Comunidade de Pelotas discute o transporte intermunicipal e os pedágios
A Assembleia Legislativa realizou na noite desta segunda-feira (23) a primeira audiência pública no interior do Estado para tratar do tema Transporte interurbano - mobilidade, pedágio e acesso asfáltico. Duas minutas de anteprojetos sobre o assunto foram apresentadas e debatidas com a comunidade de Pelotas: uma que disciplina as cobranças de pedágios nas rodovias de jurisdição do Rio Grande do Sul, e outra que cria o novo março regulatório para o transporte intermunicipal de passageiros do Estado. O evento, promovido pela Presidência do Legislativo, Fórum Democrático de Desenvolvimento Regional e pelas comissões de Assuntos Municipais e Serviços Públicos aconteceu no plenário da Câmara de Vereadores do município. O Grupo de Estudos e Acompanhamento de Debates (GEAD) - Transporte Interurbano: mobilidade, pedágios e acesso asfáltico do Fórum Democrático elaborou os documentos após debaterem tecnicamente os assuntos.
Conforme o presidente do Legislativo gaúcho, deputado Ivar Pavan (PT), em Pelotas abriu-se a discussão de dois temas polêmicos que estão intrinsecamente ligados à vida de milhões de gaúchos. Os pedágios, desde sua implantação, provocaram diversas controvérsias e conflitos, e o transporte coletivo intermunicipal é um assunto que envolve muitos interesses. Por isso, precisamos oportunizar a discussão com as comunidades, disse.
Para Pavan, há um consenso na necessidade de aperfeiçoamento do modelo de transporte. O objetivo é chamar a sociedade para o debate, e com a nossa contribuição ajudar a construir um processo de transporte focado no interesse público, afirmou. Ele reiterou que a intenção é colher as sugestões que poderão resultar num projeto de lei. A ideia é permitir que as pessoas manifestem suas opiniões para depois decidirmos sobre os encaminhamentos a serem dados às proposições construídas em torno das questões de pedágios e transporte interurbano, observando a quem compete os projetos, se ao Executivo ou ao Legislativo, observou.
Pedágios
O ex-ministro dos Transportes, Cloraldino Severo, apresentou a minuta de projeto de lei que disciplina as cobranças de pedágios nas rodovias de jurisdição do Rio Grande do Sul. Ele afirmou que no anteprojeto a sociedade civil aparece como sujeito no processo de criação e fiscalização de rodovias com pedágios. A sugestão do novo março regulatório elaborado pelo GEAD estabelece em primeiro lugar a opção pelo pedágio público. Nesse modelo, em média 80% do que o usuário paga é revertido em obras nas estradas, disse. Com os pedágios públicos não haveriam custos com marketing e seguros, tornando o preço da tarifa menor, exemplificou. Para Cloraldino Severo, nos pedágios privados os investimentos nas rodovias são poucos e as tarifas cobradas são abusivas.
O representante do Fórum dos Coredes, José Antônio Adamoli, destacou os três pedágios comunitários do Estado (Portão, Campo Bom e Coxilha). Nesse modelo temos uma tarifa módica no valor de R$ 4,80. Com os pedágios comunitários as obras são realizadas, com o atual modelo de concessões de rodovias as obras não acontecem e as estradas são remendadas, reclamou.
Transporte intermunicipal
Quanto ao transporte municipal, o principal objetivo do anteprojeto é modificar o atual março regulatório do Sistema de Transporte Coletivo Intermunicipal para garantir a qualidade dos serviços e um preço de tarifa acessível por meio de novas concorrências entre as empresas de ônibus. Com mais empresas disputando o mercado de um determinado polo rodoviário, o usuário terá mais alternativas de preços módicos e horários de viagens. Dessa forma, estaríamos evitando o monopólio de empresas de ônibus, ponderou Cloraldino Severo. Ele lembrou que o atual março regulatório é de 1957 e está bastante defasado, pois não estimula a concorrência das concessões de linhas de transportes rodoviários.
O documento ainda sugere transformar o processo de concessão do transporte intermunicipal em sistema de permissão. O sistema permissionário tem uma flexibilidade maior à favor do poder concedente, possibilitando ao Estado mais liberdade de alterações dos serviços. A concessão engessa o Estado na defesa dos usuários e dos interesses públicos, afirmou o ex-ministro.
Opiniões
O presidente da Comissão de Serviços Públicos, deputado Fabiano Pereira (PT), frisou que é preciso avançar num modelo eficiente que garanta aos usuários rodovias seguras e trafegáveis. Quanto ao transporte coletivo, Fabiano avaliou que apesar das dificuldades o sistema ainda consegue oferecer regularidade e qualidade nos serviços.
A vereadora Miriam Marroni (PT), que representou o presidente da Câmara de Vereadores, parabenizou a iniciativa da Assembleia em proporcionar o debate sobre pedágios e transporte coletivo intermunicipal. Para ela, os atuais contratos de pedágios são imorais, pois só beneficiam as concessionárias e a iniciativa privada. Na opinião da vereadora, o pedágio público é uma proposta inicial que precisa ser aperfeiçoada. Precisamos nos preparar para rompermos com os atuais contratos, muitos deles com prazo até 2025, lembrou.
O assessor jurídico da Federação das Empresas de Transportes Rodoviários de Passageiros no Rio Grande do Sul, Darci Rebelo Jr. declarou que não há monopólio no Sistema de Transporte Coletivo Interurbano. O preço da tarifa é fixado pelo Daer nas linhas de longo curso e pela Metroplan nas linhas da área metropolitana. Os valores são submetidos ainda à Agência Reguladora dos Serviços Delegados do RS (Agergs) onde são realizadas as audiências públicas e analisados os custos, comentou.
Também participaram do debate a presidente do Corede Sul, Selmira Fehrenbach; o presidente da Comissão de Serviços Públicos da OAB/RS, Lauro Delgado e o diretor do Departamento dos Transportes do município, Antônio Carlos Selister, além de representantes de entidades e órgãos interessados no tema.
Novas audiências
Além de Pelotas, estão agendadas audiências em Uruguaiana (27/11), Caxias do Sul (07/12) e Carazinho, (11/12). Os resultados dos encontros regionalizados, bem como do que foi discutido nas reuniões do Gead, serão sistematizados dia 14 de dezembro, no Seminário Estadual sobre Transporte, que acontecerá na Assembleia Legislativa.
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