As Faces de Dilma Rousseff

Os seres humanos são idênticos no modo como revelam suas emoções, sejam eles famosos ou anônimos. As sete expressões básicas: surpresa, medo, alegria, raiva, aversão, desprezo e tristeza estão presentes em diversas culturas. Da Namíbia ao Japão expressamos essas emoções da mesma maneira.

Raiva

Aversão

Desprezo

Essas expressões universais básicas se misturam formando inúmeras e complexas possibilidades. As macroexpressões faciais são mais facilmente identificáveis. As microexpressões podem durar menos do que um segundo e são mais difíceis de serem tanto reconhecidas quanto conscientemente controladas.

E o que elas revelam?

Num discurso elaborado, ensaiado a exaustão encontra-se a emoção genuína, disfarçada entre belos argumentos, saltando aos olhos de quem sabe ler estes pequenos e breves sinais. Essas microexpressões faciais podem reforçar o que é dito ou simplesmente causar incongruências ou contradições que o interlocutor tenta inadvertidamente ocultar na sua fala. Nossas expressões comunicam independente do nosso desejo consciente em ocultá-las.

Veja o exemplo a seguir:

“A Petrobrás está no caminho certo” Dilma Rousseff em 00:12 seg

Microexpressão de desprezo e aversão: observe a contração unilateral dos lábios e a ocorrência de elevação da musculatura do lábio superior. Esses sinais faciais são sempre involuntários e traem as intenções dos interlocutores.

E o que dizer da famosa “pôquer face”?

Muito mais preocupante do que expressar emoções é a presença de interlocutores que utilizam a famosa "pôquer face", o olhar fixo, duro, o excesso de posição neutra durante a fala, a expressão vazia que não demonstra nenhum sentimento.

No jogo da vida ou de cartas, a “pôquer face” tem apenas um objetivo, ser impenetrável para não transparecer ideias, não passar qualquer emoção que revele seu verdadeiro jogo, enganando dessa forma os adversários ou interlocutores.

Para um jogador experiente saber maquiar seus pontos vulneráveis é essencial no jogo político. A má notícia é que mesmo para estes jogadores habilidosos a expressão facial ou a falta dela podem revelar características ainda mais marcantes de suas personalidades.

Na câmara dos deputados em Brasília não faltam exemplos de famosos profissionais hábeis na arte de escamotear suas reais intenções e emoções em discursos ensaiados no plenário, em programas de partidos políticos ou entrevistas.

A "pôquer face" de alguns políticos nos recorda a grande capacidade de dissimulação do ser humano, relatado brilhantemente em Macbeth, grande obra de Shakespeare.

“O vosso rosto, meu senhor, é como um livro em que os homens podem ler estranhas coisas. Para iludirdes as circunstâncias, tomai a fisionomia das circunstâncias, mostrai-vos prazenteiro nos olhares, nas mãos, nos lábios; imitai a inocência da flor, mas sede a serpente nela escondida.”

As câmeras não mentem jamais, mas é preciso estar atento.

Devemos lembrar que os seres humanos são complexos na maneira como manifestam suas emoções. Numa determinada expressão, os olhos podem revelar medo, mas a boca insiste em sorrir. Os lábios entreabertos demonstram surpresa, mas nos olhos a contração dos músculos corrugadores e frontais revelam raiva.

Essa linguagem silenciosa, sutil, universal e de livre acesso permite o reconhecimento de expressões verdadeiras ou falsas, congruentes ou contraditórias. Revelam quem fala ou o que se cala.

A face humana é um baú repleto de preciosas informações. Esse tesouro de “humanidades” apenas nos lembra da linha tênue entre verdades e mentiras que diariamente e de forma exaustiva nos achacam. Perdidos em palavras, argumentos, afetos e distrações ficamos vulneráveis na nossa incapacidade de reconhecer as verdadeiras intenções alheias.

P. S: A escolha do vídeo de entrevista de Dilma Rousseff e Jô Soares obedeceu apenas a critérios técnicos. O plano de câmera fechado e o bom enquadramento, incluindo os dois interlocutores simultaneamente, permite a análise das microexpressões faciais com maior fidedignidade.

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