Estabilidade e benefícios atraem 'concurseiros'

Aumento de candidatos a concursos públicos segue a oferta de vagas no mercado

Cerca de 80 mil vagas serão ofertadas em concursos públicos federais até o final do ano. O levantamento é da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac) e ilustra um pouco porque é que tanta gente está virando ''concurseiro'': além da grande lacuna a ser preenchida, muitos, especialmente os mais jovens, têm deixado de lado o sonho de uma carreira vinda de uma faculdade por um cargo que ofereça maior e mais rápida possibilidade de ascensão, benefícios, salários superiores e, principalmente, estabilidade.

''Estava trabalhando em uma produtora de porte pequeno, que não tinha muita opção de crescimento. Surgiu a oportunidade de morar com mais duas amigas em Londres e ficamos lá dez meses. Ainda fiz uma nova tentativa de ficar na área, com um curso de design básico por lá. Mas, quando voltei, fiquei meio perdida na área e decidi partir para o concurso público'', justifica a opção por ser ''concurseira'', Thaís Mise Yanagui, 25 anos, publicitária e estudante de Economia que atua como auxiliar administrativa, cargo ocupado na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) a partir de edital.

Em pesquisa realizada pela Anpac com as principais bancas examinadoras, entre 2005 e 2007, foram registrados aproximadamente 10 milhões de inscrições em todo o País. ''Essa alavancada de abertura de novos concursos aconteceu pela falta de funcionários públicos, que cumpriram com a vida de trabalhador e se aposentaram.'', explica Ângela Marisa Zorzi Ribas, coordenadora-geral do Cursos e Concursos, empresa de Curitiba especializada em concursos públicos.

''O índice de aposentadoria é grande e, além disso, o Tribunal de Contas e o Ministério Público determinaram que até 2010 todos os cargos públicos que não foram ocupados por concurso precisam ser substituídos por concursados'', complementa Maria Tereza Sombra de Albuquerque, diretora-executiva da Anpac no Rio de Janeiro.

Até o momento foram ofertadas 44 mil vagas em concursos públicos federais em 2008, número que pode chegar a 80 mil em dezembro. ''O número de vagas é maior se formos contar o número de concursos estaduais e municipais'', contabiliza Maria Tereza. ''E a concorrência aumenta também por causa da instabilidade nas empresas privadas'', nota.

Essa instabilidade, aliás, é o que mais impulsiona os ''concurseiros'', principalmente estudantes do ensino médio e recém-formados no nível superior, a buscar um cargo público. ''Fiz estágio em órgão público, gostava muito e tinha bastante autonomia. Você trabalhava e conseguia ver os resultados voltando pra você'', diz Juliana Hellvig, 22 anos, formada em Jornalismo e que agora está tentando seguir carreira na área em uma empresa pública.

Como todo mundo está de olho em um emprego estável, com benefícios e salários mais atraentes, a vida de ''concurseiro'' passa a ser de estudos intermináveis, viagens constantes, um olho no caderno e outro na concorrência. ''Na minha sala, a maioria trabalhava de dia e à noite ia para o cursinho. No final de semana ficava estudando, era bem difícil, cansativo. Muita gente dormia na aula, eu era um exemplo. Dormia mesmo, na primeira aula não adiantava nem cutucar'', lembra Patrícia Ortiz Ribeiro, publicitária de 25 anos, que já foi candidata em dez concursos. Patrícia contabiliza, em todas as provas que já fez, concorrência de aproximadamente 100 mil pessoas. No último que realizou, ficou na posição 693 entre 40 mil candidatos a cargo no Banco do Brasil.

A maioria dos candidatos lamenta o fato de as empresas privadas não poderem concorrer com as ofertas dos editais públicos. Isso deve prejudicar o próprio setor. ''O mercado está perdendo bons profissionais por não oferecer os mesmos benefícios dos cargos públicos'', opina Thaís.

No final das contas, para o ''concurseiro'', o mais importante é encontrar o equilíbrio entre a profissão desejada com o emprego mais adequado às necessidades de cada um.