Imposto de Renda e eleições

Por Luiz Henrique Muller,mestre em Administração

Os políticos no Brasil sempre nos dão motivos suficientes para pensar, mas nada melhor do que a hora de acertar as contas com a Receita Federal para traçarmos relações entre dois momentos tão importantes para a nação: Imposto de Renda e eleições.

A grande maioria dos brasileiros, inclusive os mais esclarecidos, não faz a menor ideia de quanto paga de impostos, isto porque grande parte dos tributos está deliberadamente camuflada nas transações comerciais, como é o caso do ICMS, IPI, ISS e outros. O imposto de renda, ao contrário, é direto e pode consumir com quase 30% da renda bruta de um brasileiro numa única mordida do leão.

Este seria um bom motivo para que o vencimento do imposto de renda coincidisse com as eleições, afinal, são aqueles que elegemos que têm a responsabilidade de administrar essa fatia tão significativa da nossa renda, aplicando os recursos em saúde, educação, segurança e infraestrutura.

Se juntássemos imposto de renda com eleições, talvez fosse mais fácil de lembrarmos que o Brasil é um país incrível, ou melhor, inacreditável. Digo isso porque nem uma alienígena acreditaria que neste país um criminoso preso tem atendimento médico imediato, enquanto um cidadão comum, contribuinte e honesto, tem que ficar aguardando leito jogado nos corredores dos hospitais. O poder público financia clínicas de recuperação para aqueles que optaram pelo crack, enquanto os cidadãos, aqueles mesmos que entregaram 30% da sua renda, se quiserem saúde, terão que pagar planos de saúde.

A parcela dos impostos destinada à segurança pública não consegue dotar as delegacias de recursos mínimos e nem pagar salários dignos aos policiais civis e militares; mas o cidadão comum, aquele mesmo que contribuiu com 30% da sua renda, se quiser segurança, tem que investir em câmeras de segurança, cerca elétrica, vigilância, seguro de automóvel etc., e mesmo assim continua sendo assaltado diariamente, o que já é lucro, porque a criminalidade já se tornou banal, o que não é de se estranhar, afinal, deve fazer mais de 20 anos que não se tem notícia de nenhuma alteração no código penal que possa amedrontar um bandido, muito antes pelo contrário, os crimes crescem diariamente e as cracolândias se proliferam até mesmo em cidades do interior.

Quanto à educação, nem é necessário falar muito porque boa parte da situação já é de domínio público.

Boa parte porque só mesmo vendo de perto as escolas e falando com professores para ter-se a noção da tragédia que é o ensino fundamental no Brasil. Entretanto, as estatísticas de repetência e frequência certamente continuarão melhorando, afinal, a reprovação em séries iniciais já está proibida.

Enquanto isso o Fantástico continua crescendo em audiência com as reportagens investigativas que seguem durante a semana no Jornal Nacional, todas explorando a fartura de assuntos envolvendo corrupção e gastança dos recursos públicos, em especial aqueles 30% do nosso salário.

Nesta época de declaração de renda é bem mais duro para um brasileiro saber no domingo que a verba de representação de um deputado no Amapá é de R$ 100 mil por mês. Pior ainda é ver na segunda-feira o presidente da Assembleia Legislativa dizer, em tom debochado, que está tudo certo e que tudo continuará igual, no mesmo momento em que a população joga ovos no prédio.

Mas o importante é que somos imunes às crises financeiras, nossas reservas internacionais são as maiores da história, o pré-sal garantirá o nosso futuro e a copa do mundo será aqui com estádios superfaturados e novinhos, financiados em grande parte pelos 30% do nosso salário que teremos que pagar até 30 de abril.

Exceto por aquela sugestão de pontapé no traseiro que já foi contestada, nossa imagem no plano internacional está cada vez melhor, aliás, nossa conquista mais recente foi o reconhecimento dos Estados Unidos de que a cachaça é um produto tipicamente brasileiro. Pelo menos pinga não importaremos da China.