PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA Terceira Câmara Cível Processo: APELAÇÃO CÍVEL n. XXXXX-17.2019.8.05.0001 Órgão Julgador: Terceira Câmara Cível APELANTE: CARLITO HENRIQUE DOS SANTOS Advogado (s): JOEL ALVES BARRETO FILHO APELADO: ROSANGELA COSTA DOS SANTOS Advogado (s):GRAZIELLA MARIA MONTEIRO DE ARAUJO ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C DEMOLITÓRIA E INDENIZATÓRIA. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA REJEITADA. MÉRITO. DIREITO DE VIZINHANÇA. PROVA PERICIAL. IMÓVEL DA AUTORA COM OBSTRUÇÃO INDEVIDA NA ILUMINAÇÃO E VENTILAÇÃO EM RAZÃO DE EDIFICAÇÃO FEITA PELO RÉU. CONSTRUÇÃO IRREGULAR DEVIDAMENTE COMPROVADA POR PROVA PERICIAL. IMPOSSIBILIDADE DE REGULARIZAÇÃO DA OBRA. DESOBEDIÊNCIA A NORMAS FEDERAIS E MUNICIPAIS. DEMOLIÇÃO DA EDIFICAÇÃO. POSSIBILIDADE. ARBITRARIEDADE PERPETRADA PELO DEMANDADO, VISTO QUE AGIU SEM RESPALDO LEGAL E EM INOBSERVÂNCIA DAS REGRAS BASILARES DE DIREITO DE VIZINHANÇA E DA BOA-FÉ. CLARO PREJUÍZO OCASIONADO À AUTORA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. O Réu/Apelante aduz que seria ilegítimo para figurar no polo passivo da demanda, uma vez que o bem imóvel objeto do litígio pertenceria a terceiro. Ocorre que o processo ora analisado diz respeito ao direito de vizinhança, sendo legítimo para figurar na demanda aquele que usa nocivamente a propriedade, independentemente de ser proprietário ou não do bem. Logo, não caracterizada a ilegitimidade passiva do recorrente, rejeito a preliminar. 2. No mérito, demonstrado que a obra realizada pelo Apelante causou prejuízo ao imóvel de propriedade da Apelada, em relação à iluminação e ventilação, incontestável a utilização de forma indevida da construção realizada pelo recorrente, que, diga-se de passagem, também desrespeitou a Lei Municipal nº 9.281/2017, que institui normas relativas à execução de obras e serviços no Município de Salvador. 3. O direito de construir do proprietário do imóvel é limitado pelo direito de vizinhança e pelas normas municipais aplicáveis, nos termos do artigo 1.299 do Código Civil , e, por isso, incumbia ao Apelante adotar as medidas cabíveis para coibir os efeitos prejudiciais ao imóvel limítrofe da Apelada, o que não ocorreu, impondo-se o dever de demolir a obra irregular e de adequar a construção aos padrões do zoneamento municipal. 4. Nem se diga, como pretende o recorrente, que a sentença é ultra petita. Isso porque a demolição não poderia se limitar somente à parte da obra que faz frente às janelas da Autora/Apelada, pois a perícia técnica comprovou que a construção está integralmente incorreta, podendo, inclusive, ofertar risco de vida aos moradores e aos transeuntes. 5. No que se refere aos danos morais, para a configuração do dever de indenizar, devem estar presentes os pressupostos da responsabilidade civil, nos termos dos artigos 186 , 187 e 927 do CC/02 , quais sejam: o dano, o ato ilícito e o nexo de causalidade. 6. O aparecimento de fissuras, infiltrações e umidade na residência da Apelada certamente contribuiu para seu desconforto e dissabor, colocando em risco não só a saúde dos seus familiares como o bem-estar da residência e da harmonia do ambiente de repouso. O fato não configura mero aborrecimento, mas prejuízos morais que devem ser reparados em R$ 10.000,00 (dez mil reais). 7. Apelo conhecido e não provido. Sentença mantida. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº XXXXX-17.2019.8.05.0001, em que figuram como Apelante CARLITO HENRIQUE DOS SANTOS e Apelada ROSÂNGELA COSTA DOS SANTOS. Acordam os Desembargadores componentes da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia em CONHECER E NEGAR PROVIMENTO À APELAÇÃO, e o fazem de acordo com o voto desta Relatora.