Dinheiro do auxílio-paletó pagaria 400 ternos populares
Quarenta mil reais por ano. Este era o valor do chamado auxílio-paletó, pago para cada deputado da Assembleia Legislativa de São Paulo antes de a Justiça acabar com a benesse, em decisão divulgada na última quinta-feira (17). A decisão é de primeira instância e o presidente da Casa, Barros Munhoz (PSDB), já avisou que pretende recorrer.
Com o dinheiro, daria para comprar 400 ternos em lojas populares como a Camisaria Colombo, onde o preço dos conjuntos varia de R$ 99 a R$ 249 reais. Na famosa Daslu, um dos templos do luxo na capital paulista, o valor daria para comprar 12 ternos do modelo mais caro da loja, que custa R$ 3.200.
Se o deputado tiver um gosto ainda mais refinado, a verba compra 8 ternos da última coleção da grife italiana Empório Armani, por R$ 5 mil cada um.
Na prática, a maioria dos parlamentares não parece afeito a grifes - nem mesmo a bom gosto, em alguns casos. Uma galeria de fotos exibida no saite da revista Veja dá uma mostra ao eleitor de como os deputados andavam gastando os R$ 40 mil anuais de auxílio-paletó.
Os ternos do deputado Major Olímpio (PDT), por exemplo, são escolhidos pela mulher dele. Eu não uso ternos de grife, pode falar com meu terno e minha gravata em português que eles atendem, diz.
Já o tucano Orlando Morando traz o gosto pelo paletó de outros tempos e diz mesclar no guarda-roupa exemplares de marcas populares com outros da tradicional Alfaiataria Camargo. Durante toda a vida me vesti adequadamente, porque eu era empresário antes de ser deputado.
Quem acompanha o diaadia da Casa, no entanto, já viu muito deputado combinar terno e gravata com camisa polo e calça jeans. A única exigência de figurino do regulamento da Alesp é que os parlamentares homens trajem terno e gravata. Para as mulheres, não há regra. Isso abre brecha para que tenha deputada de chinelinho na Assembleia.
Apesar de ter ficado conhecido como auxílio-paletó, o benefício não é gasto, obrigatoriamente, com o vestuário. Não há, na verdade, nenhum controle sobre como o dinheiro é gasto e a verba acaba integrando o já polpudo salário de 20 000 mensais dos parlamentares paulistas.
O benefício foi criado em 2002 e é definido pelo regimento interno da Alesp como uma ajuda de custo para despesas "com transporte e outras imprescindíveis para o comparecimento à sessão legislativa. Detalhe: os parlamentares já recebem uma verba mensal para compensar as despesas de gabinete, o que inclui transporte, telefonia, papelaria e funcionários.
Um plus a mais
Exemplo do abuso do dinheiro público é o deputado José Bittencourt (PSD). Não é um auxílio-terno, mas um plus a mais ao salário do parlamentar, afirma. O agente público tem que ser bem remunerado. Nos outros poderes também há auxílios. Por que o Legislativo não pode ter?
Bittencourt defende ainda que é função da Assembleia garantir que o benefício seja pago, independente da decisão da Justiça. Essa verba é de direito do parlamentar, está assegurada pelo regimento. Se a Justiça considerar que ela não está normatizada, cabe à Casa legislar para criar uma nova norma que a regularize."
Enquanto isso, o deputado Major Olímpio diz estar aliviado com o fim do benefício: A sociedade não aprova o pagamento desses benefícios. Temos que pensar, além da legalidade, nas questões éticas e morais."
Edinho Silva, do PT, vai na mesma linha: O salário do deputado é mais do que suficiente para comprar terno. Nenhum de nós vai passar necessidade por causa da decisão da Justiça. Como qualquer outro trabalhador, a despesa com vestimenta tem que ser retirada do salário.
Orlando Morando, aquele dos ternos da Alfaiataria Camargo, esquivou-se de opinar sobre o fim do auxílio-paletó. Vou acatar a decisão final da Justiça, seja ela qual for. Decisão judicial não se discute, se cumpre.
E gosto, claro, não se discute.
Veja as fotos dos deputados paulistas, no saite da revista Veja.
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