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7 de Maio de 2024

A imposição de metas é a cara do assédio moral no serviço público, afirma psicóloga

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Por Caê Batista

Alvo, mira, objetivo. Esses são alguns dos significados, estabelecidos pelo dicionário Aurélio, para a palavra Meta. Há anos muito presente no vocabulário da iniciativa privada, essa palavra é a cara do assédio moral dentro do serviço público, sobretudo no Judiciário Federal. Não pela combinação de consoantes e vogais, mas por toda política que há por trás de sua imposição. Uma política que resulta na cobrança por resultados, sem que sejam observadas as reais condições para que elas sejam cumpridas, o que as torna inalcançáveis.

Qual é o efeito de uma meta inatingível sobre a subjetividade de um trabalhador? Quais são os sentimentos que ele desenvolve ao perceber que todo o seu esforço diário é inútil? O que pensa aquele trabalhador sobre si mesmo e sobre sua atividade laboral, se há uma distância abissal entre as suas reais condições de trabalho e a meta a ser buscada?

E se a esse trabalhador fosse prometida uma bonificação pelo cumprimento dessas metas, que sabemos ser inatingíveis. Além do sentimento de frustração, impotência, angústia haveria um ambiente de trabalho altamente estressante, pois a bonificação teria sido prometida a todos do setor.

Longe de ser uma mera suposição, a descrição acima foi uma das reflexões feitas pela psicóloga Terezinha Martins, na segunda palestra da Campanha de Combate ao Assédio Moral, que está sendo realizada pelo Sintrajud junto a toda categoria. A palestra foi realizada no auditório do fórum Pedro Lessa, na quinta-feira, 10.

Mas qual é a razão de se estabelecer uma meta que não será cumprida. Terezinha explica que a imposição de uma meta inalcançável tem a mesma função da pornografia, cujo consumo só faz aumentar a carência sexual da pessoa que a consome.

Dito de outra forma: Quanto mais a pessoa consome a pornografia, mais distante ela está de uma relação sexual verdadeira e plena de sentido. Quando trazemos a analogia para o universo laboral podemos inferir que quanto mais um trabalhador busca o cumprimento de uma meta inalcançável, mais ele se distancia de um trabalho pleno de sentido. Frustrado e impotente, o trabalhador se vê sem condições de enfrentar o arrocho salarial, às más condições de trabalho, à terceirização, ou o retorno de 40 mil processos do arquivo da PW para o fórum Pedro Lessa, por exemplo.

Teca reafirma que o assédio moral é a mais brilhante forma de gestão do trabalho desenvolvida pelo Capital, que atinge três tipos de trabalhadores: os militantes e questionadores, os lesionados e adoecidos e os muito competentes.

O assédio moral é um ato de gestão do trabalho, pensado com o objetivo de livrar-se de pessoas que fazem obstáculos aos planos do poder. E embora esteja ligado às relações de poder do trabalho, ele ocorre em situações fora do ambiente laboral.

Teca Baiana, como a palestrante é conhecida explica que o trabalho deveria nos trazer realização pessoal e profissional, mas que é impossível num ambiente de trabalho onde os trabalhadores são vilipendiados naquilo que têm de mais profundo, a sua intimidade.

A palestrante destacou que o assédio moral é um fenômeno recente no mundo do trabalho, que está em processo de consolidação, mas está assumindo contornos mais cruéis e recaindo de formas diferentes sobre pessoas diferentes. O fato de estar em processo de constituição não significa, segundo afirmou, que ele seja menos importante. Ao contrário, o fato dele estar se consolidando coloca sérias dificuldades no enfrentamento.

Entre as dificuldades está a propaganda que a os próprios detentores do poder fazem para banalizar o tema, levá-lo para o âmbito particular. É a forma que o capital se organiza para combater o fenômeno, explica. Por isso, Teca afirma que a organização política dos trabalhadores por local de trabalho é uma poderosa arma para enfrentá-lo.

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