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24 de Maio de 2024
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    Competência dos juizados especiais em debate no STF

    Publicado por Espaço Vital
    há 14 anos

    A competência dos juizados especiais cíveis e criminais para processar e julgar determinadas causas, como as que tratam de indenização por danos materiais, tem sido assunto recorrente em diversos debates do plenário do STF.

    Devido à polêmica, os ministros da corte buscam analisar o tema durante o julgamento dos recursos extraordinários e agravos de instrumento oriundos dos juizados especiais que tramitam no Supremo: de 2005 a setembro de 2010, foram 79.944.

    No último dia 15 de setembro, véspera do aniversário de 15 anos da Lei nº 9.099/1995 a Lei dos Juizados Especiais Civeis e Criminais , o STF voltou a discutir o assunto, na análise do RE 537427, interposto pela empresa de tabaco Souza Cruz S/A contra ação de indenização que a condenou ao pagamento de danos materiais a um suposto consumidor de seus cigarros. A conclusão do julgamento, no entanto, foi suspensa e será retomada com voto-vista do ministro Ayres Britto.

    No RE, a empresa alega incompetência absoluta de juizado especial cível de São Paulo para julgar demandas complexas do ponto de vista fático-probatório. Condenada ao pagamento de indenização por danos materiais em razão dos males que o consumo de cigarros por 44 anos teria causado à saúde de um dos consumidores, entre eles a dependência, a empresa contesta a ação movida pelo consumidor, segundo a qual ele seria dependente do produto e a propaganda da empresa seria enganosa. Mas, no entendimento da Souza Cruz, o fundamento jurídico do pedido estaria baseado em uma imaginária responsabilidade civil objetiva.

    Inconformada com a decisão do juizado paulista, a empresa interpôs o recurso sob os argumentos de que com base no Código de Defesa do Consumidor não existe responsabilidade objetiva da empresa porque o cigarro não é um produto defeituoso, os riscos associados ao seu consumo têm sido largamente divulgados há décadas e, portanto, são razoavelmente esperados, e sua propaganda não é enganosa por omissão. Alegou também que não há responsabilidade civil subjetiva, já que a atividade da empresa é lícita, e não há nexo causal, pois o consumidor não está doente e a suposta dependência não foi provada, sendo apenas presumida.

    Com todos esses argumentos, a Souza Cruz pede ao Supremo que dê provimento ao recurso extraordinário para que a ação indenizatória seja julgada improcedente. Solicita ainda o reconhecimento de incompetência absoluta do juizado especial para processar e julgar o caso, bem como a anulação da decisão questionada para que sejam produzidas as provas anteriormente negadas.

    Até o momento, votaram pela incompetência do juizado especial para o julgamento da causa o relator, ministro Março Aurélio, e os ministros Dias Toffoli, Joaquim Barbosa e Cármen Lúcia.

    Competência do STF

    Outra polêmica gerada em torno da atuação dos juizados especiais é a competência do STF para reexaminar as decisões das turmas e dos colégios recursais dos juizados especiais. No último dia 19 de agosto, os ministros decidiram que não compete ao Supremo processar e julgar, originariamente, pedido de habeas corpus impetrado contra decisão de turma recursal vinculada ao sistema de juizados especiais.

    O assunto foi levado a debate no plenário durante a análise do HC 104892, que foi negado pela corte com base nesse reiterado entendimento. O HC foi impetrado em favor de uma advogada condenada pelo delito de comunicação falsa de crime ou de contravenção.

    Na ocasião, o decano da corte, ministro Celso de Mello, lembrou que o plenário, no julgamento do HC 86834 , reformulou sua orientação jurisprudencial sobre o tema, passando a entender que compete a tribunal de Justiça ou a tribunal Regional Federal, e não ao STF, a atribuição para apreciar, em sede originária, pedido de habeas corpus impetrado contra decisão de turma recursal dos juizados especiais. Com o mesmo entendimento foram julgados os HCs 89630, 89916 e 101014.

    Na retomada do julgamento do RE 537427, no dia 15 de setembro, o ministro Março Aurélio voltou a discutir o assunto a competência do Supremo para analisar processos advindos dos juizados especiais. No caso do recurso extraordinário interposto pela empresa Souza Cruz S/A, segundo o ministro, a competência da matéria é do Supremo e não do STJ. Isso porque o caso diz respeito a controvérsia de grande complexidade.

    De acordo com o relator, a delimitação primeira dos juizados quanto a sua competência está na Constituição Federal, que é a lei máxima do país e que a todos submete. Os juizados devem julgar, no campo penal, as causas em que o crime não é de gravidade maior, e no campo cível, as causas que não apresentem complexidade. O rito é muito célere, não há espaço para uma dilação probatória projetada e de maior envergadura, destaca o ministro Março Aurélio.

    No entendimento do ministro, no caso concreto, haveria a necessidade de se fazer prova pericial, já que com ela, de início, se pressupõe a complexidade da causa. No entanto, conforme o ministro, não há espaço nos juizados especiais para se ter a prova pericial. Além disso, segundo ele, este é um caso momentoso (grave ou importante no momento) porque diz respeito à dependência causada pelo cigarro e à comercialização dos produtos das empresas tabagistas.

    Essas causas devem ser julgadas, para até mesmo não se ter a sobrecarga dos juizados especiais, pela justiça dita comum. Vamos preservar essa exitosa experiência dos juizados especiais. Não vamos enforcá-los como se eles fossem a solução para a problemática do Judiciário brasileiro, para a problemática do emperramento da máquina judiciária, conclui o ministro.

    Repercussão geral O plenário virtual do STF reconheceu repercussão geral ao tema tratado no julgamento do RE 567454 : a questão da competência da Justiça Estadual e respectivos juizados especiais para decidir sobre a possibilidade de cobrança de assinatura básica de telefonia. O tribunal conheceu parcialmente do recurso, no mérito, positivando a competência da Justiça Estadual e juizados especiais, deixando de conhecer da questão infraconstitucional (a possibilidade da cobrança). (Com informações do STF).

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