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5 de Maio de 2024
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    A grandeza democrática do reitor contra o ataque à democracia

    Com reconhecida trajetória acadêmica e idoneidade pessoal inquestionável, o ilustre reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) certamente não necessita de defensor para suas posturas públicas eivadas de legalidade, respeito e cidadania. Entretanto, me atrevo a produzir estas linhas porque senti, em meus contatos pessoais, certa incompreensão quanto à atitude do professor Carlos Alexandre Netto que foi até a Câmara dos Vereadores pedir a reflexão dos edis porto-alegrenses para rever uma moção de repúdio emitida pela colenda contra um debate sobre a defesa da democracia realizado nas dependências universitárias.

    Ainda que exemplos possam ser reducionistas, é emblemática uma postagem nas redes sociais feita por um cidadão entristecido e indignado, mas também contaminado pela convulsão política que viceja no país neste momento. “É revoltante ver o reitor humilhar-se diante de uma Câmara integrada por vereador que se notabiliza por gestos de intolerância, que tem relações com adeptos de práticas fascistas e que forjou esta moção partidária e reacionária, agigantando a onda de ódio e intransigência em que mergulha o Brasil”.

    Para mim, ao contrário, o reitor mostrou grandeza política, superioridade pessoal e extrema noção de civilidade institucional, considerando, acima de tudo, o relacionamento funcional entre a representação dos cidadãos da capital e a universidade federal pública que ele muito honra. Com sua atitude nobre e desprendida, Netto assumiu integralmente a condição prioritária de autoridade máxima da UFRGS, acima da condição de professor doutor que é.

    E, como tal, o reitor exibiu tolerância e respeito às divergências que diferenciam os democratas dos que acreditam que só uma única lógica - a sua- é a correta.

    Característica do totalitarismo de triste lembrança nos anos de ditadura em nosso país, esta visão permeia a justificativa da moção de repúdio aprovada por diferença de um voto no dia 20 de abril na Câmara da capital.

    Em intervenção na tribuna do plenário da Assembleia Legislativa, denunciei a censura à natureza crítica do conhecimento e à própria autonomia da instituição universitária. Disse que o documento aprovado é uma verdadeira salada de frutas ideológica, rasteira, sem conteúdo, sem fundamentação e consistência que recorre a ataques rebaixados ao reitor, ao vice-reitor e professores.

    Lamentei, também, que fosse estimulado pelo PMDB, que tinha outra concepção do papel histórico da universidade, como espaço dialético da capacidade crítica e da ideia de desenvolver o senso crítico de forma plural que tanto preservava o saudoso intelectual e militante do “velho” MDB André Forster.

    A moção, naturalmente, foi repudiada por diversas organizações democráticas porque evidencia, sobretudo, uma tentativa de cerceamento do debate de ideias, imprescindível em uma instituição que tem a missão de propagar o conhecimento, estimular a atitude crítica e fortalecer a formação de cidadãos dentro das regras institucionais do Brasil.

    Entre seus equívocos, a moção refere-se à ocorrência de uma suposta “lavagem cerebral” no evento, que soa como um atentado à inteligência de professores e alunos universitários participantes do encontro. Neste sentido fantasioso, igualmente inventa a promoção de uma “apologia contra as instituições democráticas”, que é exatamente o oposto do que se propôs o evento, lastreado no respeito à Constituição e ao Estado Democrático do Direito. Também alude “à violação dos direitos humanos” em uma notória falta de argumentação coerente e séria para justificar a contrariedade dos seus interesses particulares.

    Observei, na tribuna, que se fosse usada a mesma régua para adotar o critério de repúdio a um debate se poderia pedir às Câmaras locais para repudiar as universidades em Fortaleza, Recife e até a faculdade de Direito de São Paulo, onde, em espasmos de surto, a histriônica advogada Janaina Pasqual promoveu ato a favor do golpe. Porém, jamais faríamos isto, por que quem tolheu e censurou foi a ditadura, o regime autoritário, de golpes, de torturas e de eleições ilegítimas.

    Ao final, pedi ao vereadores para revisarem suas posições na nova votação, programada para a próxima quarta-feira.

    “Espero também que a ida do reitor à Câmara possa reverter a votação para recuperar o papel do Legislativo municipal em defesa da democracia, como elemento fundante da política e da sociedade”.

    Com a palavra, e o voto, os vereadores de Porto Alegre.

    O reitor já deu aula de grandeza.

    *Deputado estadual, professor e engenheiro

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