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15 de Junho de 2024
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    Entrevista: Raimundo Pereira Rodrigues, jornalista

    Publicado por Consultor Jurídico
    há 14 anos

    Perguntado se escreveu o livro O Escândalo Daniel Dantas Duas Investigações em defesa do banqueiro mais acusado do Brasil, o jornalista Raimundo Pereira Rodrigues, autor da obra, diz que não, que escreveu o livro para defender uma tese. E sua tese é de que a transformação de Daniel Dantas em bode expiatório do processo de privatização das telecomunicações foi uma decisão política do governo Lula.

    Se era esse o objetivo, o governo teve êxito total: a telefonia privatizada vai muito bem, obrigado, e Daniel Dantas está fora do mercado de telecomunicações. Em seu livro, no entanto e é isso que o torna indispensável para quem se interessa pela Justiça e pelo Direito , Raimundo Pereira disseca a participação da polícia, do Ministério Público e da Justiça nessa campanha de demonização de um cidadão.

    Sobra também para os homens de negócio e de finanças e sobretudo para a imprensa. E em geral, pode-se aplicar a cada um deles o veredito que o autor faz do trabalho do delegado Protógenes Queiroz, o homem que assumiu de peito aberto a cruzada de destruir Daniel Dantas: A opinião sobre o trabalho de Queiroz é a pior possível.

    Em quase três horas de entrevista para a Consultor Jurídico , Raimundo Pereira discorreu sobre o conteúdo de O Escândalo de Daniel Dantas. Jornalista consagrado, com mais de 40 anos de estrada, Raimundo Pereira surpreendeu ao relativizar um dos direitos considerados fundamentais para o jornalista: o sigilo da fonte. Segundo ele, o direito não pode servir para acobertar mentiras do jornalista. E se pública uma informação que não tem como ser comprovada por outros meios, o jornalista tem de revelar quem foi que lhe contou, ou o caminho que o levou até lá. Seu ponto de vista pode ser surpeendente, mas faz todo sentido.

    Raimundo Pereira Rodrigues nasceu em Exu (PE), terra de Luiz Gonzaga, há 71 anos. Teria sido engenheiro se, em 1964, logo depois do golpe militar, não tivesse sido expulso da faculdade, junto com outros 20 colegas subversivos. Antes de completar o último ano do curso, Rodrigues foi obrigado a deixar o Instituto Tecnicológico de Aeronáutica, o respeitado ITA. Por sinal, Raimundo é engenheiro, sim. Em 2008, recebeu o diploma que lhe foi negado em 64. Mas o doutor nunca reclamou indenização da bolsa ditadura.

    Ele ainda tentou escapar do seu destino, formando-se em Física pela USP, e chegou a dar aulas de Matemática. Mas em seguida se embrenhou pelas veredas do jornalismo, em que se tornaria um campeão. Começou trabalhando na revista Médico Moderno , mas depois haveria de ocupar lugar de destaque nas mais inteligentes redações do país: jornais Opinião e Movimento, revistas Veja, IstoÉ e Carta Capital. Agora, é um dos donos da Editora Manifesto, que pública a revista Retratos do Brasil. Como mostra seu livro, continua em grande forma física e intelectual. É casado há 45 anos com a mesma mulher, como faz questão de salientar, e pai de quatro filhas.

    Participaram da entrevista os jornalistas Márcio Chaer e Alessandro Cristo.

    Leia os principais trechos:

    ConJur Como surgiu a ideia de escrever o livro?

    Raimundo Pereira Acumulei muito material sobre esse assunto, e estamos tentando iniciar uma nova fase no nosso projeto de revista. Vi as inúmeras capas que a Carta Capital fez sobre o tema, assim como também vi coisas da Veja. Fui perceber o papel da Veja depois, quando comecei a estudar o assunto mais a fundo. Mas tinha uma desconfiança de que algo estava errado, de que uma coisa assim não podia ser tão importante, que aquilo era meio descabido, desproporcional. Então, desde que eu fiz Veja , depois Opinião , depois Movimento , e mesmo aqui, a partir dos fatos e de como a imprensa vê os fatos, tem-se uma certa noção de como as coisas estão andando. Então, a ideia de que Daniel Dantas é um bode expiatório é resultado de se olhar e dizer: "Isso não é possível, está sendo escolhido por outra razão". Porque é desproporcional.

    ConJur É possível que uma pessoa possa conciliar tanta maldade, como um demônio?

    Raimundo Pereira Eu escrevi alguns artigos para a revista Retratos do Brasil. Neles, eu cito um monte de declarações que saíram na Veja , na Carta Capital , declarações da [ex-senadora] Heloísa Helena, do [juiz federal Fausto Martin] De Sanctis, e outras, exatamente desse jeito: [Daniel Dantas é] o demônio. Então, eu tinha essa avaliação. E mais, nos últimos anos eu me interessei muito por finanças. Foi uma oportunidade para me aprofundar no assunto.

    ConJur Quando o senhor entra de verdade no caso?

    Raimundo Pereira Eu comecei de fato com a história do [ex-deputado federal pelo PT-SP e advogado] Luiz Eduardo Greenhalgh. Ele me ligou, quando foi deflagrada a Operação Satiagraha, e foi pedida a sua prisão. O Luiz é muito meu amigo, foi advogado do [jornal] Movimento , sempre tivemos boas relações. Eu tinha feito uma matéria com ele para a Carta Capital da questão do escândalo do Celso Daniel [ex-prefeito de Santo André, assassinado em 2002] , em que ele também foi apresentado como sendo elemento de ligação dos bandidos. Ele foi criminalizado. Mandamos uma carta para a Carta Capital desmontando essa tese, fizemos uma investigação de dois meses sobre essa tese de que o assassinato do Celso Daniel era um crime a mando do PT. Então, já tínhamos feito isso e ele me ligou e disse: Olha, estou sendo acusado, difamado pelos jornais, e queria saber se você podia passar em casa. Eu passei, conversamos algumas horas, e ele me deu o material do Protógenes para examinar. Eu fiquei no escritório dele durante uma semana, lendo.

    ConJur Qual foi sua conclusão depois dessa análise?

    Raimundo Pereira Dada a minha experiência de investigação jornalística, lendo o material do Protógenes, havia uma evidência brutal de que aquilo foi um trabalho muito mal feito. Começa pela transcrição dos grampos. Quem é jornalista, quem já entrevistou gente e deu a fita para alguém transcrever, sabe a quantidade de bobagens que vem na transcrição. Esse é um trabalho duro para ser bem feito, coisa de profissional. Então, você olha e diz: Esse trabalho está mal feito.

    ConJur É só mal feito?

    Raimundo Pereira Não. Minha avaliação ficou completa depois que o livro já estava escrito. Porque quando eu estava terminando o livro, eu aprendi algumas coisas novas que me iluminaram e me ajudaram a ver que não era só um trabalho mal feito, mas era um trabalho dirigido para um objetivo. Todo esse grampeamento foi editado, para tirar certas pessoas, certos fatos, e deixar o foco em cima daquilo que o delegado queria.

    ConJur Como assim?

    Raimundo Pereira Você pode falar qualquer coisa contra o Dantas que pega, porque ele é o demônio mesmo. Então, qualquer pessoa pode falar mal dele. E [o delegado] fez isso. Eu só fui perceber depois, por uma coincidência. Pedi para o Luiz Eduardo [Greenhalgh] que eu queria publicar no livro a transcrição do grampo de uma conversa dele com o [Humberto] Braz [ex-presidente da Brasil Telecom e assessor de Daniel Dantas] . Em vez de me mandar a transcrição, ele me mandou o próprio grampo.

    ConJur Que diferença faz?

    Raimundo Pereira A transcrição que está no relatório do [Protógenes] Queiroz é uma coisa curtinha, umas dez linhas. O gra...

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