Por que o Brasil continua massacrando seus índios?

Não bastasse os primeiros habitantes do Brasil, donos de umas das belas e ricas culturas, serem alijados de programas sociais e ações afirmativas, agora são ofendidos publicamente por representante do povo brasileiro:

“O deputado estadual Fernando Furtado (PCdoB-MA) se envolveu numa polêmica nesta semana depois que trechos de um discurso, no qual chama índios de “bando de veadinhos”, foram divulgados.

O episódio aconteceu no mês de julho durante uma audiência pública em São João do Caru, no Maranhão, que tratava de discussões sobre a posse de terras no interior do estado.

“Lá em Brasília o Arnaldo viu, os índios tudo de camisetinha, tudo arrumadinho, com flechinha, tudo um bando de viadinho. Tinha uns três que eram viado, que eu tenho certeza, viado. Eu não sabia que tinha índio viado, fui saber naquele dia em Brasília. Então é desse jeito que tá. Como é que índio consegue ser viado, ser baitola e não consegue produzir? Negativo…”, diz Furtado.

Em outro trecho, o deputado diz que “não tem descendência indígena” e reclama da “política indigenista”. “Uma política que garante aos índios aquilo que eles não têm direito. Não tem direito porque índio não é melhor do que qualquer brasileiro desse pais, índios têm regalia que os outros brasileiros que trabalham não têm…”, diz."[1]

É verdade que o tal deputado se retratou, todavia o infeliz discurso só demonstra o quão frágil é o respeito que o indígena tem no Brasil. Dificilmente, diante da atual conjuntura social, o deputado diria tal impropério sobre o povo negro ou judeu.

Vejam que tamanho é o desprezo que é nutrido pelo indígena, tendo em vista a pequena quantidade de votos que podem conceber, além da baixa repercussão diante da sociedade dos abusos cometidos contra eles, que a Lei 12.990/2014 sequer considerou a possibilidade de incluí-los.

A Lei 12.990/2014 dispõe: “Reserva aos negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos”. Segundo o IBGE, os índios não são negros, fato que já foi questionado por procedimento preparatório à Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal, tendo em vista ainda que legisladores estaduais já direcionaram a questão propondo cotas próprias para índios, em seus respectivos Estados.[2] [3]

Isso só serve para demonstrar o quanto o sofrimento indígena ainda é desmerecido em nosso país. Vitimas tanto da escravidão quanto de genocídios ainda recentes[4], não há um respeito sistemático e incrustado nos costumes do brasileiro, como já há em relação ao negro.

Vejam o quanto gerou de protestos o recente “black face” realizado por um programa humorístico da tevê aberta[5], todavia imitar/zombar de indígenas permanece uma atitude normal, sem grandes questionamentos da população ou da “elite” intelectual do país. Afinal, considera-se que são de uma “cultura” inferior, pouco representativa (poucos votos, né?), ainda que de maneira velada.

Há de se mudar a consciência coletiva sobre a importância do indígena. No assunto, tenho especial interesse e considero de suma importância, especialmente quando percebemos qual é a cultura étnica que mais preserva o meio ambiente e garante o futuro das próximas gerações.[6]

[1] http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/deputado-do-pcdob-chama-indios-de-bando-de-veadinhos

[2] Procedimento Preparatório nº 1.17.000.000909/2014-08

[3] http://www.institutoliberal.org.br/blog/cade-cota-meu-povo-presidente/

[4] http://www.survivalinternational.org/ultimas-noticias/9197

[5] http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/08/internautas-denunciam-personagem-racista-do-programa-pan...

[6] http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/modos-de-vida/Indioseo-meio-ambiente