Comissão da Verdade decide usar força policial para ter presença de militares em audiências
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) decidiu recorrer à força policial para conduzir militares da reserva, que atuaram na ditadura, e que estão se recusando a comparecer para prestar depoimentos sobre violações naquele período. O grupo informou nesta segunda-feira que o coronel reformado Wilson Machado, que participou do atentado do Riocentro em 1981, tem se negado a comparecer à comissão e será um dos que será levado de forma coercitiva. Integrantes da comissão se reuniram com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e acertaram como se dará o uso da Polícia Federal nesses casos.
Não nos move o espírito persecutório, mas ficou evidente que há uma tentativa de frustrar o espírito da lei. Caso do capitão (na época) Wilson Machado, que já foi chamado e não vem. Ele já foi denunciado pelo Ministério Público. A lei confere à comissão o direito de convocar e, se não comparecer, de usar o poder coercitivo. O mandado é expedido pela comissão e a Polícia Federal executa disse o coordenador da Comissão da Verdade, Pedro Dallari.
O general reformado José Antônio Nogueira Belham, acusado de envolvimento na morte do ex-deputado Rubens Paiva, também pode ser levado a depor à força. Ele tem se recusado a comparecer e alegou problemas de saúde. Belham deveria depor essa semana em Brasília, mas informou que está no Rio nesses dias. Semana que vem, a comissão irá colher depoimentos de 25 pessoas no Rio e tentará convocar o general novamente.
Se ele não comparecer dessa vez, teremos que recorrer à condução coercitiva. Mas esperamos não ter que usar disse Dallari.
Também integrante da comissão, o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias afirmou que ter que levar um militar para depor à força é uma vergonha para as Forças Armadas.
Esses agentes públicos podem até permanecer em silêncio, mas não se recusar a comparecer. Seja coronel ou general é obrigado a comparecer sob pena de ir coercitivamente disse Dias.
A comissão colheu nesta segunda-feira depoimento de três ex-soldados que atuaram na Guerrilha do Araguaia e de um ex-adido militar no Chile. A comissão informou que eles poucos acrescentaram e ressaltaram apenas a informação de um deles de que a Casa Azul, onde funcionou uma repartição pública em Marabá, no Pará, foi utilizado pelos militares como órgão da repressão. (O Globo)
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