS, o direito de revisão do ato que indefere ou cessa a prestação assistencial não é completamente fulminado pela demora em exercitar o mencionado direito, ao contrário do que ocorre aos benefícios previdenciários, sobre os quais incide o prazo decadencial de dez anos, e a prescrição fulmina apenas as prestações sucessivas anteriores aos cinco anos da ação de concessão inicial ou de revisão, conforme art. 103 da Lei 8.213 /1991 .5. Admitir que, sobre o direito de revisão do ato de indeferimento do BPC-LOAS, incida a prescrição quinquenal do fundo de direito é estabelecer regime jurídico mais rigoroso que o aplicado aos benefícios previdenciários, sendo estes menos essenciais à dignidade humana que o benefício assistencial .6. Assim, a pretensão à concessão inicial ou ao direito de revisão de ato de indeferimento, cancelamento ou cessação do BPC-LOAS não é fulminado pela prescrição do fundo de direito, mas tão somente das prestações sucessivas anteriores ao lustro prescricional previsto no art. 1º do Decreto 20.910 /1932 .7. Na mesma linha de compreensão: REsp XXXXX/PE , Rel. Min. Mauro Campbell Marques , Segunda Turma, julgado em 22/5/2018, DJe de 29/05/2018; REsp XXXXX/CE , Rel. Min. Mauro Campbell Marques , Segunda Turma, julgado em 20/02/2014, DJe de 28/2/2014; AgRg no AREsp XXXXX/PE , Rel. Min. Benedito Gonçalves , Primeira Turma, julgado em 24/03/2015, DJe de 8/4/2015; AgRg no REsp XXXXX/PB , Rel. Min. Humberto Martins , Segunda Turma, DJe de 6/10/2014; AgRg no AREsp XXXXX/CE , Rel. Min. Ari Pargendler , Primeira Turma, DJe de 28/8/2014; AgRg no AREsp XXXXX/PR , Rel. Min. Mauro Campbell Marques , Segunda Turma, DJe de 9/6/2014; AgRg no AREsp XXXXX/SE , Rel. Min. Sérgio Kukina , Primeira Turma, DJe de 2/6/2014; AgRg no REsp XXXXX/PB , Rel. Min. Mauro Campbell Marques , Segunda Turma, DJe de 9/4/2014. CONSIDERAÇÕES SOBRE O VOTO DO MINISTRO OG FERNANDES 8. Sua Excelência, o Ministro Og Fernandes , apresenta Voto em que aprofunda o exame da questão e argumenta que houve alteração recente no regime decadencial da revisão dos benefícios previdenciários (art. 103 da Lei 8.213 /1991) em que expressamente prevista a incidência sobre indeferimento e cessação de benefícios. Pondera que essas alterações legislativas foram consideradas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal ( ADI XXXXX/DF ), razão por que entende que deva prevalecer a compreensão de que o fundo do direito do benefício assistencial é imprescritível .9. Inaplicável o regime decadencial dos benefícios previdenciários (art. 103 da Lei 8.213 /1991) ao benefício assistencial do art. 20 da Lei 8.742 /1993, já que sobre este incide o regime prescricional do Decreto 20.910 /1932. Oportuno trazer, como reforço de peso, os fundamentos utilizados pelo STF por ocasião do julgamento da ADI XXXXX/DF sobre os efeitos do tempo no direito ao benefício previdenciário, como fez o e. Ministro Og Fernandes.10. O em. Ministro Og Fernandes diverge, todavia, quando ao resultado do julgamento, já que entendeu correto o procedimento adotado pelo Tribunal de origem de julgar improcedente a ação e impor ao ora recorrente a protocolização de novo requerimento administrativo, sem aproveitamento da presente Ação.11. Na hipótese dos autos, o Tribunal de origem declarou prescrito o direito à revisão de ato administrativo de indeferimento do BPC-LOAS em razão de a Ação ter sido ajuizada após cinco anos da data do exame administrativo, sem prejuízo de apresentação de novo requerimento administrativo.12. Ouso discordar do judicioso Voto do e. Ministro Og Fernandes no ponto em que manteve a conclusão do acórdão recorrido de impor ao ora recorrente nova postulação administrativa, uma vez que a jurisprudência consolidada do STJ é no sentido de que, ausente requerimento administrativo, o termo inicial do benefício assistencial é a data da citação da autarquia na ação judicial, se observados os requisitos do benefício no mencionado marco temporal.A propósito: "Nos termos da firme jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, na ausência de prévio requerimento administrativo, é a citação, e não o ajuizamento da ação, o termo inicial do benefício assistencial" ( AgRg no AREsp XXXXX/SP , Rel. Ministro Og Fernandes , Segunda Turma, julgado em 1º/4/2014, DJe 24/4/2014); "Caso em que a parte autora pode postular a concessão de benefício a qualquer tempo, sendo certo que, decorridos mais de cinco anos desde o indeferimento administrativo e havendo alteração no estado de fato ou de direito do segurado, este fará jus ao benefício, atendidos os requisitos legais, mas a contar da nova demanda judicial" (AgInt no REsp 1.663.972, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA , PRIMEIRA TURMA, julgado em 5/10/2020, DJe 16/10/2020). Na mesma linha: AgInt no REsp XXXXX/SP , Rel. Min. Sérgio Kukina , Primeira Turma, julgado em 23/6/2016, DJe 30/6/2016; REsp XXXXX/RJ , Rel. Min. Francisco Falcão , Segunda Turma, DJe 14/2/2019; AgRg no REsp XXXXX/SC , Rel. Ministro Mauro Campbell Marques , Segunda Turma, julgado em 10/12/2013, DJe 16/12/2013; e AgRg no REsp XXXXX/DF , Rel. Ministro Humberto Martins , Segunda Turma, julgado em 1º/3/2016, DJe 8/3/2016.CONCLUSÃO 13. Recurso Especial provido.