Rolezinhos, arrastões e as intervenções das massas marginalizadas
Todos vocês lembram dos Rolezinhos. A garotada tomando o espaço de conforto de determinados grupos privilegiados. Deu em quê? Deu que, de canto a canto do Brasil, esta garotada era vista como marginal. Há espaços que não servem para serem ocupados por esta gente – era o que, de forma velada, se queria dizer.
E sobre esta onda de arrastões nas praias aqui no Brasil? Lógico, a sociedade fica indignada, com medo... Estranho seria se estranho fosse. Só que...
... Do meu ponto de vista não devemos simplesmente sair vomitando o nosso senso comum e ódio contra os sujeitos destes arrastões. Por quê? Por que eu acho que nada neste mundo, ainda mais de uma complexidade como esta, deve ser feito sem análise e reflexão.
Logo: por que há arrastões? Quem participa e como é a vida de quem participa?
Eu sempre disse que o Brasil, com o PT, muito embora com muitos avanços inegáveis, não arranhou nem de perto o problema da desigualdade: e os arrastões e o aumento da criminalidade no país estão aí para mostrar. Ora, se uma das causas do aumento da criminalidade é a desigualdade, como o Brasil, que a criminalidade só aumenta, diminuiu a desigualdade? Esta lógica não tem lógica e a conta não bate.
O Brasil do PT, isto aí sim!, tornou o brasileiro mais consumista. De fato, muitos brasileiros hoje viajam de avião, comem em restaurantes, têm televisão, computador e etc, só que... Dados de Agosto: O Brasil tem 56,4 milhões de inadimplentes, com dívidas que, somadas, totalizam R$ 243 bilhões, segundo levantamento da Serasa Experian de 30 de junho deste ano.
Temos um país de endividados e não um país que venceu a desigualdade social. E Marx explica isto muito bem no livro O Capital:
"Os donos do capital incentivarão a classe trabalhadora a adquirir, cada vez mais, bens caros, casas e tecnologia, impulsionando-a cada vez mais ao caro endividamento, até que sua dívida se torne insuportável."
Só que pior que os endividados o Brasil é um país de gente que não tem condição de consumir nem produtos básicos para a existência – ainda mais num país que bate recorde de desemprego.
Ora, é impossível para mim dissociar rolezinhos e arrastões de toda esta sociedade consumista que vivemos. O que queremos é ter – e aí, minha gente, quando uma dada massa é privada disso não me espanta que ocorra esta rebelião de excluídos do mercado de consumo.
Numa das músicas do Igor Kannário, cantor baiano, ele apresenta uma realidade que para mim é inegável. Diz ele na canção “Desostenta”:
Se o moleque não tem condição de entrar nesse mundo grã-fino, isso pode virar frustração e você vai foder com o pobre menino que pra ter um tênis foda pode até assaltar um playboy, pois se ficar excluído da moda recebe desprezo e isso lhe dói.
É assim ou não é? É sim! É correto? Não, não é correto, mas a realidade não é das coisas corretas ou incorretas, mas das coisas como são. Numa sociedade que faz propaganda que ser feliz é ter coisas a gente está se espantando com a violência de quem não tem?
Pois, não estou feliz e nem confortável com estes arrastões. Em Salvador não tenho um pingo de segurança para caminhar e ando preocupado, olhando desconfiado para a minha sombra. Agora: também não vou aceitar a postura tranquila de achar que o problema da violência não tem nada a ver comigo. Tem sim.
O fato é que eu ando sempre a me questionar por que nós nos compadecemos de A que perde um bem supérfluo e não damos a mínima para B que nunca teve acesso a direitos humanos básicos.
A gente precisa é de uma nova forma de viver em sociedade, de produzir uma lógica de compartilhamento e cooperação. A gente precisa seguir o conselho abaixo:
Quando eu era mais jovem e mais vulnerável, meu pai me deu um conselho que muitas vezes volta à minha mente: Sempre que tiver vontade de criticar alguém – recomendou-me –, lembre primeiro que nem todas as pessoas do mundo tiveram as vantagens que você teve ( FITZGERALD, Scott. O Grande Gatsby)