Análise aponta presença de mercúrio, arsênio, ferro e chumbo na água do Rio Doce
"Para se ter uma ideia, a quantidade de arsênio encontrada na amostra foi de 2,6394 miligramas, sendo que o aceitável é de no máximo 0,01 miligrama", citou o prefeito Neto Barros
A análise laboratorial das amostras da água do Rio Doce, coletada em Minas Gerais, aponta a presença de metais pesados em concentração acima do aceitável. A informação foi confirmada pelo prefeito da cidade de Baixo Guandu, Neto Barros, no início da tarde desta quinta-feira (12).
Segundo o prefeito, foi detectada a presença de metais como mercúrio, alumínio, ferro, chumbo, boro, bário, cobre, entre outros. "Para se ter uma ideia, a quantidade de arsênio encontrada na amostra foi de 2,6394 miligramas, sendo que o aceitável é de no máximo 0,01 miligrama", citou Barros.
O prefeito disse ainda que são 100 km de material tóxico descendo pelo rio. "Encontramos praticamente a tabela periódica inteira dentro da água. Quero ver o que o presidente da Vale vai fazer para ajudar todo o povo", disparou.
Esta semana, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Baixo Guandu enviou uma expedição a Minas Gerais para coletar amostras da água que está descendo com a segunda enxurrada. A massa densa de lama foi encontrada pelos técnicos em Governador Valadares, a cerca de 200km da divisa com o Espírito Santo.
Desde o rompimento das barragens da Samarco na cidade mineira de Mariana, na última quinta-feira, especialistas alertam para o impacto provocado pela chegada dos rejeitos ao Rio Doce.
Segundo Eduardo Duarte Marques, pesquisador do Serviço Geológico do Brasil, em Belo Horizonte (MG), o rejeito das barragens é predominantemente formado por substâncias inertes, só que o minério de ferro eventualmente pode conter porções de metais como arsênio, antimônio, zinco e cobre. "Em certos pontos de extração do minério pode haver concentrações maiores desses metais – o que tornaria a lama realmente prejudicial. No entanto, para saber a concentração, será preciso fazer análises químicas", disse.
O prefeito de Baixo Guandu diz que o resultado da análise da água é extremamente preocupante. Ele determinou, inclusive, que seja feito hoje ainda o bloqueio da estrada de ferro Vitória-Minas, para impedir o transporte de minério que passa pelo município. No final da tarde, a prefeitura, segundo Neto Barros, vai colocar máquinas sobre os trilhos para impedir a passagem do trem que leva o minério. "Precisamos de respostas urgentes sobre o problema que atinge toda a região. Não vamos permitir qualquer atividade de mineração. Se não houve mobilização na cidade, as consequências poderão ser ainda mais graves", afirmou.
O outro lado
Por meio de nota, a mineradora Samarco afirmou que desconhece o laudo técnico que aponta a presença de metais pesados na lama. "A empresa reforça que o rejeito é classificado como material inerte e não perigoso, conforme norma brasileira de código NBR 10004-04, o que significa que não apresenta riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Proveniente do processo de beneficiamento do minério de ferro, o rejeito é composto basicamente de água, partículas de óxidos de ferro e sílica (quartzo)".
Fonte: GAZETAONLINE