É preciso investir em em educação sexual para combater epidemia de sífilis
O Brasil vive uma nova epidemia de sífilis, uma doença infecciosa causada por uma bactéria. A sífilis provoca inicialmente feridas na pele, e se não tratada pode levar a lesões ósseas, cardiovasculares e neurológicas. Entre 2014 e 2015, o número de pessoas infectadas no Brasil cresceu mais de 30%, seguindo uma tendência verificada também em outros países.
No mesmo período também cresceram em 19% os casos de transmissão vertical da infecção, isto é, quando passada de uma mulher grávida ao futuro filho. Nesses casos, ocorre a chamada sífilis congênita, que pode levar a aborto espontâneo, parto prematuro, malformação fetal e/ou morte ao nascer. Diante desse cenário, o Ministério da Saúde lançou uma campanha informativa de combate à sífilis.
“Casal que combina em tudo não pode deixar de proteger seu bebê” é o slogan da campanha, que recomenda a mulheres grávidas e seus companheiros que façam o teste de sífilis e busquem tratamento, ambos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no início da gravidez. Diagnóstico e tratamento precoces são muito importantes, mas a campanha silencia estranhamente sobre prevenção da doença.
Sífilis é infecção sexualmente transmissível (IST), e a forma de prevenção é conhecida há décadas: sexo com uso de camisinha, masculina ou feminina. Não é possível falar de sífilis sem falar de práticas sexuais, e é justamente à ineficácia das campanhas de uso de preservativos que especialistas atribuem a causa da nova epidemia.
Ministério da Saúde que leva infecções sexualmente transmissíveis a sério não pode deixar de investir em educação sexual. Não há prevenção eficaz – seja de sífilis, zika, HIV/AIDS ou qualquer outra IST – se as pessoas, especialmente as jovens, não puderem aprender sobre práticas sexuais seguras, com acesso a informação de qualidade e voltada à garantia do direito ao exercício saudável da sexualidade. Mas o país tropeça no tema. Pouco se sabe sobre se e como a educação sexual é abordada em escolas, e o tema ainda é ameaçado por projetos de lei autoritários que pretendem impedir debates sobre gênero em sala de aula.
Nos últimos anos, o Ministério da Saúde também protagonizou a vergonha de tirar de circulação campanhas de uso de camisinha feitas para públicos específicos, como trabalhadoras sexuais e homens que fazem sexo com homens, em função de pressões conservadoras e religiosas. A nova campanha sobre sífilis já veio equipada com silêncio sobre educação sexual. Resta a nós – a todas que sabemos que não há prevenção sem educação – seguir fazendo barulho.
Sinara Gumieri é advogada e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética. Este artigo é parte do falatório Vozes da Igualdade, que todas as semanas assume um tema difícil para vídeos e conversas. Para saber mais sobre o tema deste artigo, siga https://www.facebook.com/AnisBioetica
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