Crime organizado ocupou o espaço do Estado

Em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, o governador de São Paulo, Claudio Lembo, voltou a recusar auxílio de tropas federais para atuar na contenção da onda de violência que assola o estado. A entrevista teve a participação do ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, que voltou a colocar à disposição as tropas federais e a Polícia Federal.

Claudio Lembo, ao final da entrevista, voltou a pedir "paciência e a confiança" da população. A Prefeitura de São Paulo anunciou que a Guarda Metropolitana irá fazer a segurança nos corredores de ônibus.

Crime organizado ocupou o espaço do Estado

Cerca de uma dúzia de organizações criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), atua dentro dos presídios paulistas. Segundo o padre Valdir João, coordenador da Pastoral Carcerária da Igreja Católica no estado de São Paulo, essas organizações ocupam o espaço institucional deixado vago pelo Estado pela ausência de políticas adequadas.

Em entrevista à Agência Brasil, o padre Valdir João disse que os cerca de 1.400 agentes da sua pastoral não conseguem conversar com os presos sem autorização do líder de cada área dessas organizações nos presídios e também que estão sendo chamados para intermediar negociações para pôr fim a rebeliões. Hoje, o padre participa do ato ecumênico que pede fim da violência e medidas para conter violência dentro e fora dos presídios. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Agência Brasil: Qual a natureza do ato ecumênico de hoje?Padre Valdir João: A Pastoral Carcerária quer deixar bem claro que nós repudiamos toda essa violência que está ocorrendo, porque a Pastoral Carcerária defende acima de tudo a vida e a paz, contra qualquer forma de violência. O que está acontecendo, nós vamos deixar bem claro, é uma briga entre o crime organizado e o governo do estado.

ABr: Dá para dizer que as pessoas presas que não pertencem à essa organização de alguma forma sejam também vítimas?Padre Valdir João: A primeira coisa: existe a superlotação nos presídios, estão superlotados. A maioria das pessoas é pobre, não tem condições de constituir sequer advogado. O crime organizado preenche o espaço do estado, dando a eles os que eles necessitam. Com isso, os próprios inocentes tornam-se vítimas da própria violência organizada nos presídios.

ABr: A penetração dessa organização é muito grande nos presídios?Padre Valdir João: Para você ter uma noção, infelizmente, em muitos presídios do estado de São Paulo, eu diria que na maioria, para você entrar no pátio, num raio, para conversar com um preso, você tem de pedir autorização de quem comanda aquele raio, senão você não pode entrar para conversar. Isso é geral no sistema prisional do estado de São Paulo. São poucos presídios em que isso não acontece.

ABr: Esse líder da área pode não ser membro dessa organização, do PCC?Padre Valdir João: É bom lembrar que existem vários partidos, várias facções no estado. O PCC é a mais forte, mas não é a única. Nós temos o Comando Revolucionário Brasileiro do Crime, temos Amigos dos Amigos, temos a Seita Satânica. Eu sei que é o total é de umas doze facções no estado.

ABr: Qual o trabalho e a abrangência da pastoral que o senhor dirige e como ela está atuando nessa crise?Padre Valdir João: Eu sou coordenador estadual da Pastoral Carcerária. Nós estamos mais ou menos com 1.400 agentes visitando os presídios. Nesse momento a pastoral não está indo até as unidades. Estamos recebendo solicitações para fazer negociação. Nós só estamos indo nos presídios aonde a direção do presídio está pedindo a nossa presença para acabar com a rebelião. Como neste momento estamos negociando dentro do Centro de Detenção Provisória de Independência (bairro Independência), aqui na capital.