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2 de Maio de 2024

Ministério Público pede a cassação da concessão da Rede TV

Publicado por Expresso da Notícia
há 19 anos
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O procurador regional dos Direitos do Cidadão, Sergio Gardenghi Suiama e a procuradora regional dos Direitos do Cidadão substituta, Adriana da Silva Fernandes, ajuizaram em conjunto com seis ONGs que defendem os direitos dos homossexuais e os direitos humanos Ação Civil Pública pedindo a cassação da concessão da TV Omega Ltda, a Rede TV. O pedido é baseado em uma série de cenas que desrespeitam aos Direitos Humanos e e passsam conceitos de homofobia, exibidas no quadro de pegadinhas do programa "Tarde Quente", apresentado pelo humorista João Ferreira Filho, o João Kleber.

Além da cassação da concessão, pedida no mérito da ação, o Ministério Público Federal e as ONGs pedem que a Justiça conceda liminar determinando a suspensão imediata do programa Tarde Quente e das pegadinhas exibidas pelo programa e, como direito de resposta aos ofendidos, que seja exibido no mesmo horário do programa, durante 60 dias, programas sobre Direitos Humanos e contra a discriminação por orientação sexual, com custos arcados pela Rede TV.

A ação pede também que a Rede TV e João Kleber sejam condenados a indenizar a sociedade pelo dano moral coletivo, solidariamente, no valor de R$ 20 milhões, equivalente a 10% do faturamento bruto anual da emissora.

No mesmo dia, o MPF expedirá à direção das lojas Marabraz recomendação sugerindo que a empresa pare de patrocinar o programa. Segundo o mercado de televisão, um anúncio de 30 segundos nos intervalos do programa, exibido à tarde, custa R$ 13,5 mil.

Desde 2003, o MPF em São Paulo tem procedimentos abertos para apurar queixas de telespectadores afrontados pelas baixarias exibidas pelos programas do apresentador: o "Eu Vi na TV", do infeliz e supostamente montado quadro "Teste de Fidelidade", em que maridos ou mulheres supostamente traídos assistem, no palco, gravações de seus parceiros os traindo, não raro com o quadro exibindo cenas torpes de agressões entre os integrantes dos casais, e o "Tarde Quente", mais recente, que foca seu conteúdo nas pegadinhas.

Os dois programas aparecem constantemente, desde 2004, na lista da campanha "Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania", elaborada a partir de queixas de cidadãos ao projeto, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Para o procurador, não é admissível que concessionárias de serviço público, como as TVs, usem o espaço público concedido para violar direitos fundamentais da pessoa humana.

Durante o tempo em que monitorou o programa, o MPF compilou algumas das chamadas das pegadinhas que ofenderam cidadãos, como "Bicha atrevida faz pedestre se passar por gay e apanha"; "Bichas fazem festa no banheiro, irritam as pessoas e apanham"; "Acha que vai ser servido por"gostosa"mas é travesti"; "Ator insiste que pedestre é gay e acaba apanhando", "Repórter faz pedestre passar por marido de travesti e apanha".

O procurador descreve da seguinte forma os esquemas das pegadinhas com personagens gays: "a) o"ator", travestido de um tosco estereótipo do que a ideologia dominante crê ser"o homossexual", assedia moral e fisicamente os participantes da cena, provocando-lhes reações de repulsa e violência; b) o" ator "insulta os passantes chamando-lhes de" bicha "," veado e boiola ".

Além dessas chamadas, o MPF junta na ação a descrição de algumas pegadinhas, como no exemplo transcrito abaixo:

" Bicha atrevida faz pedestre se passar por gay e apanha "

Resumo: Ator pede que passante leia bilhete em que está escrito" eu sou gay ". Quando passante lê, ator passa a assediá-lo, fingindo ser estereótipo de homossexual.

Para um participante diz:" você chupa bastante, não chupa? "

Para o MPF, o programa prega a homofobia ao legitimar com as pegadinhas" a violência social contra homossexuais, na medida em que a `bicha´ encenada termina sempre punida com os socos e chutes dos passantes ".

Suiama ressalva, entretanto, que o MPF não quer estabelecer nexo causal entre o programa e as milhares de agressões diárias sofridas por homossexuais Brasil afora. ``O próprio programa televisivo dos réus já é um ato de violência simbólica contra, pelo menos, 20 milhões de brasileiros´´, escreveu o procurador na ação.

HUMILHAÇÃO

Não só homossexuais são desrespeitados pelo programa. Qualquer pedestre pode ser vítima de humilhações e constrangimentos no" Tarde Quente ". Pedestres são abordados na rua e gratuitamente chamados de" trouxas "," drogas "," fedidos "," aleijados "," cornos "," otários e escrotos ". Mulheres - inclusive senhoras idosas - são chamadas de" galinhas "pelos" atores "contratados pelos réus.

Num dos quadros levados ao ar recentemente, em 05 de julho de 2005," Homem ameaça apagar pedestres e acaba apanhando ", o" ator "se faz passar por assaltante e ameaça uma mulher que, sem saber que se tratava de uma farsa, começa a chorar, sob o riso de escárnio do apresentador. O MPF junta na ação também outra característica comum às pegadinhas: humilhar pessoas simples que se dispõem a ajudar alguém em necessidade.

O MPF tentou evitar a ação, chamando os réus para firmar um termo de ajustamento de conduta, no qual foi sugerido à Rede TV e ao apresentador que o programa passasse a respeitar os direitos fundamentais do cidadão, mas a proposta foi rejeitada pelo departamento jurídico da emissora, que não vislumbrou" motivos para firmar o documento ".

Assinam a ação com o MPF as ONGs:

Intervozes

CDH - Centro de Direitos Humanos

Associação da Parada do Orgulho dos Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de SP

Associação de Incentivo à Educação e Saúde de SP - Aiessp

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