TJ-CE - Recurso em Sentido Estrito: RSE XXXXX20128060055 Canindé
PENAL. PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DECISÃO DE PRONÚNCIA. HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121 , § 2º , III e IV , DO CP ). PLEITO DE DECOTE DA QUALIFICADORA MEIO CRUEL. NÃO CABIMENTO. SOMENTE É PERMITIDO A EXCLUSÃO DA QUALIFICADORA NOS CASOS DE MANIFESTA IMPROCEDÊNCIA. SÚMULA 03 DO TJCE. SITUAÇÃO QUE DEVE SER ANALISADA PELO CONSELHO DE SENTENÇA. PRESENÇA DE LASTRO PROBATÓRIO MÍNIMO. IN DUBIO PRO SOCIETATE. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. Como relatado, a defesa requer, em suma, que a qualificadora meio cruel, prevista no art. 121 , § 2º , inciso III , do Código Penal , seja decotada, diante da ausência de provas capaz de fazer incidir tal circunstância, mormente pelo fato de não ter sido comprovada a conduta consciente do acusado de causar sofrimento exacerbado à vítima ou mesmo intenção de causar dor maior que os da própria conduta. 2. Em respeito ao Princípio do Juiz Natural, o juízo acerca da caracterização ou não dessa qualificadora no caso concreto, deve ficar a cargo do Conselho de Sentença, sendo certo que a sua exclusão nesta fase processual, somente é permitida quando forem manifestamente improcedentes, conforme entendimentos do Superior Tribunal de Justiça. 3. Nesse sentido, preceitua a Súmula nº 3 deste E.Tribunal: ¿As circunstâncias qualificadoras constantes da peça acusatória somente serão excluídas da Pronúncia quando manifestamente improcedentes, em face do Princípio do ¿In dubio pro Societate¿. 4. Com efeito, o meio cruel previsto no art. 121 , § 2º , III , do Código Penal é o meio em que o agente, ao praticar o delito, provoca um maior sofrimento à vítima, um sofrimento exacerbado, revelando uma brutalidade fora do comum ou em contraste com o mais elementar sentimento de piedade. 5. No caso, observa-se que há indícios necessários para o acolhimento da referida qualificadora (meio cruel), visto que o magistrado de origem, ao reconhecê-la, não fugiu da prova coligida aos autos, cabendo, pois, ao Conselho de Sentença se manifestar sobre a sua incidência ou não. 6.Dentre tais elementos de prova, extrai-se dos autos o laudo cadavérico às fls.25/26, os seguintes trechos: (¿) seguintes quesitos: (¿) QUARTO: Foi produzida por meio de veneno. Fogo, explosivo, asfixia ou tortura ou por meio insidioso ou cruel? (¿) SIM, CRUELDADE PELA EXTENSÃO DA LESÃO. O laudo descreve, também, que a vítima sofreu uma lesão na região cervical direita (pescoço) de extensão de 15 cm, que atingiu artéria carótida esquerda o que levou a volumosa hemorragia extensa, causando o óbito por choque hipovolêmico. 7. Ademais, consta, ainda, os depoimentos colhidos ao longo da instrução processual, dentre eles da irmã do acusado e companheira da vítima, Clarinha de Lima Arruda, que judicialmente afirmou: ¿Que depois de alguns minutos, ouviu uma pancada, um estalo; que abriu os olhos e viu Adriano correndo, não viu o que ele tinha na mão; que quando olhou Marto estava sangrando; que levantou, tentou segurar a cabeça de Marto; que Marto estava com a cabeça fatiada, o pescoço;¿ 8. Dessa forma, conforme o acervo probatório existente, percebo que não é desarrazoada a aplicação da qualificadora contida na pronúncia, em face das circunstâncias e dos fatos que restaram apurados ao longo da instrução criminal. Portanto, uma vez que há respaldo para caracterização da qualificadora meio cruel, deve essa ser mantida e remetida à apreciação do douto Conselho de Sentença, vez que não cabe a esta Corte suprimi-la, usurpando a competência constitucional do Tribunal do Júri para julgar os crimes dolosos contra a vida. 9. Recurso em sentido estrito conhecido e não provido. Sentença de Pronúncia mantida. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, em conhecer do recurso interposto, mas para negar-lhe provimento, nos termos do voto desta Relatora. Fortaleza, 30 de maio de 2023 DESEMBARGADORA ROSILENE FERREIRA FACUNDO Relatora