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17 de Junho de 2024
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    Confira uma das últimas entrevistas de Millôr Fernandes para o Estadão

    Publicado por Estadão
    há 12 anos

    ReproduçãoO escritor Millôr Fernandes morreu na noite de terça-feira, 27 SÃO PAULO - O escritor Millôr Fernandes falou com os jornalistas Laura Greenhalgh e Sérgio Augusto em 14 de agosto de 2005. Confira a íntegra da entrevista publicada no caderno Aliás. Enquanto a crise política continua provocando estados de comoção e desapontamento, Millôr Fernandes, 82 anos, afirma de boca cheia: “Sou indecentemente feliz”. Alienado? Jamais. Está de olhos e ouvidos atentos a tudo – em particular aos tropeços e contradições dos que frequentam as salas das CPIs ou o púlpito dos comunicados oficiais. Entre delcídios e delúbios, o “guru do Méier” se esbalda. “Lula não tem consciência da própria ignorância”, analisa. “Chávez é um patife”, assume sem medo de ser atrevido. “Jefferson ainda vai entrar para a História”, avisa. “A esculhambação no País é geraaaal”, diz expandindo a vogal, num exagero calculado. O olhar fixo na CPI começa cedo, ou melhor, começa assim que um amigo do peito faz soar o lembrete pelo telefone: “Já começou o depoimento da Zilmar. Vai lá, liga a tevê”. No ateliê em Ipanema, onde Millôr trabalha todos os dias, as questões de ordem de Brasília começam a provocar o mestre. A cada uma daquelas afirmações que não passariam pelo detector de mentiras, Millôr rebate que a canalhice é imensa, a ignorância não tem limites e o ser humano é inviável. Dispara palavrões com sua balística demolidora e confirma-se no posto de temível observador (ou seria dissecador?) da cena política nacional. Por que se sente “indecentemente feliz”? “Porque não vivo para comprar iate e tenho dinheiro para pagar minhas contas”, explica o jornalista, escritor, dramaturgo, ilustrador e requintado tradutor dos clássicos, que não gosta de ser chamado de erudito. “Sou um oligofrênico topográfico. Me perco até em porta giratória”, caçoa. Ateu confesso, carrega na alma amuletos contra o politicamente correto. Odeia certinhos (“e o ACM Neto com aquelas roupinhas, hein?”) e amaldiçoa a publicidade (“ela vende mentiras”). Entre os cacoetes que cultiva, sente um prazer incomensurável de dizer que “Hitler era viado”. Tiradas assim recheiam a coletânea Todo Homem é Minha Caça, que a editora Record acaba de relançar. É livro de 1981, que não perdeu nem o viço nem a verve do autor. Nesta entrevista exclusiva para o Aliás, Millôr pede que seus palavrões não sejam substituídos pelo “eufemismo dos três pontinhos”. E a primeira pergunta, leitores, é do entrevistado: “Vamos começar a entrevista assim: Freud era um gênio ou um bobalhão?”. Tudo bem, Millôr, podemos começar por aí. Gênio ou bobalhão? Nem uma coisa nem outra. Lembra as brigas que Freud tinha com o Jung? No fundo, era briga de duas bichas-loucas. Uma historiadora italiana conta uma passagem ótima com o neto do Freud. O neto pergunta: “Vovô, mulher tem perna?”. Faz sentido. Freud nunca viu perna de mulher e fez sua obra girar em torno do sexo. Na época dele, as pessoas iam para a cama e nem tiravam a roupa, a relação era um extra. Em compensação hoje chegamos a um ponto que, se você quiser viver um pouco mais calmo, tem de evitar o sexo, porque a transa é fácil, é imediata. Quando Freud foi para os Estados Unidos com Jung, o reitor de uma universidade quis homenageá-lo, afinal, os americanos se curvavam à psicanálise como ciência. Como sempre, Freud “medrou” e não foi à cerimônia. Jung foi. O reitor fez as apresentações e no final errou. Pediu uma salva de palmas para o doutor Sigmund Freud. É assim que se faz: as pessoas jogam sua crença numa coisa científica e depois votam no Lula. Pronto, entramos na política. Você tem acompanhado as CPIs? Acompanho tudo. E alguém consegue deixar de ver? Que país maravilhoso é esse Brasil, que acontece essa esculhambação homérica e até agora não tem ninguém preso... Os contestados, os ameaçados, todos falam de dedo em riste! Tempos atrás você teria dito que o Brasil é ingovernável. É mesmo? Não disse que o Brasil é ingovernável. Não diria isso até porque o problema não é o Brasil. Veja o que aconteceu na Espanha pós-Franco. Era uma roubalheira desenfreada com o González. Aquela gente roubava dinheiro em parceria com o ETA! Era dinheiro para dar armas, dinheiro para tirar armas... Na Inglaterra, o filho da senhora Thatcher meteu a mão. O...

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/confira-uma-das-ultimas-entrevistas-de-millor-fernandes-para-o-estadao/3070286

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