Ambiente ajuda os negócios da Klabin

Marli Lima

Zé Galinha é um lobo-guará que gostava de atacar aves em propriedades rurais do Paraná. Um dia conheceu Tibagi, fêmea de sua espécie, e ficou apaixonado. Os dois hoje vivem com seus filhotes na Fazenda Monte Alegre, de propriedade da Klabin, maior produtora e exportadora de papéis para embalagem do Brasil. A história desses animais ameaçados de extinção é apenas uma das muitas que são contadas aos que visitam a fábrica da empresa no município de Telêmaco Borba, na região centro-leste do Estado. Há relatos e fotos dos filhotes de puma encontrados em 2004 e 2005 em plantações de eucalipto. E da perereca-zebra, que no Paraná só foi identificada até agora em um banhado da propriedade. Além do caso da anta Reginaldo, da loba Zaira e do tamanduá Zé Bandeira, que vivem no Parque Ecológico, espaço destinado à educação ambiental.

"Bicho é o que tem por aqui", diz José Marcolino Santos, o Dinho, que tem 62 anos e nasceu na fazenda. Ele é mateiro (que cuida das matas ou florestas) e usa o que aprendeu com idosos e índios para identificar as plantas. Há duas semanas, estava em busca de arnica, planta medicinal, mas encontrou mais que isso. "Vi uma onça passar pelo asfalto", conta. Dinho é um dos campeões em visualização de animais e costuma preencher as fichas que a Klabin disponibiliza para que os cerca de 2 mil empregados da unidade possam relatar o que encontram na área. "Essa fauna persiste. Aqui se vê os animais, suas pegadas, suas fezes", relata Sérgio Filipaki, supervisor florestal.

No meio da bicharada está localizada a maior fábrica da Klabin. A empresa planta e corta pinus e eucalipto na região para abastecer as máquinas da unidade, que têm estrutura para produção de 1,1 milhão de toneladas de papéis por ano, pouco mais da metade da capacidade total, de 2 milhões de toneladas. Na última ampliação da fábrica, em 2007, ela investiu no local R$ 2,2 bilhões, sendo R$ 300 milhões em controle ambiental. Executivos admitem que, mais do que fazer boa ação, cuidar da floresta garante o futuro do negócio. "Em ambiente equilibrado dá menos praga", comenta José Totti, diretor florestal. Exemplo: sem tamanduá e tatu, teria mais formiga, um problema sério, em especial para as mudas das árvores.

Ter bons indicadores na área ambiental serve, também, para conquistar clientes, principalmente estrangeiros. "Sustentabilidade é ferramenta pura de venda", afirma Edgard Avezum, diretor comercial da área de papel-cartão. Segundo ele, não se trata mais de opção, mas de pré-requisito para conquistar alguns mercados. Mesmo com a certificação FSC (Forest Stewardship Council), Avezum faz questão de trazer representantes de grandes companhias para conhecer Telêmaco Borba. A estratégia funciona. O executivo disse que, de janeiro a setembro, as vendas para a Europa aumentaram 90% na comparação com igual período de 2008, mesmo em meio à crise econômica.

A Klabin possui no Paraná, Santa Catarina e São Paulo 220 mil hectares de florestas plantadas e 188 mil hectares com matas nativas entremeadas, no modelo de manejo conhecido como mosaico. Ou seja, ao lado do pinus, há um corredor preservado, por onde os animais circulam à vontade. Na fazenda Monte Alegre está sua maior área: 150 mil hectares cultivados e 120 mil nativos. Diariamente são plantadas pela empresa 81 mil mudas e colhidas 47 mil árvores. Recentemente, além dos números do negócio, a empresa passou a trabalhar com outro dado. O livro "Aves da Fazenda Monte Alegre: um estudo da biodiversidade" , foi lançado em setembro pela editora da Universidade Estadual de Londrina e mostra que 402 espécies de aves vivem no local.

De acordo com os pesquisadores que assinam a obra e que usaram dados de quase 20 anos de pesquisas, elas representam cerca de 57% da avifauna encontrada no Paraná. "Algumas são exclusivas da floresta nativa, outras vivem na floresta plantada", diz a doutora em zoologia Graziele Volpato, uma das autoras. Foi o terceiro livro sobre a fazenda publicado em três anos.

A engenheira Ivone Namikawa, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento, conta que na fazenda há fragmentos florestais com boa conservação e a intenção é afinar dados para que seja possível medir os índices de desenvolvimento sustentável. A empresa contratou a Casa da Floresta Assessoria Ambiental para ajudá-la e o resultado do trabalho que deve indicar rumos para o monitoramento será apresentado nos próximos dias. Ivone conhece os bichos do parque ecológico pelo nome e acompanha de perto a situação da fazenda. Hoje a colheita é toda mecanizada e, quando é feita, os empregados preenchem relatórios para informar se há invasão de plantas exóticas sobre a floresta nativa. Se houver, precisam ser retiradas.

Das florestas, além de toras para abastecer a indústria de papel, a Klabin vende matéria-prima para o polo madeireiro que tem na cidade. E também tem manejo de produtos não-madeireiros, que inclui uma unidade de fitoterapia. "A intenção é tirar os subprodutos viáveis", explica a gerente da área, Loana Johansson. Pastilha de ipê roxo, xarope de eucalipto, repelente com óleo de citronela e outros produtos são feitos no laboratório local para atender os empregados e suas famílias. Embora não gere receita, Loana garante que a unidade, criada há 25 anos, dá resultados. Ela tem como alvo tratar doenças de maior incidência, como gripe, diarreia e hipertensão, para diminuir o absenteísmo. E vai além. Já catalogou cerca de 3 mil espécies botânicas na região. "Queremos nos transformar em polo de referência e fiéis depositários do patrimônio botânico brasileiro", diz a gerente. O laboratório e a farmácia de fitoterapia também são pontos de parada para clientes que desembarcam em Telêmaco Borba para conhecer a Klabin.