Meu avô materno, Mário Rodrigues Torres, era estudante de direito no Rio de Janeiro quando, em férias, na companhia de um amigo, esteve em Botucatu, no interior paulista. Apaixonou-se pela moça mais bonita da cidade e, formado, para lá voltou, com ela se casou e dali nunca mais saiu. Tornou-se advogado e político importante no município, tendo sido prefeito durante a Revolução de 30. Sem perder o espírito carioca, bonachão e tranqüilo, tinha um profundo amor pela liberdade, tanto política quanto individual. Certa vez, estava em seu escritório, com o pé sobre uma mesinha, amarrando o sapato, quando um antigo cliente, esbaforido, ali entrou de inopino. Travou-se, então, o seguinte e rápido diálogo: O cliente: "Dr. Mário, acabei de atirar numa pessoa!" Dr. Mário (continuando a amarrar o sapato): "Alguém viu?" O cliente: "Várias pessoas!" Dr. Mário (sem levantar a cabeça, ainda amarrando o sapato): "Então foge do flagrante, e depois me procura...". Logo após o golpe militar de 64, que extinguiu