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29 de Maio de 2024
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    Fetichismo de mercadoria: a “naturalização” de padrões sociais “não-naturais”

    Publicado por Justificando
    há 7 anos

    O século XXI é retratado por um período de transição, em que é nítida a transformação da filosofia, na sociedade, engajada nos preceitos das Revoluções Burguesas, do século XVIII.

    Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio, o conceito “fetiche” se refere ao “objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto” (Holanda, 1993, p. 429). Foi através desse significado que Karl Marx conferiu o termo ao fenômeno da Era Moderna, referente as relações sociais envolvidas na produção como relações econômicas, entre o sistema monetário e os interesses do mercado. Isto é, o Fetichismo da Mercadoria transforma, ideologicamente, os fatores subjetivos em padrões.

    Marx explicita em sua obra “O Capital” que o produto, quando finalizado, tinha seu valor determinado numa percepção irreal e infundada, de acordo com os negócios empresariais. Ou seja, o produto adquire um valor como se não fosse fruto do trabalho humano. Em seu ponto de vista, a mercadoria parecia “ganhar vida própria” e ser fator determinante, na sociedade: quem possui, está em um certo padrão social; quem não possui, não está.

    Diante do exposto, é significante ressaltar como o contexto social, histórico e político implica direta e indiretamente na vida dos indivíduos, que nele vivem. Em suma, o “padrão”, por mais subjetivo que seja, pode se “coisificar”, no cotidiano do sujeito, levando-o a estímulos depressivos e a vários transtornos e/ou desconfortos psicológicos.

    Diante aos preceitos do século XXI, transformaram a ideia de liberdade em produto de marketing. Fala-se muito em evolução e “empoderamento”. Todos estão sentindo a mesma necessidade de reparar os erros de um mundo conservador e pessimista – mas poucas pessoas estão dispostas a colocar as “mãos na massa”.

    Se a cultura de massa permite continuar vivendo no mesmo conformismo, mas com aditivos para alimentar a consciência social, então, ela é apoiada. Isto é, a situação permanece: a classe trabalhadora é bombardeada, através dos meios de comunicação, sobre como deve-se ser, vestir e se comportar. Reverencia-se a marca. Continua-se na base da pirâmide. Perpetua-se o desgaste físico, emocional, por trás do esforço para estar no padrão, para ter o padrão, para SER o padrão.

    “Senhores, não vos deixeis iludir pela palavra abstrata de liberdade. Liberdade para quem? Esta não é a liberdade de um simples indivíduo em presença de outro indivíduo. É a liberdade que tem o capital de esmagar o trabalhador.” (Marx, 1848, p. 13)

    A liberdade deste século é válida apenas para quem possui capital. A classe trabalhadora, que não detém os meios de produção e nem capital, fica à mercê da benevolência de empresários, que se sustentam da exploração.

    O resultado é uma relação “coisificada”, invertendo a relação social: as pessoas agem como objetos e os objetos são percebidos como pessoas. Causando, assim, dependência dos produtos, pois a necessidade está instalada, estimulando desconfortos e transtornos psicológicos, em vários graus, estimulado pela vontade de possuir algo que naturalizou-se, que padronizou-se, gerando uma falsa sensação de liberdade.

    As grandes questões refletidas pela Filosofia, no século XIX, pós Revolução Industrial, foram provocadas pelo Romantismo, enfatizando a preocupação com o ceticismo radical e a impossibilidade de apreensão da verdade.

    O grande tema refletido, nessa época, e que tem raízes profundas na tradição, foi o tema sobre o absoluto, sobre a possibilidade de uma nova metafísica, de uma nova verdade absoluta. Ora, se na Idade Média essa verdade era o místico e o Clero, na Idade Moderna, o produto será determinante. Ou seja, numa sociedade industrial, o que se possui, o que se é, o que se veste, determina quem domina, quem está no topo da pirâmide social.

    A disfunção, nisso, é a questão do aprisionamento de um indivíduo para outro, subordinados a uma verdade subjetiva e elitizada, que fora, estrategicamente, instalada como objetivo a ser atingido.

    Através da maiêutica socrática, entende-se que essa “verdade” ou essa “razão” seja questionável. Seja subjetiva, não sendo “coisificada” ao ponto de causar desconfortos paradoxais.

    Hegel atribui ao termo razão à soma de todas as manifestações humanas, pois, segundo ele, só o homem possui um “espírito”. Ou seja, sua filosofia defende que o ser humano não se trata de uma espécie de consciência adormecida, mas sim, despertada. Isto é, Hegel defendia que a verdade era algo subjetivo e questionava a possibilidade de haver apenas uma verdade, pois todo o conhecimento é conhecimento humano.

    Para ele, através da exteriorização da ideia, independente das “coisas”, o pensamento cria o mundo, sendo toda verdade essencialmente vinculada a determinado contexto histórico.

    Segundo a sua filosofia, o mundo sempre existiu, mas, através da cultura humana, o mundo desperta cada vez mais a sua consciência. Mas a dialética de Hegel não se resume somente à história. Isso quer dizer que, quando se debate ideias, discute-se dialeticamente, pois tenta-se identificar erros em certa forma de pensar. Esse fato é definido, por Hegel, de “pensamento negativo”. Para ele, no decorrer da discussão, ao se detectar essas falhas, ao mesmo tempo, preservar-se os pontos positivos.

    Segundo pesquisas de suicidologia, quando volta-se ao ano de 1930, durante o período da quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, registrou-se um número significativo de suicídios, em relação ao ocorrido.

    Ron Maris, ex-diretor do Centro sobre Suicídios da Universidade da Carolina do Sul observou um aumento do índice de suicídios, em períodos de recessão.

    Baseando-se nessas informações, pode-se concluir como o poder aquisitivo dos séculos industriais são determinantes na vida física e psicológica dos indivíduos, o que leva a problemática: o enguiço do “ser”, do “estar no padrão” e do “possuir” pode causar depressão entre outros transtornos psicológicos; pois isso é considerado “verdadeiro” nesta época, objetivando, de uma forma falaciosa, que o fato de não “ser”, não “estar” e não “possuir” torna o sujeito menos “valioso” socialmente.

    Sendo assim, o objetivo à solução da problemática é: intervenção direta, na sociedade, apresentando a subjetividade dessa “verdade”. Ou seja, será possível que, as pessoas estando conscientes disso, podem tornar-se menos propícias ao controle de massa industrial?

    Rita de Cássia M. Jubini é professora de História e Filosofia, estudante de Psicologia da Faculdade Multivix de Cachoeiro de Itapemirim.

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