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5 de Maio de 2024
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    Leia a íntegra do discurso do Obama no Cairo

    Publicado por Folha Online
    há 15 anos

    Leia abaixo a íntegra do discurso do presidente americano Barack Obama ao mundo muçulmano proferido no Cairo em 4 de junho de 2009, conforme divulgado pela Casa Branca.

    Sinto-me honrado por estar na cidade atemporal do Cairo e de ter como anfitriãs duas instituições notáveis. Por mais de mil anos, Al Azhar tem se erguido como farol do conhecimento islâmico, e há mais de um século a Universidade do Cairo vem sendo uma fonte do avanço do Egito. Juntas, vocês representam a harmonia entre tradição e progresso. Estou grato por sua hospitalidade e pela hospitalidade do povo do Egito. Também tenho o orgulho de carregar comigo a boa vontade do povo americano e uma saudação de paz das comunidades muçulmanas em meu país: assalaamu alaykum.

    Nos encontramos num momento de tensão entre os Estados Unidos e muçulmanos em todo o mundo --tensão que tem suas raízes em forças históricas que extrapolam qualquer debate político atual. O relacionamento entre o islã e o Ocidente inclui séculos de coexistência e cooperação, mas também conflitos e guerras religiosas. Mais recentemente, a tensão foi alimentada pelo colonialismo, que negou direitos e oportunidades a muitos muçulmanos, e pela Guerra Fria, na qual países de maioria muçulmana com demasiada frequência foram tratados como representantes, sem consideração por suas próprias aspirações. Ademais, as mudanças abrangentes trazidas pela modernidade e a globalização levaram muitos muçulmanos a ver o Ocidente como sendo hostil às tradições do islã.

    Extremistas violentos vêm explorando essas tensões numa minoria pequena, mas potente dos muçulmanos. Os ataques de 11 de setembro de 2001 e os esforços contínuos desses extremistas para praticar violências contra civis levaram alguns em meu país a enxergar o islã como sendo inevitavelmente hostil, não apenas à América e aos países ocidentais, mas também aos direitos humanos. Isso vem gerando mais medo e desconfiança.

    Enquanto nosso relacionamento for definido por nossas diferenças, vamos empoderar aqueles que semeiam o ódio em lugar da paz e que promovem o conflito em lugar da cooperação que pode ajudar todos nossos povos a alcançar a justiça e a prosperidade. Esse ciclo de desconfiança e discórdia precisa acabar.

    Vim para ca para buscar um novo começo entre os Estados Unidos e muçulmanos em todo o mundo; um que seja baseado no interesse mútuo e no respeito mútuo; e um que seja baseado na verdade de que Estados Unidos e islã não são mutuamente excludentes e não precisam competir. Em vez disso, eles se sobrepõem e compartilham princípios comuns: princípios de justiça e progresso, de tolerância e da dignidade de todos os seres humanos.

    Faço isso com a consciência de que a transformação não pode acontecer da noite para o dia. Nenhum discurso isolado será capaz de erradicar anos de desconfiança, nem eu, no tempo de que disponho, poderei responder a todas as perguntas complexas que nos trouxeram para este ponto. Mas estou convencido de que, para podermos andar para frente, precisamos dizer abertamente as coisas que temos em nossas corações e que com demasiada frequência são ditas apenas a portas fechadas. É preciso que haja um esforço sustentado para ouvirmos uns aos outros; aprendermos uns com os outros; respeitarmos uns aos outros, e buscar terreno comum. Como nos diz o Sagrado Alcorão, "Seja consciente de Deus e fale a verdade sempre". É isso o que procurarei fazer: falar a verdade ao máximo de minha habilidade, sentindo-me humilde diante da tarefa que temos pela frente e firme em minha crença em que os interesses que compartilhamos como seres humanos são muito mais poderosos que as forças que nos afastam.

    Parte dessa convicção tem suas raízes em minha própria experiência. Sou cristão, mas meu pai veio de uma família queniana que inclui gerações de muçulmanos. Quando menino, vivi vários anos na Indonésia e ouvi o chamado do azaan ao raiar do dia e ao cair da noite. Quando jovem, trabalhei em comunidades de Chicago onde muitos encontravam dignidade e paz em sua fé muçulmana.

    Como estudioso da história, também conheço a dívida que civilização tem com o islã. Foi o islã --em lugares como a Universidade Al Azhar-- que carregou a luz do saber ao longo de muitos séculos, abrindo caminho para o Renascimento e o Iluminismo na Europa. Foram inovações em comunidades muçulmanas que desenvolveram a ordem da álgebra; nossa bússola magnética e instrumentos de navegação; nossa maestria das penas e da impressão; nossa compreensão de como as doenças se espalham e de como podem ser curadas. A cultura islâmica nos deu arcos majestosos e torres que se elevam ao céu; poesia atemporal e música preciosa; caligrafia elegante e lugares de contemplação pacífica. E, ao longo de toda a história, o islã demonstrou em palavras e atos as possibilidades da tolerância religiosa e da igualdade racial.

    Sei, também, que o islã sempre foi uma parte da história da América. O primeiro país a reconhecer o meu foi o Marrocos. Ao assinar o Tratado de Trípoli, em 1796, nosso segundo presidente, John Adams, escreveu: "Os Estados Unidos não têm em si nenhum caráter de inimizade com as leis, a religião ou a tranquilidade dos muçulmanos". E, desde nossa fundação, muçulmanos americanos enriqueceram os Estados Unidos. Eles lutaram em nossas guerras, serviram no governo, defenderam os direitos civis, abriram empresas, lecionaram em nossas universidades, se destacaram em nossas arenas esportivas, ganharam Prêmios Nobel, construíram nosso edifício mais alto e acenderam a tocha olímpica. E quando, recentemente, o primeiro muçulmano americano foi eleito para o Congresso, ele fez o juramento de defender nossa Constituição usando o mesmo Santo Alcorão que um dos fundadores de nosso país, Thomas Jefferson, guardava em sua biblioteca pessoal.

    Assim, conheci o islã em três continentes antes de vir para a região onde ele primeiro foi revelado. Essa experiência guia minha convicção de que a parceria entre os EUA e o islã deve ser baseada no que o islã é, e não no que ele não é. E considero que é parte de minha responsabilidade como presidente dos Estados Unidos combater os estereótipos negativos do islã, onde quer que apareçam.

    Mas esse mesmo princípio deve se aplicar às percepções muçulmanas da América. Do mesmo modo como muçulmanos não se enquadram em um estereótipo grosseiro, a América não é o estereótipo grosseiro de um império que apenas defende seus próprios interesses. Os Estados Unidos tem sido uma das maiores fontes de progresso que o mundo já conheceu. Nascemos de uma revolução contra um império. Fomos fundados com base no ideal de que todos são criados iguais, e derramamos sangue e lágrimas há séculos para dar sentido a essas palavras dentro de nossas fronteiras e em todo o mundo. Fomos moldados por todas as culturas, vindas de todos os cantos da Terra, e somos dedicados a um conceito simples: "E pluribus unum" -- "A partir de muitos, um só".

    Muita coisa já foi dita sobre o fato de um afro-americano com o nome Barack Hussein Obama ter podido ser eleito presidente. Mas minha história pessoal não é tão singular. O sonho da oportunidade para todas as pessoas não se realizou para todos na América, mas sua promessa existe para todos os que chegam a nosso país. Isso inclui quase sete milhões de muçulmanos americanos em nosso país, hoje, que gozam de renda e educação acima da média.

    Ademais, a liberdade, na América, é inseparável da liberdade de praticar sua própria religião. É por isso que existe uma mesquita em cada Estado de nossa União e que há mais de 1.200 mesquitas dentro de nossas fronteiras. É por isso que o governo americano...

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