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3 de Maio de 2024

Leia George Orwell - O mais importante escritor do Séc. XX (parte 1)

Alerta de spoiler: se você ainda não leu "1984" e "A Revolução dos Bichos" não leia esse ensaio

Publicado por Paulo Antonio Papini
há 5 anos

George Orwell é, indubitavelmente, o mais importante escritor (leia-se, romancista) do Século XX. Não, não afirmamos que ele tenha sido necessariamente o melhor (e daí teríamos contendores de altíssima envergadura, como José Saramago, Ernest Hemingway, Franz Kafka, Aldous Huxley, dentre outros). Todavia se ele não é necessariamente o melhor[1] autor, certamente é o melhor intérprete do mundo pós-revolução bolchevique de 1917.


A radiografia da esquerda totalitária em "A Revolução dos Bichos" e "1984"

A "Animal Farm" é um livro mais direto, menos sutil. Quando lido identifica-se claramente, para quem tem a disposição de estudar aquele período histórico, Stalin, Trotsky, Kerensky, mencheviques e bolcheviques. Obviamente que outros povos devem reconhecer outros líderes/tiranos nas personagens daquele livro. Não é difícil, por exemplo, a um venezuelano identificar no líder dos porcos a pessoa de Nicolás Maduro, por exemplo [2].

Já "1984" não é tão direto na relação das personas com personagens históricos (embora que é nítido que Goldstein encarna, naquele romance, a figura de Trotsky)[3]. Embora não seja tão específico na representação de figuras históricas (embora seja evidente que Winston Smith é o alter ego de Orwell), "84" é certeiro ao fazer a análise comportamental das pessoas que vivem em estados totalitários e, de certa forma, em ambientes totalitários como, infelizmente, o é hoje a Academia[4]. Acham que é exagero da nossa parte? Lembram da multidão ensandecida, capitaneada por Lucélia Santos et caterva,gritando "Lula Livre" às portas da carceragem da PF em Curitiba? O bando de artistas/jornalistas globais ensandecidos gritando "Ele não"!? Então, caros leitores, encontrarão isso em "1984". "Os dois minutos de ódio". Momento do dia no qual todos os funcionários do partido interrompem seus afazeres para gritar palavras de ódio contra o grande inimigo da Revolução, no caso, Goldstein [5].

Crianças estimuladas a delatar os pais para o Partido. Mais uma vez Orwell se antecipa à história e narra, com exatidão, a Revolução Cultural Chinesa, onde adolescentes eram estimulados a agredir e denunciar pais e professores que tivessem atitudes contrarrevolucionárias.

Novilíngua e Crimepensar: na ficção seminal de Orwell havia a "novilíngua" onde as palavras deveriam ser reduzidas de forma a não ofender, tampouco questionar a autoridade e benevolência do partido (qualquer semelhança com o "Politicamente Correto" é mera coincidência) e o "crimepensar" ou o "pensamento-crime" que era o pior de todos os crimes, pensar de forma livre das amarras do partido, ou, como definido na obra, era em verdade o único crime a ser cometido. Pois bem, vocês sabem que, neste momento, temos Advogados sendo processados em Tribunais de Ética da Ordem pelo Brasil (acompanho dois casos que tramitam no Estado do Rio de Janeiro) por fazerem declarações contrárias à "Ideologia de gênero"; no Canadá (país notório pelo respeito a valores democráticos) existem leis que obrigam os Advogados a colocar em seus requerimentos palavras que indiquem neutralidade de gênero, sob pena de suspensão dos quadros profissionais da Associação de Classe local.

Bem, caros leitores, continuaremos esse artigo na próxima semana falando sobre a reescrita da história e, também, sobre as teletelas. Bem, mas isso é tema para o artigo da próxima semana.


[1] Embora ele seja autor de uma obra, escrita sem a afetação estética de Hemingway e Saramago, que tem o duplo condão, que deve ser perseguido - incessantamente - por qualquer comunicador: passa a mensagem, de forma clara, objetiva e, ao mesmo tempo, elegante, e; mais importante que isso: suas obras, principalmente "Animal Farm" (A Revolução dos Bichos, em português) e 1984 (cujo título original deveria ser "The Last Man in Europe") explicam de forma perfeita a ascensão e declínio dos regimes totalitaristas, mormente do socialismo e, ainda, são a perfeita tradução do momento político-histórico em que vivemos. Certa vez José Saramago (que é nosso escritor preferido em língua portuguesa) dissera que a imensa maioria dos autores não será lida duas gerações após seu falecimento. Pois bem, George Orwell morreu há 70 anos, noutras palavras, três gerações após sua passagem 1984 e Animal Farm continuam sendo lidos e, mais ainda, inspirando teses acadêmicas e ensaios. Isso denota que, de forma inequívoca, seu texto conversa/explica com o atual momento em que vivemos.

[2] o que, mais uma vez, evidencia a intertemporalidade e a universalidade da obra de Orwell.

[3] Goldstein é o grande vilão contrarrevolucionário do livro e é tratado pelo Grande Irmão como um agente que poderia por em causa todo o Processo Revolucionário; de igual sorte Stalin classificou Trotsky como um agente a serviço do capitalismo-especulativo-judeu, das grandes potências europeias e envia um assassino profissional para matá-lo na casa do casal de artistas plásticos Diego Rivera e Frida Khalo, onde se escondera, no México.

[4] E isso não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. Jordan Peterson, cujo único defeito abominável é ser conservador (e que, diferentemente de Olavo de Carvalho, é um gentleman na forma de tratar seus oponentes num debate), frequentemente é insultado/impedido de ministrar classes nas universidades em que leciona no Canadá.

[5] e é interessante no livro que Winston Smith e Julia, contrarrevolucionários cujo único crime é desejar alguma liberdade pessoal também participavam dos "2 minutos de ódio", da mesma forma que há - não duvidem - diversos juristas, artistas e jornalistas que fingem aderir às pautas progressistas com medo de serem ostracizados em seus meios.

  • Sobre o autorAdvogado e Professor. Mestre em Processo Civil
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Belo texto! continuar lendo