RECURSOS DE APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA C/C CANCELAMENTO DE MATRÍCULAS, REGISTROS E AVERBAÇÕES NO REGISTRO IMOBILIÁRIO E REINTEGRAÇÃO DE POSSE – ALEGAÇÃO DE FALSIFICAÇÃO DE PROCURAÇÃO DE OUTORGA DE PODERES PARA ALIENAÇÃO DE IMÓVEL E CONSEQUENTE NULIDADE DO SUBSTABELECIMENTO DE PODERES E DA ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA – DEMANDA AJUIZADA CONTRA O PROCURADOR ORIGINÁRIO, CONTRA O PROCURADOR SUBSTABELECIDO E CONTRA O ADQUIRENTE DO IMÓVEL – SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA DO PEDIDO – RECONHECIMENTO DE FALSIDADE E CONSEQUENTE ANULAÇÃO DA PROCURAÇÃO, DO SUBSTABELECIMENTO E DA ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA – DETERMINAÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DA AUTORA NA POSSE DO IMÓVEL OBJETO DA ESCRITURA PÚBLICA ANULADA E CONDENAÇÃO DO PROCURADOR ORIGINÁRIO E DO SUBSTABELECIDO À INDENIZAÇÃO POR LUCROS CESSANTES – PEDIDO CONDENATÓRIO JULGADO IMPROCEDENTE EM RELAÇÃO AO ADQUIRENTE POR SER TERCEIRO DE BOA-FÉ – RECURSOS INTERPOSTOS PELO ADQUIRENTE E PELO PROCURADOR SUBSTABELECIDO – PRELIMINAR DE NULIDADE DE ATOS PROCESSUAIS EM RAZÃO DA FALTA DE SUSPENSÃO PROCESSUAL ANTE O FALECIMENTO DO CORRÉU (PROCURADOR ORIGINÁRIO) E HABILITAÇÃO DE SEUS HERDEIROS – ÓBITO COMUNICADO NOS AUTOS HÁ MAIS DE DEZESSEIS ANOS – PRELIMINAR DE NULIDADE POR FALTA DE INTIMAÇÃO DA TITULAR DA GARANTIA HIPOTECÁRIA REGISTRADA NA MATRÍCULA DO IMÓVEL OBJETO DA LIDE – ARGUIÇÃO DE NULIDADES DE ALGIBEIRA – IMPOSSIBILIDADE – AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE PREJUÍZO (“PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF”) – VEDAÇÃO À DEFESA DE DIREITO ALHEIO EM NOME PRÓPRIO ( CPC , ART. 18 )– PRELIMINARES REJEITADAS – FORMULAÇÃO, PELOS RÉUS APELANTES, DE PEDIDO DE ANULAÇÃO DE OUTROS ATOS JURÍDICOS – AFIRMAÇÃO DE QUE A PROCURAÇÃO PELA QUAL FORAM OUTORGADOS OS PODERES SUBSTABELECIDOS À AUTORA É IGUALMENTE FALSIFICADA E MACULADA POR NULIDADE – QUESTÕES DISTANCIADAS DA CAUSA DE PEDIR – AUSÊNCIA DE PEDIDO RECONVENCIONAL – PRESTÍGIO AO PRINCÍPIO DA ADSTRIÇÃO E CONGRUÊNCIA – ILEGITIMIDADE “AD CAUSAM” – TEORIA DA ASSERÇÃO – ARGUIÇÃO REJEITADA – PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA POR IMPRESCINDIBILIDADE DE JULGAMENTO CONJUNTO COM OUTRA DEMANDA EM RAZÃO DE PREJUDICIALIDADE EXTERNA – AUSÊNCIA DE CONEXÃO OU DE RISCO DE DECISÕES CONFLITANTES – ARGUIÇÃO REJEITADA – MÉRITO – AUSÊNCIA DE INSURGÊNCIA RECURSAL QUANTO À NULIDADE DOS ATOS JURÍDICOS – REINTEGRAÇÃO DE POSSE COMO COROLÁRIO LÓGICO DA ANULAÇÃO DA ESCRITURA PÚBLICA DE COMPRA E VENDA – IMPOSSIBILIDADE – POSSE JÁ EXERCIDA PELO ADQUIRENTE DO DOMÍNIO MUITO ANTES DA CELEBRAÇÃO DO ALUDIDO ATO JURÍDICO – RECONHECIMENTO DE OMISSÃO DA SENTENÇA QUANTO A ESSA TESE – AFASTAMENTO DA MULTA IMPOSTA AO POSSUIDOR ADQUIRENTE POR MANEJO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REPUTADOS PROTELATÓRIOS ( CPC , ART. 1.026 , § 4º )– CONDENAÇÃO DO PROCURADOR SUBSTABELECIDO À INDENIZAÇÃO POR LUCROS CESSANTES FUNDADA EM SIMPLÓRIA ASSERTIVA DE QUE O NEGÓCIO JURÍDICO EM QUE FIGUROU COMO REPRESENTANTE DO ALIENANTE SE APOIOU EM DOCUMENTO FALSIFICADO – EVIDÊNCIA DE QUE ELE NÃO TINHA CONHECIMENTO DA NATUREZA FRAUDULENTA DA PROCURAÇÃO E DE QUE AGIU DE BOA-FÉ AO RECEBER OS PODERES POR SUBSTABELECIMENTO E VALER-SE DELES PARA ALIENAR O DOMÍNIO DO IMÓVEL AO SEU CLIENTE À ÉPOCA – CONDENAÇÃO AFASTADA – SENTENÇA REFORMADA – AMBOS OS RECURSOS PARCIALMENTE PROVIDOS. 1. Se, a despeito de o falecimento de um dos três réus ter sido comunicado nos autos há mais de uma década, o processo tramitou por anos a fio sem a devida suspensão para habilitação de herdeiros e sucessores, não é dado aos outros dois réus pretender anular atos processuais somente após prolação de sentença desfavorável, face à inadmissibilidade de arguição de nulidade de algibeira, à ausência de demonstração de efetivo prejuízo (“pas de nullité sans grief”) e à vedação à defesa de direito alheio (dos herdeiros/sucessores) em nome próprio ( CPC , art. 18 ). 2. Pelos mesmo motivos, deve ser rejeitada a arguição de nulidade processual por falta de intimação da titular da garantia hipotecária registrada na matrícula do imóvel objeto da lide. 3. Se a demanda foi ajuizada em razão de alegada falsificação da procuração outorgada a um dos réus e consequente nulidade do substabelecimento de poderes em favor de segundo réu e da Escritura Pública de Compra e Venda em que um terceiro réu figurou como adquirente, descabe a pretensão, vertida pelos réus, de declaração de nulidade de atos jurídicos que envolvem a autora, especialmente sem apresentação de reconvenção. 4. A alegação de nulidade da procuração de outorga de poderes do antigo proprietário do imóvel e do posterior substabelecimento destes à autora somente poderia ser conhecida como arguição de ilegitimidade “ad causam”, mas, conforme jurisprudência do eg. STJ, “as condições da ação são averiguadas de acordo com a teoria da asserção, razão pela qual, para que se reconheça a legitimidade ativa, os argumentos aduzidos na inicial devem possibilitar a inferência, em exame puramente abstrato, de que o autor pode ser o titular da relação jurídica exposta ao juízo”, não havendo falar em acolhimento de arguição de ilegitimidade ativa se, pelo menos abstratamente, a parte autora aparenta ter “o direito de pedir o que pede” ( REsp XXXXX/SC ). 5. Não há nulidade da sentença por alegada imprescindibilidade de julgamento conjunto com outra demanda se, como na hipótese, não se verifica conexão ou risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias. 6. Deve ser julgado improcedente o pedido de reintegração de posse formulado como mero corolário lógico da anulação da Escritura Pública de Compra e Venda se, como no caso, evidenciado que o réu já exercia posse sobre o imóvel objeto da lide desde antes, ou seja, independentemente, da celebração do ato jurídico anulado. 7. Se o conjunto probatório dos autos mostra que o réu a quem substabelecidos os poderes supostamente outorgados pela procuração falsificada não tinha conhecimento da trama fraudulenta, tendo participado de boa-fé do ato jurídico anulado, descabe sua condenação solidária à indenização por lucros cessantes, imposta àqueles que verdadeiramente concorreram à fraude.