PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES DE ROUBO, CORRUPÇÃO DE MENORES E DISPARO DE ARMA DE FOGO. PLEITO DE APLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO DO CRIME DE DISPARO DE ARMA DE FOGO PELO CRIME DE ROUBO. IMPOSSIBILIDADE. ROUBO JÁ CONSUMADO NO MOMENTO DA ABORDAGEM POLICIAL. DESCLASSIFICAÇÃO, EX OFFICIO, DO CRIME DE DISPARO DE ARMA DE FOGO PARA O CRIME DE RESISTÊNCIA. EMENDATIO LIBELLI OPERADA EM SEGUNDO GRAU. RESPEITO AO PRINCÍPIO DA NON REFORMATIO IN PEJUS. SENTENÇA REFORMADA. MODIFICAÇÃO DA PENA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA REFORMADA DE OFÍCIO. 1. Nas presentes razões recursais, alega a defesa que o magistrado de piso incorreu em equívoco ao aplicar a pena do art. 15 da Lei 10.826 /03, por entender que o mencionado crime restou absorvido pelo crime de roubo. A presente tese não merece acolhimento, merecendo, entretanto, reforma, de ofício, a decisão ora guerreada. 2. Ao contrário do que alega a defesa, não é possível aplicar o princípio da consunção para que o crime de disparo de arma de fogo seja absorvido pelo delito de roubo, na medida em que este já estava consumado quando o réu efetuou os mencionados disparos. Não há dúvida de que o apelante efetuou disparos de arma de fogo na direção dos policiais militares, os quais foram taxativos em destacar a conduta do agente no momento da abordagem policial. 3. A conduta do apelante, a meu ver, se trata, na verdade, de hipótese clássica do crime de resistência, previsto no artigo 329 do CP , que se caracteriza pela desobediência ativa, isto é, o agente desobedece à ordem legal de funcionário público e, para tanto, se vale de violência ou grave ameaça à pessoa. 4. A emendatio libelli é providência que pode ser adotada em qualquer grau de jurisdição, ao contrário da mutatio libelli, que se limita à primeira instância. Isso se dá pelo simples fato de que o réu se defende dos fatos a si impingidos e, sem qualquer alteração dos fatos narrados na exordial acusatória, resta percebido que o presente caso comporta capitulação equivocada por parte da acusação e, portanto, plausível a mencionada recapitulação operada em segundo grau. 5. estabeleço a pena total de 06 (seis) anos e 04 (quatro) meses de reclusão, além do pagamento de 18 (dezoito) dias-multa, arbitrando-se cada dia-multa em seu mínimo legal, para os crimes de roubo e corrupção de menores. Por sua vez, para o delito de resistência entabulo a pena final em 04 (quatro) meses de detenção. Aplico o regime inicial semiaberto para cumprimento das penas. 6. Recurso conhecido e improvido. Sentença reformada ex officio. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do recurso de apelação acordam os Desembargadores integrantes da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade, em conhecer do recurso para negar-lhe provimento, reformando, entretanto, de ofício, parte da sentença, nos termos do voto da relatoria. Fortaleza/CE, 05 de novembro de 2019. JOSÉ TARCÍLIO SOUZA DA SILVA Presidente em exercício Marlúcia de Araújo Bezerra Relatora