BC cobra corte horizontal de tributos

Por Mônica Izaguirre e Murilo Rodrigues Alves | De Brasília

O discurso de Alexandre Tombini, ontem, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, mostrou um Banco Central otimista com o crescimento da economia e conformado com a demora da inflação em convergir para o centro da meta estabelecida pelo governo. Em meio a elogios à política do governo e às explicações sobre a resiliência da inflação, no entanto, ele defendeu avanços, ao falar da necessidade de uma redução horizontal da carga tributária. É a primeira vez que o presidente do BC se posiciona dessa forma.

Tombini acredita que os países sairão mais competitivos da crise internacional prolongada, em função da redução dos custos de produção, como os trabalhistas. O Brasil precisa, então, na visão da autoridade monetária, aproveitar esse momento para "atuar do lado dos custos" com o objetivo de "competirmos em condições mais homogêneas". "Para estar em linha com outros competidores, temos necessidade de redução horizontal na carga tributária", afirmou Tombini, defendendo, portanto, um alívio para todos os setores e não para alguns em específico.

Durante a audiência na CAE, a inflação foi um dos principais alvos de questionamento dos senadores. Tombini reiterou que a variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo em 12 meses continuará recuando rumo aos 4,5% fixados como centro da meta. Mas, reforçando a mensagem da última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), deixou claro que essa trajetória de queda não será linear. Pontualmente, a inflação em 12 meses poderá voltar a subir, como já ocorreu no mês passado (de 5,20% para 5,24%). A convergência para a meta não é linear por problemas de curto prazo, ponderou Tombini.

Ele apontou como causa os choques de oferta relacionados ao efeito do clima sobre a agricultura. No médio prazo, porém, "o cenário externo é desinflacionário", na visão do presidente do BC. Na sua opinião, até o momento, as evidências sugerem que o choque de commodities de 2012 é localizado, pois envolve "poucas commodities agrícolas.

De junho de 2010 a fevereiro de 2011, lembrou Tombini, o conjunto de commodities agrícolas relevantes para inflação brasileira ficou 72,4% mais caro em dólares americanos. De junho a agosto de 2012, esses mesmos preços variaram 10,5%, sendo que especificamemte em agosto houve queda.

Tombini mostrou-se, diante dos senadores, um entusiasta das medida adotadas recentemente pelo governo." As políticas de oferta anunciadas tendem a contribuir para reduzir custos de produção e, assim, conter pressões de preços no médio prazo ", disse ele, referindo-se entre outras, à redução do custo da energia e ao programa de concessões de serviços públicos de infraestrutura ao setor privado. Ele espera efeito expressivo sobre a inflação e acha que o Brasil aproveitou uma janela de oportunidades para adotar medidas para tornar o país mais competitivo.

Quanto à demanda, o presidente do BC disse que os elementos que a sustentaram até aqui continuam presentes na economia. São eles emprego, renda e crédito. Esse é um dos motivos pelos quais o BC acredita que" o ritmo da atividade econômica no Brasil será mais intenso neste semestre e no próximo ano ".