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8 de Maio de 2024

TERRAMÉRICA - Proibições insuficientes para o atum

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As espécies de atum do Pacífico Oriental estão submetidas a uma intensa captura, pouco alterada pelas proibições dos países que participam da indústria.

San Salvador, El Salvador, 15 de novembro (Terramérica).- Os países que capturam atum no Oceano Pacífico Oriental veem nas proibições uma forma de pesca responsável, mas, dizem ecologistas, esse mecanismo não é suficiente para garantir a sobrevivência de um recurso ameaçado em todo o mundo.

A Comissão Interamericana do Atum Tropical (CIAT, com sede na Califórnia), que reúne os países que pescam esse peixe nessa parte do Pacífico, adotou em 1º de outubro novas proibições para 2011, 2012 e 2013 das três espécies mais procuradas na área: o de barbatana amarela (Thunnus albacares), o patudo (Thunnus obesus) e o bonito (Katsuwonus pelamis).

O que se faz é preservar para o futuro, são medidas de conservação necessárias, disse ao Terramérica o empresário Miguel Peñalva, diretor de operações do espanhol Grupo Calvo em El Salvador. Esta empresa de pesca do atum iniciou operações em El Salvador em setembro de 2003 com investimento de US$ 138 milhões.

Embora este país não possua uma indústria do atum como tal, em virtude da presença da Calvo, é o principal exportador de atum enlatado da América Central. Quatro embarcações do grupo espanhol pescam em águas internacionais do Pacífico diante da costa salvadorenha, e mais de 80% de suas exportações, que somaram US$ 100 milhões em 2008, dirigem-se à União Europeia. Se não cumpríssemos as disposições das proibições a nossa pesca seria declarada ilegal e não poderíamos comercializá-la, disse Miguel.

As proibições impostas pela CIAT, em razão de estudos de seu comitê científico sobre o estado da pesca, restringem a captura a 62 dias por ano e são de cumprimento obrigatório por seus membros: Belize, Canadá, China, Colômbia, Coreia do Sul, Costa Rica, Equador, El Salvador, Estados Unidos, França, Guatemala, Japão, México, Nicarágua, Panamá, Peru, Taiwan, União Europeia, Vanuatu e Venezuela.

Observadores independentes apresentam informes à CIAT sobre o respeito às proibições, e as frotas são monitoradas por um sistema via satélite para saber em que posição se encontram exatamente. As proibições ocorrem em períodos de crescimento do atum, disse Miguel, daí a importância de cumprir a medida. Às vezes, não necessariamente significam uma redução da pesca, disse ao Terramérica a ativista Sari Tolvanen, da campanha de oceanos do Greenpeace Internacional.

Em primeiro lugar, são períodos muito curtos para fazerem uma diferença. Além disso, as frotas que pescam com o método de cerco trabalham apenas em 75% do ano, e deixam de operar quando, de todo modo, precisam realizar revisões mecânicas, disse Sari, de Amsterdam. O cerco é uma das artes de pesca menos sustentáveis, pois permite grandes capturas com redes que cercam os cardumes, dando lugar à pesca incidental, daqueles peixes que não se busca.

Além disso, os barcos de cerco são bem grandes e fazem uso crescente de dispositivos para capturar mais peixes, os plantados ou objetos flutuantes, de modo que tais proibições temporárias têm pouco sentido, acrescentou. Os plantados ampliam, quando se pesca atum bonito, a captura incidental de patudos e de barbatanas amarelas que ainda não têm tamanho para serem explorados, colocando ainda mais em risco essas espécies e outras, como tubarões e tartarugas.

A Calvo e outras empresas dependem bastante do plantado, o que torna suas operações completamente insustentáveis, disse Sari. Em sua resolução, a CIAT reconhece que a pesca no Pacífico Oriental está aumentando e que a produção pode sofrer redução se a captura for excessiva. Em outras partes do mundo, o atum atingiu níveis críticos.

O atum patudo e o de barbatana amarela, segundo o Greenpeace, foram superexplorados em todos os mares e estão em sérios problemas no Pacífico Oriental e Ocidental, onde há alguns anos estavam relativamente a salvo. O atum de barbatana azul, típico do Atlântico e seus mares adjacentes, está a um passo da extinção, e a população do barbatana azul do Mediterrâneo diminuiu 80% desde 199l. No Pacífico oriental, o atum de barbatana amarela e o patudo estão em risco.

A Fundação Internacional para a Sustentabilidade dos Produtos Marinhos (ISSF) elabora uma tabela de risco de sobrepesca do atum em todos os mares, com um sistema de semáforo, sendo a cor vermelha o grau mais crítico. Nessa tabela para o Pacífico oriental, o patudo e o de barbatana amarela estão marcados em amarelo, pois suas existências não podem suportar nenhum aumento de captura e em alguns casos mostram sinais de sobrepesca. Apenas a espécie bonito se mantém na cor verde.

Em 2009, foram pescadas nessa região cerca de 595 mil toneladas de atum, 14% da captura mundial da espécie, indica o informe atualizado em setembro intitulado ISSF Status of the World Fisheries for Tuna (Estado da Pesca Mundial de Atum da ISSF).

A Espanha, com a maior frota da União Europeia e a terceira do mundo, atrás de China e Peru, captura a maior parte de seu atum no Atlântico Norte, no Mediterrâneo e diante da costa da África ocidental, mas, segundo o Greenpeace, as embarcações pesqueiras espanholas navegam os mares do mundo perseguindo pescas mais substanciosas de atum, tubarão e bacalhau.

Isso explicaria a presença da Calvo em El Salvador. Para o período 2009-2011, a CIAT estabeleceu cotas especificas para outros grandes atores do Pacífico: China, Japão, Coreia e Taiwan. Para Sari, a CIAT e outras comissões regionais do atum estão longe de um manejo adequado das espécies que interessam à indústria. É um punhado de nações pesqueiras que debatem sobre a torta de atum e sobre como fazer mais dinheiro, sem considerar a saúde dos estoques no longo prazo, os oceanos, os meios de vida e a segurança alimentar que afeta as comunidades, disse a ativista.

* O autor é correspondente da IPS.

Crédito da imagem: NOAA

Legenda: Cardume de atum de barbatana amarela.

LINKS

O atum vermelho e os barões da pesca

http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=3648

O calor aumenta e a pesca diminui no Caribe venezuelano

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Tradição gastronômica esgota a pesca

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E se o atum desaparecer...

http://www.tierramerica.info/nota.php?lang=port&idnews=3491

Atum azul em perigo, e vaza petróleo no Golfo do México

http://envolverde.com.br/materia.php?cod=75911&edt =

Proibição do comércio de atum causa agitação

http://envolverde.com.br/materia.php?cod=70841&edt =

Pesca sem controle Cobertura especial da IPS Notícias, em espanhol

http://www.ipsnoticias.net/_focus/pesca/index.asp

Comissão Interamericana do Atum Tropical, em espanhol e inglês

http://www.iattc.org/HomeSPN.htm

Resolução da CIAT sobre a conservação de atum 2009-2011, pdf em espanhol

http://www.iattc.org/PDFFiles2/Resolutions/C-09-01-Conservacion-de-atunes-2009-2011.pdf

Informe da ISSF, pdf em inglês

http://iss-foundation.org/FileContents.phx?fileid=522cd55e-1156-4d27-aef7-76d841397b1e

Greenpeace, em inglês

http://www.greenpeace.org/international/

Grupo Calvo, em espanhol e inglês

http://www.calvo.es/_es/inicio/default.asp

Artigo produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência Envolverde.

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