APELAÇÃO CRIMINAL - RÉU CONDENADO POR EMBRIAGUEZ AO VOLANTE (ART. 306 , § 1º , II , CTB ), HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR (ART. 302 , § 1º , III , CTB ) E LESÃO CORPORAL CULPOSA NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR (ART. 303 , § 1º , CTB )- INSURGÊNCIA DA DEFESA - PLEITO ABSOLUTÓRIO DO DELITO DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE - REJEIÇÃO PROVAS VÁLIDAS E SUFICIENTES DA ALTERAÇÃO DA CAPACIDADE PSICOMOTORA - PROVA DOCUMENTAL E PALAVRA DO POLICIAL ATESTANDO A PRÁTICA DELITIVA - AUSÊNCIA DE CONTRADIÇÃO NO DOCUMENTO LAVRADO PELA AUTORIDADE POLICIAL - VERSÃO DO RÉU QUE NÃO TRAZ DÚVIDA AO CONJUNTO PROBATÓRIO - CONDENAÇÃO MANTIDA - PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DA CONSUNÇÃO ENTRE OS DELITOS DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE E HOMICÍDIO CULPOSO - IMPOSSIBILIDADE NO PRESENTE CASO - CONDUTA DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE QUE SE CONSUMOU MUITO ANTES DO ACIDENTE - AUSÊNCIA DE UNIDADE DE DESÍGNIOS - DOSIMETRIA DA PENA - VETOR CULPABILIDADE CONSIDERADO NEGATIVO NAS TRÊS DOSIMETRIAS - IMPOSSIBILIDADE - FORMAÇÃO EM DIREITO PELO RÉU QUE NÃO FOI USADA COMO MEIO PARA A PRÁTICA DO CRIME - CULPABILIDADE NEUTRA - REFLEXO NAS SANÇÕES - VETOR “CIRCUNSTÂNCIA DO CRIME” NO DELITO DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE MANTIDO - CONDUTA QUE SE REVELA GRAVE POR PERDURAR LAPSO TEMPORAL IMPORTANTE E TER OCORRIDO EM RODOVIA FEDERAL - RECONHECIMENTO DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA NO DELITO DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE COM REFLEXO NA DOSIMETRIA - VETOR “CONSEQUÊNCIA DO DELITO” NO HOMICÍDIO CULPOSO MANTIDO - DELITO QUE GEROU IMPORTANTES E IRREPARÁVEIS CONSEQUÊNCIAS NO FILHO DA VÍTIMA - POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA ATENUANTE DE PENA DO ART. 66 , CP EM RELAÇÃO AOS DELITOS DE HOMICÍDIO CULPOSO E LESÃO CORPORAL CULPOSA - MANUTENÇÃO DA MAJORANTE DA OMISSÃO DE SOCORRO NO DELITO DE HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR - VERSÃO DO RÉU RASA E INFUNDADA PARA AFASTAR A CAUSA DE AUMENTO - LEI QUE NÃO EXCEPCIONA CASO DE MORTE INSTANTÂNEA - PATAMAR DE EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE (TANTO PARA REPRIMENDA CORPORAL QUANTO PARA REPRIMENDA ACESSÓRIA) - APLICAÇÃO DO CRITÉRIO QUE UTILIZA A DIFERENÇA ENTRE A PENA MÁXIMA E A PENA MÍNIMA - AUSÊNCIA DE OFENSA À LEI - CRITÉRIO VÁLIDO SEGUNDO ORIENTAÇÃO DOS TRIBUNAIS SUPERIORES - PENAS REDIMENSIONADAS - APLICAÇÃO DE REGIME ABERTO E DE PENA RESTRITIVA DE DIREITOS (PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE E INTERDIÇÃO TEMPORÁRIA DE DIREITOS). I - Os testemunhos e os apontamentos doutrinários apresentados pela Defesa não foram suficientes para ilidir as provas que foram produzidas sob o crivo do contraditório e da ampla defesa e que confirmaram que o apelante estava sob efeito de álcool no momento do acidente. II - Conforme entendimento recente do Superior Tribunal de Justiça: “Não se aplica o princípio da consunção aos crimes de embriaguez ao volante e de homicídio culposo e lesões corporais culposas decorrentes de acidente causado por motorista de veículo automotor, pois, sendo delitos autônomos, o primeiro não é meio normal nem fase de preparação ou execução para o cometimento dos demais” ( AgRg no AREsp n. 1.962.016/SC , relator Ministro João Otávio de Noronha, Quinta Turma, julgado em 5/4/2022, DJe de 11/4/2022). III - A culpabilidade do recorrente deve ser considerada neutra (nos três delitos), porque os conhecimentos jurídicos do réu não foram usados como meio à prática delituosa. Ademais, todas as pessoas que fazem autoescola têm noção legislativa sobre a proibição de se dirigir alcoolizado. IV - O vetor “circunstância do crime” no delito de embriaguez ao volante deve ser mantido, haja vista que a conduta perdurou por aproximadamente uma hora e ocorreu em importante Rodovia Federal que corta a capital paranaense. V - Uma vez que a sentença reconheceu que o apelante assumiu ter consumido bebida alcóolica antes de dirigir, é imperiosa a redução da pena provisória com o reconhecimento da confissão espontânea. VI - O excessivo abalo emocional consistente na privação do convívio de Erick com seu pai em decorrência do óbito de deve ser valorado, de modo que a vetorial “consequência do crime” não pode ser considerada neutra. VII - E viável o reconhecimento da atenuante do art. 66 , CP , porque o recorrente e sua família buscaram de algum modo reparar o dano causado, ao menos em âmbito material (arcando com estudo, plano de saúde, pensão, ajuda com colocação no mercado de trabalho, etc.), situação que deve refletir redução das penas. VIII - A majorante da omissão de socorro no caso do homicídio culposo na direção de veículo automotor deve ser mantida porquanto não há qualquer elemento de prova que demonstre efetivamente que havia risco à integridade do apelante caso fosse prestar socorro. Ademais, a legislação pertinente não excepciona a incidência da causa de aumento ao caso em mesa, em que se vislumbrou o imediato óbito da vítima Hamilton.IX - A utilização do critério que considera a diferença entre a pena máxima e a pena mínima e o número de circunstâncias judiciais para obtenção do grau de exasperação da pena-base (seja para a pena corporal seja para a pena acessória) é amplamente aceito por esta Corte e pelos Tribunais Superiores, não ofendendo a Lei especialmente em razão do princípio da discricionariedade e da razoabilidade.RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. (TJPR - 1ª Câmara Criminal - XXXXX-67.2017.8.16.0038 - Fazenda Rio Grande - Rel.: DESEMBARGADOR GAMALIEL SEME SCAFF - J. 10.03.2023)