Nunca houve uma ameaça tão grande quanto o assédio moral, afirma psicóloga
Por Caê Batista
O assédio moral é uma tática de gestão de pessoas para tirar do caminho os obstáculos aos planos de poder. A afirmação é da psicóloga Terezinha Martins, também chamada de Terezinha Baiana, e pode sintetizar parte de sua palestra sobre o assédio moral, realizada no auditório do Sintrajud na quinta-feira, 19.
A palestra deu início à campanha de combate ao assédio moral, que está sendo organizada pelo Sintrajud. Entre outras iniciativas, compõem a campanha a distribuição de uma cartilha à categoria e a realização de um ciclo de palestras nos tribunais da capital e algumas cidades do interior.
Mais do que dizer o que é o assédio moral, na quase uma hora de palestra, Terezinha Baiana apresentou uma série de conceitos que nos ajudam a reconhecer a prática, que é a primeira medida para combatê-la. Para Terezinha, nunca houve uma ameaça tão grande aos trabalhadores quanto o assédio moral.
A palestrante argumentou que a violência e a opressão sempre existiram nas relações de trabalho dentro do capitalismo, mas o assédio moral é uma prática recente. Terezinha disse assédio moral é resultado da reestruturação produtiva, iniciada nos anos 1970, que deu à gestão do trabalho um instrumental para manipular as emoções dos trabalhadores.
É uma gestão do trabalho que precisa (construir) um discurso de que todos fazemos parte de uma mesma família. É uma gestão feita a partir das emoções, explicou.
O assédio moral, segundo disse, é uma ferramenta para por para fora de casa os filhos questionadores (militantes e ativistas sindicais e políticos), os adoecidos ou acidentados e os muito competentes.
No caso dos militantes, o assédio moral serve para silenciá-los, para impedir qualquer tipo de reação a demissões ou planos de intensificação do ritmo de trabalho, por exemplo. Ou seja, o assédio moral visa impedir questionamentos e crítica, além da criação de um sentimento de solidariedade no local de trabalho.
O assédio moral sobre os trabalhadores adoecidos serve para afastá-los do local de trabalho, pois eles são exemplos para todos de que o trabalho adoece. Ao perceberem que um colega adoeceu pelo trabalho, os colegas reduzem a sua produtividade por receio de adoecerem, explicou Terezinha.
O assédio moral sobre os trabalhadores competentes acontece porque estes evidenciam a incompetência dos chefes, e, no serviço público, atrapalham falcatruas, disse.
Terezinha ainda exemplificou algumas tácticas utilizadas para desestruturar o trabalhador: retirar dele os meios para realizar o seu trabalho cotidiano; dar a ele um tratamento diferenciado àquele dispensado aos demais trabalhadores; ignorá-lo, o que é fatal para a sua subjetividade; fazer pequenas insinuações sobre características físicas do assediado. No final do processo, o sujeito está isolado do mundo, explicou.
Ela ainda sustentou que não existe assédio moral horizontal (entre pessoas que têm o mesmo nível de poder) ou de baixo para cima (subordinados que assediam os seus chefes): O assédio moral é uma tática de poder, é um ato de quem tem o poder [sobre quem não o tem].
Reconhecer é metade do caminho
Para Terezinha Baiana, reconhecer o processo de assédio moral é percorrer metade do caminho para enfrentá-lo. Reforçando a ideia de que é preciso desnaturalizar as relações de trabalho, Terezinha explicou que a saída é sempre política e organizativa, ou seja, os trabalhadores precisam se organizar em seus locais de trabalho para enfrentarem juntos essa prática.
A palestrante ainda destacou que é preciso aprofundar os estudos e análises do que é assédio moral para evitar que o termo seja banalizado e concluiu dizendo que tal prática está ligada ao modo de produção capitalista, que transforma o trabalho em morte. É preciso ter uma perspectiva de uma sociedade socialista.