Criminoso Pratica Roubo, Atira Contra A Vítima.
E O Jornal Agora Sp (DO GRUPO FOLHA) O CHAMA DE “SUSPEITO”!
Observe o título da matéria: “Militar reage a assalto, atira e mata suspeito no Ipiranga” (jornal Agora SP, de 04/12/2015). Não existe algo errado?
Exatamente isso que se lê hoje no título: um “suspeito” foi morto...
Será que esse incômodo que traz a leitura do título distorcido é apenas meu?
Note-se: a própria matéria narra que três homens armados praticaram roubo contra um militar (das Forças Armadas), que estava dentro do seu veículo e que reagiu em defesa própria. Houve troca de tiros e dois dos criminosos foram atingidos pelos disparos, um deles vindo a morrer no hospital.
Mais uma vez um título de matéria jornalística chama atenção pelo tratamento dado ao ladrão que rouba, que atira contra a vítima, que coloca em risco outras pessoas nas imediações e, ao ser morto nessa flagrante situação criminosa, é chamado de “suspeito” por um jornal.
Imagino o que a vítima (de quase um latrocínio) pensa ao ler esse título, que chama de suspeito um dos ladrões que tentou matá-lo em confronto, depois de roubá-lo. Não é só isso, dois acompanhantes do militar vítima também sofreram lesões corporais.
Além desse desrespeito à figura da vítima, na medida em que o editor do título da matéria qualifica o ladrão (por pouco um assassino) como simples “suspeito”, também ocorre uma inversão na ordem dos fatos e o grau de importância atribuído a cada ação na ocorrência. Ora, o título chama a atenção ao fato da vítima (militar) ter reagido, atirado e matado o “suspeito”, quando o fato principal é a ocorrência de roubo praticado por três indivíduos com disparo de arma em direção à vítima, que reagiu legitimamente.
Título correto, portanto: "Ladrões atiram contra vítima e um deles morre em confronto".
O apontamento é importante, pois, sabe-se que nem todos que passam os olhos nos títulos, leem o texto completo da matéria, e assimilam somente o conteúdo das letras maiores e em negrito. Portanto, o cuidado e a isenção no registro impactante do título é fundamental para que a imprensa cumpra com o seu compromisso de transmitir a verdade dos fatos.
Não se pode banalizar o emprego do adjetivo, sob pena de o título também ser compreendido como suspeito.
Adilson Luís Franco Nassaro
Coronel PM Chefe do Centro de Comunicação Social da PM