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17 de Junho de 2024
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    As valas comuns da Caxemira

    Publicado por Folha Online
    há 12 anos

    CATHY SCOTT-CLARK

    DO "GUARDIAN"

    Em uma noite chuvosa de abril de 2010, um major do 4º Batalhão dos Rajputana Rifles, uma unidade do Exército indiano, chegou a um remoto posto de polícia na cadeia montanhosa que semicerca o Estado da Caxemira, o mais setentrional da Índia.

    O major Opinder Singh parecia "apressado", relembra um dos policiais que estavam de serviço. Nas alturas da cordilheira de Pir Panjal, que o major havia percorrido a caminho da aldeia, estava nevando, e suas botas estavam encharcadas. "O oficial informou que na noite anterior seus homens haviam matado três terroristas paquistaneses que haviam atravessado a fronteira no setor de Machil, onde estávamos posicionados", o policial recorda.

    Dar Yasin - 25.jun.12/Associated Press
    Muçulmanos atacam veículo da polícia indiana durante protesto contra o governo em Srinagar

    "Onde estão os corpos?", perguntou o policial, preenchendo o boletim de ocorrência que daria início a um inquérito formal. "Foram enterrados no local", o major respondeu, antes de partir em seu jipe.

    "Não era algo incomum", o policial disse mais tarde aos investigadores, quando questionado sobre os motivos para que não tivesse insistido em ver os corpos ou verificar suas identidades. A Caxemira vive em tumulto desde a separação entre Índia e Paquistão em 1947, e está virtualmente em guerra há duas décadas, com algumas estimativas calculando o total de mortos em 70 mil.

    Cruzado por barreiras de arame farpado e redes de defesa contra mísseis, o Estado foi transformado em um dos lugares mais militarizados do planeta, com efetivos de um soldado ou paramilitar indiano para cada 17 habitantes. Os serviços de inteligência e as Forças Armadas paquistanesas treinaram e bancam uma legião de combatentes irregulares que se infiltram pelas montanhas e, em 1989, conseguiram encetar uma insurgência aberta, o que mantém sob constante pressão esse Estado de população majoritariamente muçulmana.

    No passado um bucólico lugar de peregrinação para mochileiros e místicos de todas as religiões, a Caxemira se tornou uma das linhas de frente mais belas e mais perigosas do planeta. Machil, o setor no qual Singh conduziu sua operação, é especialmente traiçoeiro, consistindo de uma cadeia de aldeias isoladas ao longo da Linha de Controle (LdC), a linha de cessar-fogo traçada nas montanhas, que dividiu a Caxemira, em 1972.

    Aqui, no ar rarefeito, a Índia criou uma barreira temível e, com a ajuda de tecnologia israelense, letal --uma série de cercas parcialmente eletrificadas conectadas a sensores de movimentos e cercadas por uma terra de ninguém pesadamente minada.

    Em 30 de abril de 2010, um porta-voz das Forças Armadas indianas em Srinagar, a capital da Caxemira durante o verão, confirmou a história de Singh. "Três militantes foram mortos em um tiroteio", disse o tenente-coronel JS Brar, acrescentando que três fuzis AK-47, uma pistola paquistanesa, munição, cigarros, chocolates, tâmaras, duas garrafas de água, um rádio Kenwood e mil rupias paquistanesas haviam sido encontradas nos corpos dos inimigos abatidos --o kit padronizado de infiltração. O inquérito sobre as três mortes, realizado sem exame dos cadáveres, foi uma simples formalidade.

    Mas passados poucos dias, na delegacia de polícia de Panzalla, a 50 quilômetros de Machil, um caso simples de desaparecimento estava causando problemas. Três famílias da Caxemira, da aldeia vizinha de Nadihal, haviam registrado o desaparecimento de seus filhos --o agricultor Mohammad, 19; o pastor de ovelhas Riyaz, 20; e o trabalhador braçal Shahzad, 27.

    Os três haviam desaparecido em 28 de abril, e as famílias não se deixaram acalmar pelas explicações dos policiais. Seus apelos não demoraram a atrair a atenção de Parvez Imroz, o mais persistente defensor dos direitos humanos na Caxemira, cuja resposta ao que se tornou conhecido como o "incid...

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/as-valas-comuns-da-caxemira/3178546

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