Adolescente de 13 anos lança livro autobiográfico sobre adoção homoafetiva

Alyson Miguel Harrad Reis,umadolescente negro, foi adotado aos 10 anos de idade por um casal homoafetivo, e antes disso viveu em diversos abrigos para crianças abandonadas no Paraná.

Recentemente, o menino lançou o livro infantil “Jamily, a holandesa negra – a história de uma adoção homoafetiva”, onde conta um pouco de sua própria trajetória de adoção. No livro, o meninoé representado pela personagem Jamily.Na história, Alyson virou Jamily; o Rio de Janeiro, Etiópia; e Curitiba, Amsterdã. No decorrer das páginas, o livro retrata a vida do menino, desde o momento da adoção ao sofrimento da personagem no primeiro dia de aula na escola. A vida de Alyson, adotado por um casal homoafetivo, foi transformada por valores como amor, respeito, atenção, limites e boa educação, fatores determinantes para o crescimento e desenvolvimento de um cidadão, independente da orientação sexual de seus pais ou responsáveis.

Quando ganhou uma família, Alyson apresentava problemas com leitura e escrita.Seu pai, Toni Reis, que possui doutorado em Educação, decidiu desenvolver um processo para o filho ler, ao menos, três livros por mês e ainda responder perguntas que incluíam o significado da trama na vida do leitor. Tudo era publicado no blog do garoto, até que um dia Alyson quis escrever uma história de sua autoria, pois estava cansado de ler as histórias dos outros, e assim surgiu o livro, lançado na Casa Hoffmann, no Largo da Ordem, em Curitiba. Esta foi a primeira publicação de Alyson, agora com 13 anos.

Através dos olhos de Alyson – Para a advogada Marianna Chaves, diretora do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), a atitude de Alyson revela uma maneira proativa de encarar a vida, não apenas no sentido de deixar de ler as histórias dos outros e fazer com que os outros leiam a sua, mas também uma forma proativa de revelar a naturalidade, o afeto, as dificuldades e os encantos do desenvolvimento dessa relação paterno-filial com seus pais, que, embora gays, são progenitores como quaisquer outros. “A história revelada pelos olhos de Alyson certamente mostrará que os desafios, os desencantos e encantos enfrentados por ele foram os mesmos de qualquer criança/adolescente na sua posição, nessa jornada em busca da sua família”, afirma.

A advogada esclarece que se o garoto tiver sido alvo de discriminação pelo fato de ter sido adotado por um casal homossexual, qualquer incômodo ou dissabor certamente foi facilmente ultrapassado pelo afeto, respeito, educação e orientação por parte dos seus pais. “Uma história assim, seguramente inspirará outros pais, crianças e adolescentes componentes de famílias homoafetivas e também aqueles que convivem com as famílias homoafetivas. É uma história de solidariedade, afeto e tolerância. O escrito de Alyson certamente irá derrubar muitos mitos acerca das famílias homoafetivas, tendo como consequências mais adoções”, disse.

Marianna Chaves expõe que já é sabido que a orientação sexual da pessoa ou do par em nada influencia a sua capacidade parental. De acordo com ela, ser hetero ou homossexual não é garantia de maior ou menor aptidão para o exercício da maternidade ou paternidade. “E essa idéia propugnada pela doutrina jus-familiarista e também por estudiosos de outras ciências humanas, como a psicologia, me parece facilmente perceptível na obra de Alyson. Não foi a orientação sexual de seus pais que lhe ajudaram a construir e desenvolver a sua personalidade, mas a devoção e a entrega no cuidado, a diligência na educação e na função de pais, o afeto, o desvelo, a responsabilidade familiar, elementos que independem e não se relacionam com o exercício da sexualidade. Isto tudo visto e transmitido por um adolescente, filho de homossexuais, tem um sabor diferente e um colorido que sobrepuja qualquer tentativa de preconceito e rejeição”, completa.