Os 10 anos da morte de Nise da Silveira
1905. Precisamente no dia 15 de fevereiro daquele ano, nascia em Maceió uma das personagens mais marcantes na história mundial da psiquiatria. Filha de um jornalista e matemático, Nise estudou no Colégio Santíssimo Sacramento, localizado no bairro do Farol, e com apenas quinze anos entrou na Faculdade de Medicina da Bahia, formando-se em 1926, como a única mulher no meio de 157 homens presentes na turma.
Aos 21 anos e com o diploma de médica, paradoxalmente, ela admitiu não ter vocação para a medicina. Com a morte do pai, um mês após sua formatura, Nise teve a vida virada pelo avesso e pouco tempo depois arrumou as malas rumo ao Rio de Janeiro onde, em 1933, passou num concurso federal para o cargo de médica psiquiatra na Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental.
Dois anos depois foi presa pela polícia de Getúlio Vargas acusada de comunismo, e, só em 1944 voltou a trabalhar com a psiquiatria no Centro Psiquiátrico de Pedro II. Nessa época, Nise descobriu que novos métodos estavam sendo usados no tratamento de esquizofrênicos: o eletrochoque; a insulinoterapia, processo de injetar e insulina no sangue, e a lobotomia, cirurgia que desliga os lobos frontais do cérebro, deixando o paciente em estado neurovegetativo. Negando-se a pratica-los ela travou uma batalha contra a psiquiatria convencional e foi transferida para a parte de terapia ocupacional do hospital. Rebelde desde criança, mas dona de uma personalidade doce e gentil, a mulher de ar infantil esteve sempre à frente de seu tempo.
Primeiro abriu uma sala de costura. Percebendo que os pacientes se inscreviam cada vez mais, ela implantou a arte terapia, com várias oficinas de expressão artística, e a terapia com animais. Começou a trocar informações com outro grande nome do estudo da psiquiatria, o suíço Carl Jung, e, já com várias obras publicadas, ela se dedicou ao estudo do inconsciente humano para compreensão da loucura. Como resultado, fundou, em 1952, o Museu da Imagem do Inconsciente, onde expunha as obras produzidas por seus pacientes.
Com um acervo imenso, o reconhecimento tardio da sociedade e comunidade científica só aumentou a importância da psiquiatra que, embora tenha sofrido muita discriminação, nunca deixou amargar suas esperanças de ver no amor e na arte o fim do preconceito frente à loucura. Uma década após a sua morte, Nise possui, além de menções em vários trabalhos de filósofos, poetas, médicos e artistas, uma legião de seguidores que continuam usando seus ensinamentos como inspiração para uma psiquiatria mais humanizada.
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