jusbrasil.com.br
6 de Maio de 2024

Urge falarmos sobre a (des)valorização da advocacia

Publicado por Maico Volkmer
há 4 anos
13
0
34
Salvar

É chato escracharmos um problema tão bem maquiado, assim como tantos outros em nosso país. A advocacia já foi pomposa, já foi reconhecida como a profissão dos doutores. Hoje está diferente. E como advogado, eu não só alego, eu provo... Vejam a imagem abaixo:

A vaga foi divulgada no Linkedin (aliás, quem quiser me acompanhar na plataforma, será bem vindo, é só clicar aqui) e em menos de 14 horas registrava 12 candidaturas. Pelos meus cálculos um estagiário deve receber cerca de R$ 1.000,00 por 30h semanais. Tempo integral, para mim quer dizer 40h e o salário é quanto? Na proporcionalidade (não fiz esse cálculo) talvez o estagiário receba mais que o advogado, na relação hora trabalhada x remuneração.

Mas foi um caso isolado? Não, não foi. É mais comum do que pode supor a nossa vã filosofia.

Outro exemplo do que eu falo, aumentou R$ 300,00, mas a segunda oportunidade (se é que se pode chamar de oportunidade) é numa cidade muito maior do que a primeira, o que impacta no custo de vida.

Não sei se só eu, mas não consigo ficar inerte ao ver uma situação dessas. Ainda que meu movimento seja só publicar um texto de crítica na internet. As pessoas precisam saber o que está acontecendo e precisam agir, e logo, para salvar a advocacia.

Como se faz isso? É simples. Não se submeter à vagas como as divulgadas acima. Eu sei que os colegas vão achar n motivos para justificar os que trabalham por esse salário, mas não existe justificativa razoável para isso. E não venham culpar a OAB que não vai rolar. A Ordem tem uma tabela que ninguém segue (concordo que ela é meio exagerada em alguns casos) e depois reclama que o cliente não reconhece o trabalho, que o escritório não se sustenta e por aí vai.

Me desculpem as demais profissões e saibam que eu valorizo todo tipo de trabalho, mas funções que exigem ensino médio, ensino técnico pagam mais do que isso.

Cinco anos de graduação para trabalhar 40h por R$ 1.700,00? Tô legal, sério mesmo.

Eu falei acima da tabela da Ordem e realmente alguns valores são impraticáveis, ainda mais numa cidade pequena como a minha. Hoje recebi documentos de uma ação de usucapião. Consultei o valor referência para precificar e decidi que não tinha como cobrar R$ 4.600,00 para dar entrada no processo e mais 20% ao final, pois o cliente não me pagaria e, me colocando no lugar dele, também não pagaria, independente de nível técnico. O que eu vou fazer? Baixar um pouco o valor da entrada e cobrar no êxito.

De regra, não entro com processo sem cobrar, apesar de ser praxe, pois muitas pessoas acreditam que advogado só cobra "se ganhar o processo". A culpa de existir essa crença é de quem? Da OAB que não...

Reconhecer o problema e assumir a responsabilidade por ele, é o primeiro passo. Entender que se as coisas estão do jeito que estão, não é por culpa da oferta e da demanda, não é por culpa da OAB, não é por culpa das faculdades de Direito que surgem aos montes. Pensem que ainda nem temos Direito no ensino à distância (EAD). Imaginem o que vai virar a profissão quando isso acontecer...

CONCLUSÃO

Para concluir minha reflexão, que talvez tenha ficado um pouco desorganizada, visto que eu estou um pouco alterado por ver esse amontoado de ofertas esdrúxulas, quero dizer que cabe a cada advogado melhorar as condições de trabalho de toda a classe.

Pare de baixar preço para "fisgar" o cliente. Pare de se submeter a trabalhar por salários baixos. E o mais importante: comece por si. Eu estou tentando fazer minha parte. Como disse, em alguns casos não temos como cobrar o que está instituído pela Ordem, mas ainda assim, saiba valorizar o seu trabalho. Não dê consulta gratuita. Não trabalhe somente pelo êxito.

Seus colegas agradecem...

E ainda que eu esteja ciente que não vou mudar a mentalidade de 01 milhão de pessoas apenas com um post no JusBrasil, peço que propaguem essa discussão, levem esse tema para as rodas de conversa nos fóruns Brasil afora.

Tenho certeza que as futuras gerações da advocacia agradecerão. E lembre-se sempre: quem faz a advocacia forte não são os escritórios que contam com 100, 200 colaboradores, sou eu, é você, é seu sócio, seu parceiro, seu associado, cada advogado tem o poder de mudar a realidade.

  • Sobre o autorDireito Tributário | Gestão de Contratos | Direito Empresarial
  • Publicações37
  • Seguidores197
Detalhes da publicação
  • Tipo do documentoNotícia
  • Visualizações1229
De onde vêm as informações do Jusbrasil?
Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/urge-falarmos-sobre-a-des-valorizacao-da-advocacia/796522672
Fale agora com um advogado online