Concurseiro: desistir, jamais! Esse é um dos mantras de Moisés, que conta a sua história
As frases de efeito não podem ser consideradas meros clichês na carreira de Moisés de Andrade, 34 anos e procurador do Estado do Paraná. Elas serviram de incentivo e motivação para o advogado chegar à atual posição, depois de anos de preparação intensa e uma dezena de tentativas em concursos das mais diversas áreas. Colada na parede do quarto depois da última reprovação, “Faça dos escombros de sua derrota degraus para sua vitória” é uma das declarações que demonstra a força das palavras para o catarinense de Tubarão, que iniciou a faculdade de Direito na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e terminou na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).
Entre mudanças de cidade e trancamentos de matrícula, foram 10 anos de estudo. Nesse meio tempo, Moisés exerceu diversas profissões: desenhista em uma fábrica de móveis, ocupante de cargo em comissão em órgãos públicos e até sócio de bar. Em todas, aprendeu a recomeçar, sem raiva dos fracassos e olhando sempre para frente. “Tive muitas idas e vindas antes de me dedicar aos concursos. Em todas as etapas, aprendi muito. Você não pode mudar o que já passou, mas pode agir agora para construir o que vem pela frente”, afirma, utilizando mais uma de suas frases motivacionais.
Quando terminou a faculdade, o catarinense se via sem perspectivas para advogar na área privada. Sem referências, sem dinheiro e sem ânimo para começar do zero, a opção pela carreira pública foi natural. “A afinidade com matérias como o Direito Administrativo levaram-me a preferir a advocacia pública”, justifica a escolha. Mas para conquistar o tão sonhado cargo público, somente estar motivado nunca é o suficiente. O procurador cita outros dois pilares fundamentais para a aprovação: planejamento e disciplina. “O planejamento deve ser realista e factível. Deve servir como guia, e não como coleira”, exemplifica.
Foi, então, que Moisés montou uma preparação focada e bem concebida, no intuito de obter a aprovação no concurso para procurador do Estado do Paraná, em outubro de 2011. Foram quase dois anos de estudo, baseado em muita leitura de bibliografias, onde destacava os trechos mais importantes e fazia desenhos de esquemas que ajudassem na compreensão da matéria. Toda semana, o catarinense realizava uma bateria de exercícios. E de tempos em tempos, revisava o conteúdo e fazia um simulado. “A preparação é dinâmica”, diz ele, proferindo mais um de seus chavões: “Você nunca é, você sempre está”.
Ele afirma ser uma “condição espartana” ficar meses sentado, sozinho no local de estudo, acompanhado apenas pelos livros e cadernos. Mas esse é um dos segredos para a conquista. “É aquela cadeira gasta que vai levar você ao encontro dos seus sonhos”, profetiza. Após ver seu nome na lista dos aprovados, Moisés diz que passou um filme na sua cabeça. “Vi que todos os dias de esforço e de renúncia valeram a pena.” O catarinense é procurador do Estado do Paraná desde abril de 2012. As experiências em concursos anteriores também foram importantes na conquista da vaga. Ao todo, foram 11 tentativas, conseguindo aprovação em seis. Mas foram nas reprovações onde o procurador ganhou mais experiência. A última ele considera a mais dolorida: por poucos pontos, ficou na derradeira fase para procurador do Estado do Rio Grande do Sul. Passada a decepção inicial, Moisés diz que a reprovação serviu de trampolim e motivação para a conquista do atual cargo.
Outro fator importante citado pelo advogado é a disciplina. Abdicar da vida social em prol do objetivo é fundamental para obter sucesso na prova. Para isso, o concurseiro contou com a compreensão dos amigos, familiares e, principalmente, da então namorada, hoje esposa. “Saber que podia contar com eles nos momentos de fraqueza foi algo que me deu ânimo”, enfatiza Moisés. Para ele, esse momento de preparação é uma fase de transição que exige uma completa mudança de rotina. “É um trabalho para deixar de ser quem você era e se tornar quem você quer ser”, filosofa.
Com um cargo que lhe proporciona estabilidade e boa remuneração, Moisés admite que alcançou seu objetivo e se declara “aposentado” da vida de concurseiro. Mas não é só a garantia de emprego e o dinheiro na conta que deixam o procurador realizado na profissão. “Há também a satisfação de fazer um trabalho diretamente voltado para o bem da sociedade”, cita. No momento, o advogado não pretende mais prestar concurso. Ele quer somente manter o entusiasmo em exercer a função, sabendo da importância das atribuições de um procurador do estado para a sociedade.
Entretanto, Moisés não abandonou completamente o mundo dos editais e das provas: ele agora tem a missão de preparar estudantes como professor e autor de livros. O compromisso de “formar bons servidores”, como ele diz, é um ânimo na carreira do procurador, que passa os princípios que o levaram ao sucesso para os alunos. Sempre, claro, de maneira poética e fazendo uso das suas expressões de efeito e analogias. “Com o tempo, o caminho ficará mais fácil, porque você ficará mais forte e também conhecerá melhor a trilha. Mas é necessário continuar caminhando, corrigindo os pequenos desvios e procurando terminar a semana melhor do que começou”, finaliza.