O Pensamento Vivo de Evandro Lins e Silva

Evandro Cavalcanti Lins e Silva (1912-2002) 1 foi um ser humano de múltiplas camadas. Ao comemorar o centenário de seu nascimento, esta Casa de Montezuma, conduzida pelo talento, pela dedicação e pelo dinamismo de Fernando Fragoso, abre o inventário das lembranças que deixou em sua vida terrena. Relacionam-se alguns dos muitos títulos que recebeu, atuações na vida pública nacional, a presença marcante nos tribunais civis e militares, a contribuição prestada a este Instituto dos Advogados Brasileiros, a sua liderança no Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil e respectivas Conferências Nacionais, a sua fecunda produção intelectual, na imprensa, nas salas de aula, nos auditórios acadêmicos e profissionais do Direito e da Justiça e, por último, na Academia Brasileira de Letras. A relação do imenso acervo de bens morais e espirituais no itinerário de sua existência física não pode ser represada num discurso de algumas palavras. A sua vida longa e a sua obra fecunda merecem um livro denso e multifacetado, assim como ocorre com um processo de muitos volumes para a partilha em favor dos inumeráveis herdeiros. Ele foi sempre o notável advogado que passou pelas experiências do Ministério Público, como Procurador-Geral da República, Ministro das Relações Exteriores, Chefe de Casa Civil do governo João Goulart, ministro do Supremo Tribunal Federal, além de mestre de Direito e escritor.

A presença de familiares, amigos e admiradores

Saúdo todos os familiares, amigos ou simples admiradores de Evandro Lins e Silva nas pessoas de seus filhos Ana Teresa, Carlos Eduardo, Patrícia e Cristiano. E demais descendentes na pessoa do Doutor Técio Lins e Silva. Da infinidade de amigos há uma falta sentida neste momento. De um antigo, grande e fiel companheiro. Refiro-me ao querido Clemente Hungria, que, tendo sofrido um acidente, não pôde comparecer, fisicamente, à sessão de hoje. Mas, pela sua esposa, a senhora Evany Hungria – que aqui está – Clemente dirigiu-me uma pequena, porém sensível mensagem. Em afetuoso recado que muito me sensibiliza, ele transcreve um trecho do discurso proferido por seu pai, o saudoso Ministro Nélson Hungria, (1891-1969), na solenidade de posse de nosso homenageado como Procurador-Geral da República: São estas as palavras do Príncipe dos Penalistas brasileiros para se incorporar a esta cerimônia:

“Evandro você é da raça daqueles que seja qual for o setor em que se achem, estão sempre entre os primeiros. A sua projeção pessoal resulta de impecável dignidade moral, vigilante fidelidade ao dever, irrepreensível respeitabilidade intelectual. Você é uma dessas personalidades que pela firmeza de caráter, nobreza de atitudes e facúndia do espírito se afirmam e vencem na espontânea realização de si mesmas, sem a estratégia de falsas posições, sem a tática de emboscadas, sem o recurso dos acotovelamentos, sem o artifício dos golpes de surpresa”.

O jubileu profissional de ouro

Na homenagem que lhe prestaram entidades representativas da advocacia, de letras jurídicas e do Tribunal do Júri do Rio de Janeiro pelo jubileu profissional de ouro em 1982, o notável criminalista Antonio Evaristo de Moraes Filho (1933-1997) representando a classe dos advogados, proclamou-o como “orador com extraordinária força de persuasão”, acentuando que

“Evandro fala ao cérebro dos jurados, mas não esquece de lhes tocar o coração, isto sem derramar-se em pieguices caricatas. Como seu adversário, fui vítima deste fascínio que ele exerce sobre a alma do júri. No famoso julgamento de Cabo Frio produziu defesa modelar e não tenho dúvidas em dizer que, pelo menos um dos quatro votos decisivos que conquistou, foi fruto da comovente peroração da tréplica, quando, num belo e mavioso ‘canto do cisne’, apresentou suas despedidas da tribuna do júri”. 2

A conquista do Prêmio Ruy 3 Barbosa

Ao receber da Ordem dos Advogados do Brasil o Prêmio Rui Barbosa, a maior láurea concedida pela instituição por seus relevantes serviços prestada à causa da Justiça e do Direito e à classe, ele inicia a viagem em busca de um tempo que não se perdeu. Ficou retido em sua memória quando disse:

“Parodiando Miguel Torga, quando recebeu o Prêmio Luiz de …