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5 de Maio de 2024

Da série “Retratos de um Direito”: Pademba Road, a pior prisão do mundo

Publicado por João Paulo Morais
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A fotografia quando está entre o que é escondido e o que não é bonito de se ver, aponta, denuncia e condena. Faz de pessoas com suas máquinas ativistas fundamentais para transformação do mundo. Esse foto-jornalismo denuncia o vácuo de direitos humanos em todos os lugares. Profissionais arriscam a própria vida para gravar aquilo que o mundo insiste em ignorar.

Foi pensando nisso que o Justificando lançou a série “Retratos de um Direito”, pois, uma foto muitas vezes diz muito mais que muitos livros têm a dizer. O álbum de estreia é assinado por Fernando Moleres, fotógrafo espanhol nascido em Bilbao.

Moleres produziu vários relatórios sobre questões sociais urgentes, como os refugiados no Curdistão e África Subsaariana, e jovens nas prisões africanas. Seus livros incluem Children at Work, publicado em 2000, que incide sobre a exploração sistemática do trabalho infantil em mais de 30 países. Outra publicação, Men of God, explora a vida monástica. Foi premiado diversas vezes por órgãos e publicações internacionais.

Neste ensaio Moleres traz a vida e a rotina na “Pademba Road Prison”, um presídio de segurança máxima na Serra Leoa. O ensaio faz parte de um documentário chamado Moving Walls, produzido pela organização internacional Open Society Foundation.

Em Pademba, tudo ultrapassa a fronteira da imaginação. Presos sem água, comida, banho e julgamento. O ouro não é mais precioso que a chuva, com a água trazida pelos céus para quem nada tem.

Privada, ou mesmo um fosso, como é comum no Brasil, em Pademba é um balde. Para 240 pessoas, no mínimo. Isso é só um pouco de Pademba, mas não se dirá mais nada, pois as fotos dirão muito mais.

Confira:

Peter é um dos agentes que realiza a escolta dos prisioneiros. Toda manhã dezenas de presos, dentre os 1.300 homens e adolescentes sob custódia no presídio Pademba Road são levados ao Tribunal. Muitos comparecem a corte várias vezes até receberem uma sentença. Um dos adolescente presos afirma que já foi levado ao Tribunal mais de 50 vezes. Prisioneiros podem ficar anos detidos até receberem uma sentença definitiva.

Abdul Sesay tem 14 anos de idade. No dia 26 de julho de 2010 foi preso, acusado de portar um rádio que pertencia a outro homem. O suposto dono do rádio espancou Abdul antes de encaminha-lo até a delegacia, os ferimentos resultaram em problemas respiratórios permanentes. Abdul ficou preso na delegacia por 8 dias até que a polícia determinasse que ele era um adulto. Foi liberado somente em outubro de 2010, depois que o jornalista John Carlin pagou a fiança no valor de 60 euros.

Toda manhã dezenas de homens e adolescentes são levados da prisão até o tribunal, isso não significa que eles serão julgados.

300 homens estão presos no bloco 4, somente alguns possuem dinheiro para ficar em celas individuais, geralmente são os traficantes de drogas. A maioria divide celas superlotadas e dorme no chão.

Hilmami Musu Bangura é um órfão de 17 anos acusado pelo tio de ter roubado sua motocicleta. Hilmami recebeu uma sentença de 14 anos. Divide uma cela imunda com mais 7 pesos e desenvolveu problemas sérios de sarna.

34 homens dormem dentro da cela número 3, a maioria no chão. A única forma de lazer que a prisão oferece é o uso de duas máquinas de costura.

Ibrahim Sesay está sendo interrogado por outros prisioneiros a respeito do desaparecimento de um par de chinelos. Ibrahim foi preso em agosto de 2009, depois de ter sido acusado de furtar um celular. Ficou na delegacia de polícia durante 8 dias sem comida. Ibrahim afirma ter 14 anos de idade, mas a polícia o registrou com 19 e ele acabou recebendo a sentença de um adulto, 18 meses de prisão.

Um agente penitenciário dorme na sala de registros. Os documentos a respeito dos 1.300 presos permanecem desorganizados e são de difícil acesso. Muitos encarcerados possuem nomes similares. Um agente penitenciário recebe 60 dólares por mês.

Detentos preparam batata e mandioca para consumo próprio, o alimento é misturado com um pouco de arroz e será o almoço do dia. O café da manhã não passa de um copo de chá e um pedaço de pão. Aqueles que possuem dinheiro conseguem comprar carne ou peixe.

A comida é um luxo raro no presídio e consiste basicamente em arroz e mandioca. Água é distribuída de forma inconstante e muitos detidos não recebem o mínimo necessário para sobreviver.

Um balde serve de banheiro para mais de 240 presos provisórios. Somente os condenados possuem acesso ao banheiro ou usam o próprio pátio do presídio.

Sarh Monserey (centro da foto) entrou no presídio em 2007. Ele tinha 13 anos de idade quando foi acusado de homicídio. Sarh estava nadando em um rio com um amigo que acabou se afogando e morrendo. A família do falecido o acusou de assassinato.

16 homens homens dividem uma cela de 30 metros quadrados. Eles passam 16 horas por dia na cela e dividem um balde que serve de sanitário. O presídio demora até 8 meses para fornecer um único sabonete que deve ser dividido por todos.

Presos tomam banho no pátio central da Pademba Road Prison.

Jovens aproveitam para tomar banho de chuva, o modo mais fácil e barato de manter-se limpo no presídio. A maioria dos encarcerados não tem sequer acesso a água. Um balde de água para tomar banho custa 0,17 euros.


Fonte: http://justificando.com/2015/01/06/da-serie-retratos-de-um-direito-pademba-road-pior-prisão-mundo/

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