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4 de Maio de 2024
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    As caravanas: para Chico e Camus, o mediterrâneo também é aqui

    Publicado por Justificando
    há 7 anos

    “La luciditéestla blessurela plus rapprochéedu soleil.” – René Char

    [A lucidez é a ferida mais próxima do sol]

    O lançamento recente de “Caravanas”, novo disco de Chico Buarque, provocou alvoroço à altura da grandiosidade da obra. Para além da algazarra catilinária presente nas redes sociais em virtude de um verso de “Tua cantiga”, um certo frisson tomou conta dos suplementos culturais dos jornais com o reconhecimento por inúmeros críticos musicais de que veio à luz mais um trabalho digno do gênio do artista.

    “As caravanas”, em particular, última canção do álbum, impressiona e se revela como autêntica obra de arte. Ao promover uma tensão heroica entre a recusa e o consentimento da realidade, o equilíbrio entre a crítica social e a estética inerente à criação artística, Chico leva a sério a constatação de Nietzsche de que “nenhum artista tolera o real” e a explicação complementar de Camus, para quem, por essa razão, “nenhum artista pode prescindir do real”.[2]

    O poeta toma como matéria-prima o explosivo conflito social que teve curso nos últimos verões cariocas ocasionado pela intolerância visceral que tomou conta da “gente ordeira e virtuosa” ante a presença nas praias da zona sul de jovens “com negros torsos nus” provenientes das favelas, mais precisamente das “quebradas da Maré”, do Arará, do Caxangá, da Chatuba, do Irajá, da Penha, do Jacarezinho, muitas das quais já haviam sido cantadas em “Subúrbio”, canção que integra o disco “Carioca” e nos revela que até mesmo Jesus, mais precisamente a estátua do Cristo redentor, volta a elas suas costas.

    Embarcado nessa situação histórica, Chico demonstra a insanidade que a envolve e, com sua peculiar argúcia e privilegiada lucidez, lança luz por entre os escombros dos ideais civilizatórios transfigurados em barbárie pelo projeto democrático liberal-capitalista, que tranquilamente convive com autênticos refugiados transurbanos, cujas caravanas para fugir temporariamente do calor e da miséria dos morros em que estão confinados, em busca da beleza do mundo, do “mar turquesa à la Istambul”, provocam a ira de outros concidadãos.[3]

    E o mais interessante é que o artista encontra alguns destroços da ruína civilizacional nos navios negreiros com os quais se forjou a empreitada colonial e na recente catástrofe humanitária dos refugiados transnacionais no mar mediterrâneo, cujas caravanas de muçulmanos tipo suburbanos, com “Crioulos empilhados no porão/ De caravelas no alto mar” em busca de paz e vida digna na Europa, engendra a repristinação de ideais fascistas, aparentemente sepultados no pós-guerra mundial, fortalecendo a extrema-direita no espectro político.

    O mesmo sol que refletiu na lâmina de um árabe e turvou a visão e o juízo de Meursault em uma praia mediterrânea na Argélia, no clássico O estrangeiro, romance festejado de Albert Camus, “bate na moleira”, “estoura as veias”, produz suor que “embaça os olhos e a razão” dos cidadãos de bem da cidade maravilhosa à beira-mar.[4]

    O álibi que não serviu para a absolvição de Meursault no tribunal do júri, provocando risadas entre os jurados e espectadores da sessão de julgamento quando em seu interrogatório o herói absurdo explicou que matou o árabe por causa do sol,[5] jamais poderia ser invocado pela “gente ordeira e virtuosa”, que, de maneira refletida e meditada, vitupera os pobres, faz apologia a espancamentos e linchamentos, exorta, enfim, a polícia a atuar à margem da legalidade como aparelho de guerra para deter “esses estranhos”.

    Os apelos “pra polícia despachar de volta/ O populacho pra favela/ Ou pra Benguela, ou pra Guiné” não encontram ouvidos moucos. Em setembro de 2015, por exemplo, à revelia dos direitos e garantias fundamentais especiais das crianças e dos adolescentes, cuja força de lei é oriunda da Constituição da República, dos tratados internacionais de direitos humanos e do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, jovens de diversas caravanas advindas da zona norte com destino ao “jardim de Alá” foram coletivamente abordados e apreendidos pela polícia fluminense sem qualquer suspeita de prática de ato infracional, mas tão somente por fazerem uso de determinadas linhas de ônibus cujo destino final era o mar azul da zona sul.

    O estado de exceção, que para o “populacho” é regra permanente, ganhou visíveis contornos com a desaplicação pelos agentes de segurança pública de direitos fundamentais especiais titularizados por jovens “suburbanos tipo muçulmanos”. A relativa normalidade democrática só foi retomada após a intervenção pela via judicial da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, que conseguiu suspender a atuação da polícia militar, gizando-a, ao menos formalmente, aos estritos parâmetros legais[7].

    De acordo com o filósofo Giorgio Agamben, o estado de exceção se tornou o paradigma de governo dominante na política contemporânea a partir da criação voluntária por parte dos Estados chamados democráticos de um estado de emergência permanente que permite, através de uma guerra civil legal, eliminar inimigos políticos e cidadãos não integráveis ao sistema político, à semelhança do que faziam os regimes totalitários.[8]

    É relevante notar que nos campos de concentração nazistas, a mais perfeita realização do estado de exceção, os prisioneiros privados de qualquer dignidade, cujo estado de desnutrição tornavam-nos cadáveres ambulantes, mortos-vivos enfermos que permaneciam acocorados parecendo árabes em oração, eram denominados “os muçulmanos”. Viventes no umbral entre o humano e o inumano, vida nua matável e sacrificável sem quaisquer consequências jurídicas, os habitantes dos campos foram destituídos até mesmo da indelegável experiência da morte no processo de fabricação em série de cadáveres.[10]

    É essa espécie de tanatopolítica, cálculo do poder sobre a morte, vocalizada em bordões indecorosos como “Tem que bater, tem que matar”, que perigosos setores da sociedade brasileira buscam dispensar aos nossos suburbanos. E se a morte não lhes advir por espancamentos ou linchamentos por milícias privadas, ou ainda nos combates da guerra às drogas, que sejam despachados para a “zoeira dentro da prisão”, para morrerem em guerras de facções criminosas, como bode expiatório em rebeliões malsucedidas ou mesmo vagarosamente como lixo biodegradável.

    Foi sobretudo com muçulmanos que Meursault se deparou no cárcere de Argel.[11] E Camus já havia se deparado com muitos deles quando jovem jornalista visitou um navio-prisão para fazer uma reportagem ao jornal Alger républicain, publicada em 1o de janeiro de 1938 sob o título Esses homens que apartamos da humanidade, na qual concluíra que o horror do destino singular e definitivo daqueles prisioneiros decorria justamente do fato de que, como no caos prisional brasileiro, era sem qualquer recurso.[12]

    Talvez tenha sido para aqueles presos muçulmanos, ou mesmo para os presidiários brasileiros que encontrou na penitenciária do Carandiru, em visita conduzida por Oswald de Andrade,[13] durante a viagem ao Brasil em 1949, que Camus voltou seu pensamento em 1957 ao proferir seu discurso de recebimento do prêmio Nobel de literatura: “… o silêncio de um preso desconhecido, abandonado às humilhações do outro lado do mundo, basta para retirar o escritor do exílio, cada vez, ao menos, que ele consegue, em meio aos privilégios da liberdade, não esquecer este silêncio e fazer retê-lo pelos meios da arte”.[14]

    Para Camus, o autêntico artista, embarcado na galera de seu tempo, é uma testemunha da liberdade, que se coloca ao lado daqueles que sofrem a história e dela desaparecem sem deixar rastros, buscando transcendê-la ao traduzir com sua arte a dor e o sofrimento dos homens cuja dignidade não perderam nem diante da mais completa humilhação:

    “Em sua mais alta encarnação o gênio é aquele que cria para que seja honrado, aos olhos de todos e a seus próprios olhos, o último dos miseráveis no fundo da cela mais escura. Por que criar se não for para dar um sentido ao sofrimento, nem que seja para dizer que ele é inadmissível? A beleza surge nesse momento dos escombros da injustiça e do mal. O fim supremo da arte é então confundir os juízes, suprimir toda acusação e tudo justificar, a vida e os homens, em uma luz que não é a da beleza porque é a da verdade”.[15]

    Chico Buarque encarna magnificamente esse ofício ao honrar com sua música os desvalidos, os marginais, as Genis, os negros, os operários, as mulheres, os homossexuais, os sem-terra, os presidiários, os refugiados, as crianças abandonadas etc.

    No que concerne, particularmente, à sonegação histórica de direitos às crianças e aos adolescentes miseráveis, o artista brasileiro já havia em 1984, com “Brejo da Cruz”, chamado a atenção para o problema com versos contundentes:

    “A novidade/ Que tem no Brejo da Cruz/ É a criançada/ Se alimentar de luz/ Alucinados/ Meninos ficando azuis/ E desencarnando/ Lá no Brejo da Cruz”.

    Passados mais de trinta anos, a indiferença social ao consumo de cola por crianças abandonadas para espantar a fome transformou-se em raiva, “filha do medo” e “mãe da covardia”, direcionada àqueles que ousam não mais morrer alucinados, mas sim descer os morros para gozar hedonisticamente a vida ao buscarem com suas caravanas outra luz, aquela da beleza do sol, e outro azul, da cor do céu e do mar.

    Os contrastes entre morro e asfalto no Rio de Janeiro, que chegam a se tornar obscenos com a proximidade entre edifícios luxuosos e favelas, causaram grande impacto no escritor franco-argelino, que enxerga semelhanças entre as cariocas que descem ao asfalto em busca de água e as mulheres cabilas, pertencentes ao povo berbere que habita as regiões montanhosas da Argélia, sobre cuja miséria Camus dedicou uma série de artigos no jornal Alger républicain em junho de 1939.[17]

    E as semelhanças não param por aí. No dia seguinte a uma noitada numa gafieira em que dançou o samba na companhia de Abdias do Nascimento, expoente do movimento negro,[18] com quem também foi a um ritual de candomblé, Camus faz o caminho inverso das recentes caravanas, sobe o morro defronte à praia de Ipanema, de onde vê a lua e o mar,[19] e fica impressionado com a atmosfera árabe do subúrbio.[20]

    Não só as privações materiais suportadas por suburbanos cariocas e muçulmanos africanos, bem como as belezas naturais, cuja correspondência imediata fez o filósofo da revolta tomar nota em 1949 e inspirou a recente canção de Chico Buarque, permitem traçar paralelos entre o Brasil e a Argélia, ou mesmo assimilar o Brasil à cultura mediterrânea.

    Com efeito, como bem elucidou Manuel da Costa Pinto, Camus “… encontrou no Brasil um desdobramento daquelas ‘cidades sem passado’ da Argélia, que ele percorre em O verão”,[21] nas quais a história não triunfou cabalmente, com uma cultura da medida, forjada na tensão entre a natureza desmedida e a história recente, o arcaico e o moderno, encarnando o que ele denominava pensamento do meio-dia, solar ou mediterrâneo, no qual apostava, através do equilíbrio entre ser e devir, beleza e justiça, para o renascimento civilizacional do Ocidente, após o desastre totalitário nazifascista europeu, visando ultrapassar as alternativas do mesmo modo fundadas na técnica e no produtivismo e, portanto, fadadas ao fracasso, representadas pela União Soviética e pelos Estados Unidos da América no pós-guerra.[22]

    Por essa razão, não seria exagero a constatação do renomado jornalista que “…na geografia pessoal de Camus, o Mediterrâneo é aqui”.[23] Seriam os sambas, aliás, muitos dos quais compostos por Dorival Caymmi, por quem Camus se declarou completamente seduzido,[24] que exprimiriam fielmente o que significa esse Brasil mediterrâneo.[25]

    Os sambas de Chico Buarque, que fez parcerias memoráveis com Dorival Caymmi, também exprimem o que Camus queria dizer. Ambos, aliás, Chico e Camus, resistem incondicionalmente aos absurdos da história, sem renunciar à beleza do mundo, facilmente visualizável no mar azul turquesa e no sol cantados pelo artista brasileiro e eternizados na prosa poética de Camus, qual revoltados delicados.

    Com sua arte, ensinam-nos que é possível transcender e transfigurar a história, lição valiosa sobretudo em tempos sombrios em que a insanidade, o obscurantismo, o ódio e o desvario com pendores fascistas tendem a se expandir no mundo e, particularmente, na sociedade brasileira, voltando-se com violência a refugiados transcontinentais e a subalternos que podem ser caracterizados como refugiados transurbanos. Com eles, aprendemos que nossa tragédia não é solar, que a culpa por nossas catástrofes cotidianas não é, definitivamente, do sol.

    Em suma, Chico Buarque, com sua genialidade indiscutível, expressou em “As Caravanas” uma verdade incontornável que nos foi legada por Albert Camus:

    Caio Jesus Granduque José é Defensor Público do Estado de São Paulo. Doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP. Graduado e Mestre em Direito pela UNESP. Professor visitante do programa de mestrado em Direito da UNESP. Autor do livro A construção existencial dos direitos humanos.

    [2] Cf. CAMUS, Albert. O homem revoltado. Trad. Valerie Rumjanek. 6.ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. p. 291.

    [3] De “Subúrbio” se depreende que “Lá não tem brisa/ Não tem verde-azuis (…) Lá não tem claro-escuro/ A luz é dura/ A chapa é quente”.

    [4] A antológica passagem do romance produziu eco nos versos de Chico Buarque: “E desta vez, sem se levantar, o árabe tirou a faca, que ele me exibiu ao sol. A luz brilhou no aço e era como se uma longa lâmina fulgurante me atingisse na testa. No mesmo momento, o suor acumulado nas sobrancelhas correu de repente pelas pálpebras, recobrindo-as com um véu morno e espesso. Meus olhos ficaram cegos por trás desta cortina de lágrimas e de sal. Sentia apenas os címbalos do sol na testa e, de modo difuso, a lâmina brilhante da faca sempre diante de mim. Esta espada incandescente corroía as pestanas e penetrava meus olhos doloridos. Foi então que tudo vacilou. O mar trouxe um sopro espesso e ardente. Pareceu-me que o céu se abria em toda a sua extensão deixando chover fogo. Todo o meu ser se retesou e crispei a mão sobre o revólver. O gatilho cedeu, toquei o ventre polido da coronha e foi aí, no barulho ao mesmo tempo seco e ensurdecedor, que tudo começou. Sacudi o suor e o sol. Compreendi que destruíra o equilíbrio do dia, o silêncio excepcional de uma praia onde havia sido feliz. Então atirei quatro vezes ainda num corpo inerte em que as balas se enterravam sem que se desse por isso. E era como se desse quatro batidas secas na porta da desgraça”. CAMUS, Albert. O estrangeiro. Trad. Valerie Rumjanek. 28.ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 63.

    [5] “Levantei-me e como estava com vontade de falar disse, aliás um pouco ao acaso, que não tinha intenção de matar o árabe. O presidente respondeu que isto era uma afirmação, que até então não tinha entendido muito bem o meu sistema de defesa e que gostaria, antes de ouvir meu advogado, que eu especificasse os motivos que inspiraram o meu ato. Disse rapidamente, misturando um pouco as palavras e consciente de meu ridículo, que fora por causa do sol. Houve risos na sala”. CAMUS, Albert. O estrangeiro. Trad. Valerie Rumjanek. 28.ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 107.

    [6] O estado de exceção, consoante a VIII tese sobre o conceito de história de Walter Benjamin, é a regra na tradição dos oprimidos: “A tradição dos oprimidos nos ensina que o ‘estado de exceção’ em que vivemos é a regra. Temos de chegar a um conceito de história que corresponda a essa ideia. Só então se perfilará diante de nossos olhos, como nossa tarefa, a necessidade de provocar o verdadeiro estado de exceção; e assim a nossa posição na luta contra o fascismo melhorará.” BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da História. In: O anjo da história. Trad. Jorge Barrento. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. p. 13.

    [7] Nesse sentido, conferir:

    [8] Cf. AGAMBEN, Giorgio. Estado de exceção. Trad. Iraci D. Poleti. São Paulo: Boitempo, 2004. p. 13.

    [9] Sobre os “moinhos de gastar gente”, conferir: RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

    [10] Cf. AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz: o arquivo e a testemunha. Trad. Selvino J. Assmann. São Paulo: Boitempo, 2008. p. 87.

    [11] “No dia da minha prisão, fecharam-me primeiro num quarto onde já havia muitos detidos, árabes em sua maioria”. A visitação permite inferir que se tratava de muçulmanos: “A maioria dos prisioneiros árabes, assim como suas famílias, estava de cócoras, frente a frente”. CAMUS, Albert. O estrangeiro. Trad. Valerie Rumjanek. 28.ed. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 76-78.

    [12] Cf. CAMUS, Albert. Ces hommes qu´on raie de l´humanité. LÉVI-VALENSI, Jacqueline; ABBOU, André (org). Cahiers Albert Camus 3: Fragments d´un combat (1938-1940) – Alger Républicain. Paris: Gallimard, 1978. p. 358-362.

    [13] A experiência foi registrada por Camus em seus Carnets: “Às três horas, levam-me, não sei bem por que, à penitenciária da cidade, ‘a mais bela do Brasil’. É ‘bela’, na verdade, como um presídio de filme americano. A não ser pelo cheiro, o cheiro horrível de homens que se impregna em todas as prisões. Grades, portas de ferro, grades, portas etc. E, de quando em quando, um letreiro: ‘Seja bom’ e sobretudo ‘Otimismo’. Sinto vergonha diante de um ou dois detentos, aliás privilegiados, que fazem o serviço da prisão. O médico-psiquiatra me chateia com as classificações das mentalidades perversas. E alguém me diz, ao sair, a fórmula ritual: ‘Aqui, você está em sua casa’ (…) Andrade [Oswald] me informa que, no presídio-modelo, já se viram detentos suicidarem-se batendo a cabeça contra as paredes e apertando a garganta numa gaveta até a asfixia”. CAMUS, Albert. Diário de viagem. Trad. Valerie Rumjanek. 5.ed. Rio de janeiro: Record, 2004. p. 98-99.

    [14] CAMUS, Albert. Discours de Suède. In: Oeuvres complètes. v.IV. (1957-1959). Bibliothèque de la pléiade. Paris: Gallimard, 2008. p. 240.

    [15] CAMUS, Albert. O artista na prisão. In: A inteligência e o cadafalso e outros ensaios. Trad. Manuel da Costa Pinto. 2.ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 69-78. No texto O artista na prisão, dedicado a Oscar Wilde e publicado em 1952, Camus constata que o escritor irlandês que queria dedicar sua vida exclusivamente à arte, vivia nos grandes salões, desprezava o mundo e ignorava a dor dos humilhados, tornou-se um autêntico criador somente após ter sido preso.

    [17] “O contraste mais impressionante é fornecido pela ostentação de luxo dos palácios e dos prédios modernos com as favelas, às vezes a cem metros do luxo, espécies de bidonvilles agarrados ao flanco dos morros, sem água nem luz, onde vive uma população miserável, negra e branca. As mulheres vão buscar água no sopé dos morros, onde fazem fila, e trazem de volta sua provisão em latas de alumínio, que carregam na cabeça como as mulheres kabyles [cabilas]. Enquanto esperam, passam diante delas, numa fileira ininterrupta, os animais niquelados e silenciosos da indústria automobilística americana. Nunca o luxo e a miséria me pareceram tão insolentemente mesclados”. CAMUS, Albert. Diário de viagem. Trad. Valerie Rumjanek. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 62.

    [18] NASCIMENTO, Abdias do. Na gafieira com Camus. Folha de S. Paulo, São Paulo, 29 mai. 2011. Caderno Ilustríssima.

    [19] “À tarde, vamos a uma favella [favela]. Inúmeras negociações antes de entrar nessa verdadeira cidade de madeira, de zinco e bambus, agarrada ao flanco de um morro que dá para a praia de Ipanema. (…) Entramos na noite entre os barracos, de onde saem ruídos de rádio ou roncos. O terreno fica às vezes na vertical absoluta, escorregadio, cheio de imundícies. (…) Mas no terreiro, diante do barraco, vem a recompensa – a praia e a baía, sob a meia-lua, estendem-se, imóveis, diante de nós.” CAMUS, Albert. Diário de viagem. Trad. Valerie Rumjanek. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 95.

    [20] “Às três horas, tenho um encontro com Barleto para visitar o subúrbio operário. Pegamos um trem suburbano. Meier [Méier]. Todos os Santos. Madeidura [Madureira]. O que me impressiona é o lado árabe. Lojas sem vitrines. Tudo está na rua. (…) Intermináveis subúrbios que atravessamos num bonde sacolejante. Vazios, na maior parte do tempo, e tristes (as tribos operárias acampadas nas portas de cidades me lembram B. [Belcourt, bairro operário de Argel em que Camus cresceu]), mas coagulam-se de longe em longe, em torno de um centro, de uma praça (…). Pensa-se nessas multidões que não param de crescer sobre a superfície do mundo e que acabarão por tudo recobrir e se asfixiarem. Compreendo melhor o Rio assim, melhor que em Copacabana (…)”. CAMUS, Albert. Diário de viagem. Trad. Valerie Rumjanek. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 79.

    [21] PINTO, Manuel da Costa. O Mediterrâneo é aqui. In: Paisagens interiores. São Paulo: B4, 2012. p. 73.

    [22] “Na desgraça comum, renasce a eterna exigência; a natureza volta a insurgir-se contra a história. Na verdade, não se trata de desprezar nada, nem de exaltar uma civilização em detrimento de outra, mas sim de dizer simplesmente que há um pensamento do qual o mundo de hoje não se pode privar por mais tempo. Há certamente no povo russo do que se dar uma força de sacrifício à Europa; na América [EUA], um necessário poder de construção. Mas a juventude do mundo encontra-se em volta das mesmas praias. Lançados na ignóbil Europa onde morre, privada de beleza e de amizade, a mais orgulhosa das raças, nós, mediterrâneos, vivemos sempre da mesma luz. No coração da noite européia, o pensamento solar, a civilização de dupla fisionomia espera sua aurora”. CAMUS, Albert. O homem revoltado. Trad. Valerie Rumjanek. 6.ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. p. 344.

    [23] PINTO, Manuel da Costa. O Mediterrâneo é aqui. In: Paisagens interiores. São Paulo: B4, 2012. p. 79.

    [24] “Depois do jantar, Kaïmi [Caymmi], um negro que compõe e escreve todos os sambas que o país canta, vem cantar com seu violão. São as canções mais tristes e comoventes. O mar e o amor, a saudade da Bahia. (…) Totalmente seduzido”.[24]

    [25] “País em que as estações se confundem umas com as outras; onde a vegetação inextrincável torna-se disforme; onde os sangues misturam-se a tal ponto que a alma perdeu seus limites. Um marulhar pesado, a luz esverdeada das florestas, o verniz de poeira vermelha que cobre todas as coisas, o tempo que se derrete, a lentidão da vida rural, a excitação breve e insensata das grandes cidades – é o país da indiferença e da exaltação. Não adianta o arranha-céu, ele ainda não conseguiu vencer o espírito da floresta, a imensidão, a melancolia. São os sambas, os verdadeiros, que exprimem melhor o que quero dizer.” CAMUS, Albert. Diário de viagem. Trad. Valerie Rumjanek. 5.ed. Rio de Janeiro: Record, 2004. p. 107.

    [26] CAMUS, Albert. O avesso e o direito. Trad. Valerie Rumjanek. 6.ed. Rio de janeiro: Record, 2007. p. 18.

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