A Justiça não pode ser feita com as próprias mãos
Recentemente, o caso de um adolescente que teve uma ofensa tatuada em sua própria testa chamou atenção do país para um posicionamento que seduz muitas pessoas: o de fazer justiça com as próprias mãos. Primeiramente vamos deixar claro que não cabe a nós, leigos, definir a existência ou não do crime supostamente cometido pelo adolescente, já que quem determina isso é o Judiciário. Apesar disso pipocaram no Brasil, especialmente nas redes sociais (onde se julga e condena sem pudor ou cautela), sentenças e aplausos pela agressão ao menino. Mas aí cabe qualificar o debate para evitar o achismo e possíveis paixões. Recentemente, o Núcleo de Estudos de Violência da USP detalhou o mapa dos linchamentos no país. Ou seja, vítimas de violência com as próprias mãos. E vocês sabem o perfil dessas vítimas de linchamento? A maioria é de homens jovens, de 15 a 30 anos, de áreas periféricas desempregados ou com profissões de baixo status social.
Na década de 1980, a maior parte das vítimas desse tipo de violência era acusada de ter cometido crimes contra o patrimônio, como roubo e furto. Depois, nos anos 1990 e 2000, os linchamentos começaram a ter como alvo agentes de crimes mais graves, como sequestro e estupro. Nos últimos 60 anos, apenas 44% das vítimas de linchamento foram salvas enquanto eram espancadas - quase sempre pela polícia. Esses atos primitivos são injustificáveis em uma sociedade propriamente dita, que é regrada por leis. Se banalizarmos atitudes como essa, onde cada cidadão se acha no direito de resolver qualquer problema à sua maneira, caminhamos para um cotidiano de violência e ainda mais injustiça.
Cabe nos perguntarmos em que sociedade queremos viver? Temos de ter claro que o justiceiro de hoje pode ser a vítima amanhã. Apesar de o descrédito da população frente ao combate à criminalidade temos de ser sóbrios em relação ao modelo de sociedade que queremos. Se seguirmos nossos instintos caminhamos de volta para o período das trevas.
*Deputado Estadual
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