Absurdos em petições, pareceres, sentenças, votos, acórdãos e discursos
Sigo apresentando casos de erros de concordância, desta vez envolvendo apenas a verbal. O objetivo é fixar o princípio geral da concordância verbal: o verbo sempre concorda com seu sujeito.
- Como não se resolveu essas dúvidas, o processo foi suspenso. Vamos procurar o sujeito: O que é que não se resolveu? Resposta: Essas dúvidas. Portanto: Como não se resolveram essas dúvidas, o processo foi suspenso.
- Imagine-se as dificuldades. De novo, vamos achar o sujeito? O que é que se imagine: Resposta: As dificuldades. Portanto: Imaginem-se as dificuldades. Cuidado: Usando a forma ativa do verbo (sem o pronome apassivador se), muda o sujeito, pois as dificuldades passa a ser complemento, podendo o sujeito variar: Imagina (tu) as dificuldades. Imagine (você ou ele) as dificuldades. Imaginem (vocês ou eles) as dificuldades. Imaginemos (nós) as dificuldades. Imaginai (vós) as dificuldades.
- Sobrou duas toneladas de alimentos. Outra vez, vamos atrás do sujeito. O que é que sobrou? Resposta: Duas toneladas de alimentos. Portanto: Sobraram duas toneladas de alimentos.
- É preciso que hajam mudanças profundas no País. Precisamos, por exemplo, perder essa mania de flexionar o verbo haver nos sentidos de ocorrer e existir, mantendo-o sempre na forma impessoal: há, havia, haverá, houve, haveria, haja, houvesse, ... Ocorre que mudanças profundas é complemento do verbo haver, o qual, por não ter sujeito, não tem com quem concordar; por essa razão é que se mantém na forma impessoal (terceira pessoa do singular). O engraçado é que nunca vi nem ouvi alguém flexionar esse verbo para o plural no presente do indicativo, como neste exemplo: Há muitos problemas no País. Ninguém diria: Hão muitos problemas no País, não é mesmo? Por que seria diferente com os demais tempos verbais?
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