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4 de Maio de 2024
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    Assédio moral no trabalho

    Publicado por Direito Legal
    há 12 anos

    O melhor caminho rumo à repressão do assédio moral é sempre a prevenção. O assédio se instala nas organizações quando a vítima não é ouvida e o diálogo é impossível

    *Meiry Kamia

    Novembro de 2011 – Cláudia, arquiteta jovem, vistosa e inteligente saiu da sala de Regina, sua gerente, mais uma vez, arrasada. Sentia-se mal, humilhada e frustrada. Olhando para o computador, tentava sem sucesso se concentrar no projeto. As palavras de Regina ecoavam em sua mente como se fossem chicotadas, com a fala mansa, feição de ternura e tom de sarcasmo, ela dizia “puxa, mas acho que você é incompetente mesmo… Outro erro! Você já pensou em mudar de área? Porque acho que você deve estar no lugar errado! Não presta atenção, vive errando… tá difícil… acho que… sei lá… falta talento, alguma coisa falta aí! Acho que deveria perder menos tempo escovando esse cabelo e começar a prestar mais atenção no trabalho, senão vai ser difícil!”. Cláudia não sabia como lidar com Regina. Sua vida tornara-se um inferno desde que Regina assumiu a gerência. Não sabe exatamente quando tudo isso começou, mas informações importantes dos projetos pararam de chegar à Cláudia, e quando perguntava, Regina respondia sarcasticamente “ué, se você não sabe, sou eu quem tem de saber?”. Na tentativa de entregar os projetos no prazo, Cláudia concluía o trabalho com as informações que tinha em mãos. Mas aí vinham os erros. Cláudia desconfiava que Regina escondia informações importantes para induzi-la ao erro. Percebia também que, ao apontar erros, Regina sempre fazia algum comentário maldoso referente à sua inteligência e beleza.

    Cláudia tentou conversar com Maurício, o diretor, mas ele argumentou que talvez ela, Cláudia, estivesse estressada e por isso se melindrava por pouco. Cláudia desistiu de lutar, passou a se sentir desanimada, não conseguia apoio da empresa, mas precisava do dinheiro. Passou a duvidar de si mesma, talvez eles tivessem razão, talvez ela não tivesse talento e fosse uma menina bonita, mimada e burra. Mais tarde, Cláudia pediu afastamento, diagnóstico: depressão.

    O assédio moral no trabalho se caracteriza pela exposição do colaborador a situações humilhantes e constrangedoras, de forma repetitiva e prolongada durante a jornada de trabalho, causando um efeito devastador na auto-estima da vítima. Tal violência psicológica causa danos à saúde mental e física não apenas à vítima da agressão, como também dos colegas de trabalho que testemunham os fatos, destruindo o bom clima organizacional, diminuindo a produtividade dos funcionários, e aumentando os índices de absenteísmo e rotatividade.

    No ambiente de trabalho, o assédio pode ocorrer tanto ente chefia e funcionários, como também entre colegas de trabalho. O assédio pode se dar em forma de abuso de poder ou manipulação perversa. Entre as “manobras perversas” pode-se citar o isolamento da vítima, desqualificação, vexação, indução ao erro, assédio sexual, recusa da comunicação direta.

    É importante enfatizar que para ser considerado assédio moral é preciso que o abuso de poder seja feito de forma repetitiva e prolongada, configurando a relação de perversidade no ambiente de trabalho. Nem sempre o abuso é feito por meio de xingos e insultos. Ao contrário, este não é um conflito aberto e declarado. Por isso, não raras vezes, apresenta-se mascarada de ternura e bem querer, envolto por um clima glacial.

    Muitas pessoas desistem de entrar com a ação por assédio moral por temerem perder o emprego ou ficarem “manchados” na sua área de atuação. A necessidade de haver testemunhas que comprovem o assédio também dificulta o processo, pois os colegas de trabalho também temem perder o emprego.

    O melhor caminho rumo à repressão do assédio moral é sempre a prevenção. O assédio se instala nas organizações quando a vítima não é ouvida e o diálogo é impossível. Prevenir significa criar políticas que facilitem o diálogo e a comunicação verdadeira, o que inclui a educação dos gestores ensinando-os a lidar com tais questões levando em conta a natureza humana.
    *Meiry é psicóloga, Mestre em Administração de Empresas, consultora e palestrante. Diretora da Human Value Consultoria, Meiry desenvolve palestras e treinamentos vivenciais utilizando técnicas lúdicas diferenciadas que contribuem para o auto-conhecimento e mudança de comportamento

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