Justiça com as próprias mãos
"A mais triste nação, na época mais podre, compõe-se de possíveis grupos de linchadores". Esta frase é um verso de Caetano Veloso, que, em 1990, indignado com uma onda de linchamentos no Brasil ainda subdesenvolvido, escreveu a canção "O c... do mundo".
Recorrendo ao fato linguístico de que a palavra 'c... ' pode ser classificada como adjetivo ou substantivo comum, Veloso cantou que o Brasil , "c... do mundo" (periferia das potências e dos centros de decisão da política internacional), seria, pela frequência com que linchamentos acontecem por aqui, um 'c...' (no pior sentido desse adjetivo esdrúxulo, sujo, fedido, péssimo, insuportável).
Um levantamento realizado em Porto Alegre, com 400 pessoas (ambos os sexos, idades entre 16 e 70 anos), pela empresa Segmento Pesquisas, revela dados assustadores sobre o que moradores da cidade pensam da ideia de "fazer justiça com as próprias mãos".
Dos entrevistados, 15,3% responderam que "a prática é aceitável"; outros 6,5% disseram que "esse agir é compreensível em função da impunidade". Menos mal que 78,3% acreditam no Estado de Direito e definem essa barbárie como "inaceitável".
Outros detalhes: a) a faixa etária a favor da estupidez é mais aceita (20,7%) dos 18 aos 24 anos; b) entre os que têm mais de 70 anos, o índice despenca para 3,2%; c) modo geral, os mais simpáticos ao linchamento são homens (16,1%.).
A lição que fica é que parte da população começa a externar sua inconformidade com a impunidade vigorante. E isso convida a sociedade - e especialmente legisladores e julgadores - à meditação.
Veja, no Youtube, Caetano Veloso interpretando a canção de sua autoria. Clique aqui.
0 Comentários
Faça um comentário construtivo para esse documento.