RECURSOS EM SENTIDO ESTRITO – SENTENÇA DE PRONÚNCIA – DOIS RECORRENTES PRONUNCIADOS POR HOMICÍDIO QUALIFICADO COMETIDO MEDIANTE PROMESSA DE RECOMPENSA E PELO EMPREGO DE MEIO QUE DIFICULTOU A DEFESA DA VÍTIMA – OUTROS DOIS RECORRENTES PRONUNCIADOS POR HOMICÍDIO QUALIFICADO PELO EMPREGO DE MEIO QUE DIFICULTOU OU IMPOSSIBILITOU A DEFESA DA VÍTIMA – 1. PRIMEIRA PRELIMINAR – NULIDADE DA SENTENÇA DE PRONÚNCIA POR AUSÊNCIA DE ADITAMENTO – VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO ENTRE A DENÚNCIA E A PRONÚNCIA E VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL – CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA – DENÚNCIA QUE DESCREVE QUE UM DOS RECORRENTRES TERIA PRATICADO O CRIME POR MOTIVO TORPE, CONSISTENTE PROMESSA DE PAGAMENTO DE RECOMPENSA – PROVA COLHIDA NA FASE DO JUDICIUM ACCUSATIONIS DEMONSTRANDO QUE OS FATOS SE DERAM DE FORMA DIFERENTE DAQUELA NARRADA NA EXORDIAL ACUSATÓRIA – RECORRENTE QUE TERIA SIDO UTILIZADO POR UM DOS DENUNCIADOS PARA A PRÁTICA DO CRIME DE HOMICÍDIO – PROVA DESTES AUTOS QUE INDICA SUPOSTA INDUÇÃO POR UM DOS DENUNCIADOS DE QUE A VÍTIMA PRETENDIA MATAR ESSE RECORRENTE – SITUAÇÃO FÁTICA SUSTENTADA PELO PRÓPRIO MINISTÉRIO PÚBLICO NAS ALEGAÇÕES FINAIS – NULIDADE AFASTADA PELA MAIORIA – VENCIDO O RELATOR QUE ACOLHIA A PRELIMINAR E RELAXAVA A PRISÃO PREVENTIVA DOS RECORRENTES POR EXCESSO DE PRAZO DIANTE DA NECESSIDADE DE REABERTURA DA INSTRUÇÃO – ENTENDIMENTO DA CÂMARA, CONTUDO, PELA INEXISTÊNCIA DE PREJUÍZO AOS RECORRENTES – DESNECESSIDADE DE APLICAÇÃO DO INSTITUTO DO MUTATIO LIBELLI – AFASTAMENTO DO COMANDO PREVISTO NO ART. 384 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA CORRELAÇÃO, DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO – PRELIMINAR REJEITADA – 2. SEGUNDA PRELIMINAR – NULIDADE DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE ENFRENTAMENTO DE TODAS AS MATÉRIAS DEDUZIDAS AO LONGO DO PROCESSO –VIOLAÇÃO A NORMA DESCRITA NO § 1º DO ART. 489 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL C/C ART. 3º DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – AUSÊNCIA DE PRONUNCIAMENTO ACERCA DO PEDIDO DE RECOHECIMENTO DO HOMICÍDIO PROVILEGIADO – INOCORRÊNCIA – IMPOSSIBILIDADE DE O MAGISTRADO APROFUNDAR NO MÉRITO DOS FATOS – MANIFESTAÇÃO SUFICIENTE PARA AFASTAR TAL PRETENSÃO – VEDAÇÃO NO ART. 7º DA LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – MATÉRIA QUE DEVE SER OBJETO DE QUESITAÇÃO NO TRIBUNAL DO JÚRI NOS TERMOS DO ART. 483 , § 3º , I , DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – PRELIMINAR REJEITADA – 3. TERCEIRA PRELIMINAR – NULIDADE DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA DE PROVA ACERCA DA OCORRÊNCIA DO DELITO AUTÔNOMO DE PORTE DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO (ART. 16 , DA LEI N. 10.826 /03) E VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO – MATÉRIA QUE SE CONFUNDE COM O MÉRITO E COMO TAL SERÁ ENFRENTADA – PRELIMINAR REJEITADA – 4. QUARTA PRELIMINAR – NULIDADE DA SENTENÇA POR EXCESSO DE LINGUAGEM – ELOQUÊNCIA ACUSATÓRIA – VIOLAÇÃO AO DISPOSTO NO ART. 413 , § 1º , DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – OCORRÊNCIA – ASSERTIVAS PEREMPTÓRIAS DE PRÉ-JULGAMENTO – AFIRMAÇÕES CONTUNDENTES QUANTO A CERTEZA DA CULPABILIDADE DO RECORRENTE NA PRÁTICA DO CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA E EM RELAÇÃO AO CONEXO – INFLUÊNCIA NA DECISÃO DO CONSELHO DE SENTENÇA – ENTREGA AOS JURADOS DAS CÓPIAS DA DECISÃO DE PRONÚNCIA, DAS DECISÕES POSTERIORES QUE JULGAREM ADMISSÍVEL A ACUSAÇÃO E DO RELATÓRIO DO PROCESSO – COMANDO PREVISTO NO ART. 472 , PARÁGRAFO ÚNICO , DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL – MÁCULA RECONHECIDA – SENTENÇA DE PRONÚNCIA ANULADA – DESNECESSIDADE DE RELAXAMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA – INEXISTÊNCIA DE EXCESSO DE PRAZO POR NÃO HAVER NECESSIDADE DE REABERTURA DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL – ANÁLISE DAS DEMAIS TESES PREJUDICADA. 1. Se depois de encerrada a judicium accusationis, ou instrução preliminar, for verificado a possibilidade de dar nova definição jurídica ao fato narrado na denúncia e que a descrição contida na peça acusatória não corresponde àquela que ficou demonstrada pelas provas colhidas durante a instrução, deve, em regra, o magistrado, antes de prolatar a sentença de pronúncia adotar as providências preconizadas no art. 384 , caput, e seus parágrafos , do Código de Processo Penal : mutatio libelli. Todavia, inexistindo prejuízo, como ficou reconhecido por maioria, no caso em apreço, em que a modificação fática resultou na exclusão de uma qualificadora em benefício do agente, não deve ser anulada a sentença pronúncia, vencido o relator que acolhia a preliminar. 2. Determina o art. 7º da Lei de Introdução ao Código de Processo Penal que “o juiz da pronúncia, ao classificar o crime, consumado ou tentado, não poderá reconhecer a existência de causa especial de diminuição da pena”, de modo que a tese de reconhecimento da causa de diminuição referente ao privilégio previsto no § 1º do art. 121 do Código Penal , segundo o qual: “Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço”, deverá ser examinada pelo Tribunal do Júri, inclusive sendo objeto de quesitação, nos termos do art. 483 , § 3º , I , do Código de Processo Penal , não comportando, portanto, seu exame na decisão de pronúncia, razões pelas quais a sentença invectivada que se reportou àquele dispositivo legal não pode ser tida como desfundamentada. 3. O pleito de nulidade da sentença por ausência de prova da ocorrência do crime conexo de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, capitulado no art. 16 da Lei n. 10826 /03 e por conta de suposta violação ao princípio da consunção, confunde-se com o mérito do próprio recurso em sentido estrito e como tal será enfrentado. 4. Deve ser declarada nula a sentença de pronúncia quando a autoridade judiciária se utiliza de assertivas peremptórias de pré-julgamento, demonstrando que não agiu de maneira comedida e imparcial que se exige nessa fase de mera admissão da denúncia, ficando claro que as afirmações contundentes quanto a certeza da culpabilidade do recorrente na prática do crime doloso contra a vida e em relação ao conexo, certamente influenciará o Conselho de Sentença, porquanto aos jurados serão entregues cópias da decisão de pronúncia, das decisões posteriores que julgarem admissível a acusação e do relatório do processo, conforme preceitua o art. 472 , parágrafo único , do Código de Processo Penal . Tendo em vista que a nulidade atinge apenas a sentença de pronúncia e será resolvida com a apresentação de nova sentença por parte da magistrada presidente do feito sanando os vícios apontados neste julgamento, considerando o princípio da razoabilidade e a gravidade e particularidades do caso em análise, não que se falar em excesso de prazo ou afronta aos ditames do art. 5º , LXXVIII , da Constituição Federal . Com o acolhimento desta preliminar, fica prejudicado o exame das demais teses, sejam preliminares, sejam de mérito, deduzidas pelos recorrentes.