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20 de Junho de 2024
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    Doação de órgãos e transplantes: os motivos para um transplante - Bloco 5

    As razões pelas quais uma pessoa pode precisar de um transplante são muitas. Mas é papel tanto do médico quanto do paciente aprender a evitá-las. Acompanhe agora, no último capítulo da Reportagem Especial sobre doações de órgão, com Verônica Lima

    Publicado por Câmara dos Deputados
    há 8 anos

    O Renato Padilha precisou de um transplante de rim porque era diabético. O deputado Roberto Sales, porque tinha pressão alta. E o Lutero Hayne por excesso de anti-inflamatórios. As razões para se chegar a um transplante são variadas, assim como os órgãos que podem ser transplantados. Cada história que eu ouvi na produção desta série de reportagens traz uma lição e, por isso, vale a pena ser contada.

    Vamos começar pelo Renato Padilha, que é hoje presidente da Federação Nacional dos Pacientes Renais e Transplantados do Brasil. A lesão no rim ocorreu em função da diabetes. Quem doou o órgão, há 14 anos, foi sua irmã, Regina. O Renato fala como ficou a vida dela após a cirurgia:

    “Continua bem, saudável, trabalhamos juntos, ela corre, continua com a vida normal, só que uma vez por ano o doador deve fazer uma revisão e o transplantado a cada dois meses tem que fazer revisão do seu quadro clínico. […] Doador não precisa tomar remédio, só o acompanhamento do seu quadro clínico, porque há mais riscos do doador vivo de ter uma complicação, é por ter mexido num órgão.”

    O deputado Roberto Sales, do PRB fluminense, também recebeu doação de um parente vivo: seu pai, que, à época, tinha 74 anos. Após 15 dias da cirurgia, conta o deputado, seu pai já estava trabalhando, com vida normal. Agora, o que a história dele nos traz é um alerta: o transplante foi necessário porque a hipertensão não foi controlada. Ele mesmo conta como foi:

    “Fui acometido com pressão alta severa aos 23, 24 anos, mais ou menos, e não tratava, protelava. Fui orientado a procurar cardiologista e não ia para buscar diagnóstico da pressão alta. Causa da perda dos rins foi a pressão alta. Sem doença relacionada. Pressão não tratada por vários anos. A longo prazo a pressão alta prejudica.”

    Passados quase cinco anos do transplante, Roberto Sales lançou, em 2015, a Frente Parlamentar de Incentivo à Captação e Doação de Órgãos. O trabalho da Frente neste ano será de levantamento de dados por meio de visitas a hospitais e centros de saúde nos vários estados brasileiros. O maior objetivo, diz o deputado, é aumentar a captação de órgãos para a doação:

    “Exemplo: acidentado, trauma no crânio, é um possível doador. Naquele hospital, há estrutura física para o psicólogo, ou assistente social comunicar à família, recebê-los, há um espaço físico para isso? Como é a escala de trabalho desses profissionais? Tem gente para captar órgãos na madrugada?”

    O número de doações e de transplantes vem crescendo continuamente nos últimos anos no Brasil. Mas o esforço da Frente Parlamentar em captar mais órgãos é crucial. Afinal, 38 mil brasileiros ainda aguardam um órgão para transplante. E, mesmo no caso do rim, que pode ser doado em vida, o transplante com órgão de pessoa falecida é mais recomendado devido aos riscos inerentes a qualquer cirurgia.

    E foi por isso que o aposentado Lutero Hayne optou por esperar por um rim de doador falecido ao invés de receber o órgão de um de seus filhos. E em 15 dias foi chamado para receber o rim de um jovem saudável e sem vícios. Após 70 dias de internação e uma segunda cirurgia, Lutero está hoje totalmente recuperado, trabalhando e cheio de energia. E tomou como missão compartilhar a sua história, porque a causa da sua falência renal está ligada a uma atitude corriqueira hoje em dia: o uso excessivo de anti-inflamatórios:

    “Alertar pessoas pra não tomar anti-inflamatório sem orientação muito boa. Muitas vezes o próprio médico começa a passar pra pessoa. Tinha problema da coluna e, ao longo de 10 anos, eu havia tomado muito anti-inflamatório. Pra coluna. Você sempre tem crise e toda crise, mas os médicos de 15 anos atrás simplesmente passavam anti-inflamatórios e fisioterapia. Única resposta que a gente tem. Médicos fizeram todos os exames do rim e não detectaram nada. Era perfeito. Tamanho normal, não tinha nada errado, infecção, dores, nada. Anti-inflamatório acaba com seu rim e você não sente nada.”

    Eu conversei com o médico de família Vinícius Ximenes e ele confirmou que os anti-inflamatórios causam muitas reações adversas no organismo. Nas palavras dele, empunhar a caneta de médico demanda muita responsabilidade, pois as suas decisões têm repercussões muitas vezes imprevisíveis na vida do paciente. As consequências de um exame mal indicado, por exemplo, podem ser físicas, psicológicas ou até econômicas:

    “Você tem que pedir um exame contrastado com muita prudência, com muita indicação porque tipos de medicamentos que têm alto grau de reações adversas, anafiláticas, por exemplo. Mesmo exames mais simples, que do ponto de vista físico não são iatrogênicos, eles geram problemas. Exemplo: quantas e quantas vezes o médico entope o paciente de exames, às vezes esses exames nem eram necessários, o paciente faz os exames e fica apreensivo, se pediu um bando de exames é porque tem algum problema, né? Do momento da pessoa receber o papelzinho, fazer os exames e conseguir voltar pro médico para ver os exames muitas vezes é um grande sofrimento, é uma produção de ansiedade desnecessária nas pessoas. Esse é um tipo de iatrogenia psicológica que a prática médica pode causar. Também iatrogenias sociais, quantos pacientes que você não conhece onde ele mora, o contexto familiar dele, a realidade de vida dele e você passa um monte de exames e de medicamentos para aquela pessoa de forma desnecessária, acaba que essa pessoa compromete boa parte do orçamento dela com exames e medicamentos e isso tem um impacto familiar importante pra sobrevida e reprodução de muitas famílias.”

    E, nós, cidadãos e pacientes, acabamos acostumados a essa lógica de exames e medicamentos em excesso. Como nesse caso relatado pelo doutor Ximenes:

    “Uma brasileira foi para a Holanda, estava com uma dor na perna e já queria tomar aqueles anti-inflamatórios de última geração. Só que na Holanda só pode ter acesso a medicamento com prescrição médica. Ela foi ao médico de casa e ele examinou e viu que só precisava de um paracetamol. Ela ficou indignada com isso, revoltada, mas era o recurso mais adequado para o cuidado dela naquele momento.”

    O médico Vinícius Ximenes defende mudanças no modelo brasileiro de atenção à saúde, com mais ênfase no médico generalista, de família, que cuida do paciente como um todo, buscando inclusive as razões socioeconômicas por trás da sua doença. O resultado dessa abordagem, diz o médico, é uma taxa mais alta de cura, com uso mais racional dos recursos da medicina.

    Termina aqui reportagem especial sobre doação de órgãos.

    Reportagem – Verônica Lima
    Edição - Márcio Sardi e Mauro Ceccherini
    Produção - Lucélia Cristina e Cristiane Baker
    Trabalhos técnicos - Carlos Augusto de Paiva
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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/doacao-de-orgaos-e-transplantes-os-motivos-para-um-transplante-bloco-5/308559761

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