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17 de Junho de 2024
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    Leia a transcrição da entrevista de Ciro Gomes à Folha e ao UOL

    Publicado por Folha Online
    há 13 anos

    DE BRASÍLIA

    Ciro Gomes (PSB), ex-governador do Ceará e ex-candidato a presidente da República, participou do programa "Poder e Política - Entrevista", conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. A gravação ocorreu em 17.nov.2011 no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O projeto é uma parceria do UOL e da Folha .

    Leia a transcrição da entrevista e assista ao vídeo:

    Veja vídeo

    Ciro Gomes - 17/11/2011

    Narração de abertura : Ciro Ferreira Gomes, ex-candidato à Presidência da República, tem 54 anos. Atualmente não tem mandato político.

    Ciro nasceu em Pindamonhangaba, em São Paulo. Mas fez carreira política no Ceará, Estado que governou de 1991 a 1994. Foi também Prefeito de Fortaleza, deputado estadual e federal.

    Ciro já foi filiado ao PDS, ao PMDB, ao PSDB, ao PPS e, agora, está no PSB, Partido Socialista Brasileiro. Candidatou-se a presidente da República em 1998 e em 2002. Em 2010, sem apoio de seu próprio partido, não conseguiu ser candidato.

    Folha/UOL : Olá internauta. Bem-vindo a mais um "Poder e Política Entrevista".

    O programa é uma realização do jornal Folha de S. Paulo, da Folha.com e do portal UOL. A gravação é realizada aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

    Hoje o entrevistado é o ex-ministro, ex-deputado federal, ex-governador de Estado, Ciro Gomes.

    Folha/UOL: Muito obrigado por sua presença aqui. Eu começo perguntando: como vai a vida fora do governo e como é que o sr. está conseguindo viver fora do governo?

    Ciro Gomes : Quer dizer, fora do governo não. Fora da política. Eu vivi fora do governo praticamente quatro quintos da minha vida pública, se tivermos em conta minha relação com o governo federal, a quem eu movi oposição até, excepcionalmente, o Itamar Franco [presidente de 2.out.1992 a 1º.jan.1995] de quem eu fui ministro da Fazenda. Ajudei ali na consolidação do Plano Real. E no primeiro mandato do presidente Lula. Nos outros todos eu estive em oposição. Bom, agora, eu também apoio a Dilma.

    Enfim, eu diria a você que é uma coisa muito boa, por um lado. Porque eu posso dormir sem muitas angústias, minha agenda sou eu que escolho, falo com quem eu quero. E por outro lado também não é realizador.

    Folha/UOL: O sr. tem vivido profissionalmente fazendo palestras?

    Ciro Gomes : Isso. Faço palestras. O partido [PSB], a fundação do partido me estipendia com uma garantia de sobrevivência, que é uma prática para travessias de lideranças que, como eu, possam não estar no momento correto... Enfim, eu vivo do meu salário e faço palestras, pelas quais eu me remunero.

    Folha/UOL: Tem ficado mais com a família no Rio de Janeiro, no Ceará, em Brasília? Como é que o sr. se divide?

    Ciro Gomes : Eu estou mais dedicado ao Ceará agora. Enfim, cumprindo algumas tarefas também muito agradáveis, por delegação do governador Cid [Gomes, do PSB, irmão de Ciro Gomes]. Eu me meti lá na organização do meu partido, do PSB, que é o nosso partido, nos municípios todos do Estado do Ceará e traquejando com vereador. Coisa que fazia 25 anos que eu não fazia, acabou sendo muito agradável.

    Folha/UOL: Como está a presidente Dilma Rousseff depois de quase 11 meses no Palácio do Planalto?

    Ciro Gomes : Olha, eu acho que ela está indo razoavelmente bem. Diria razoavelmente bem porque essa crônica eterna das crises de corrupção, ela está conseguindo se desvencilhar de um jeito surpreendentemente correto, para quem não tinha vivencia política praticamente nenhuma. O que ela está revelando ao país é que... por pragmatismo da aliança terrível que ela teve que honrar, o arco de forças que compôs a base de sustentação da Dilma era a crônica de uma morte anunciada. O cimento dessa aliança foi a fisiologia e a expectativa de roubalheira sem nenhuma dúvida.

    Folha/UOL: Como nos governos anteriores.

    Ciro Gomes : Não, de jeito nenhum. O primeiro governo do Lula não teve nada que ver com isso. Tanto que ele...

    Folha/UOL: Não, mas durante o governo.

    Ciro Gomes : É... durante o governo. O Collor [Fernando Collor, presidente de 15.mar.1990 a 2.out.1992] não topou isso. Sejamos justos. O Collor não topou isso e fez uma coisa muito inorgânica. Acabou rompendo com tudo que está posto na vida pública brasileira e caiu pelos erros, mas caiu também por essa inorganicidade absoluta com que ele conseguiu se situar na Presidência da República. O Itamar Franco não fez isso. O Itamar Franco apelou quase sempre para uma sustentação de opinião pública.

    Folha/UOL: Fernando Henrique e Lula?

    Ciro Gomes : Os dois fizeram, gravemente. Eu me lembro de uma conversa que eu tive com o presidente Fernando Henrique, denunciando na época problemas graves no Ministério dos Transportes e ele meio que, rendido assim... Claro que ele é um homem decente, ele não tem nenhuma deformação moral na minha opinião. Os erros do Fernando Henrique que eu condeno veementemente são outros. Ele disse para mim: "Olha, você é muito jovem, um dia você vai sentar nessa cadeira aqui -era a cadeira de presidente da República -e vai ver que o presidente que não contemporizou com o patrimonialismo caiu". E eu disse para ele: "eu não concordo com isso não". E fui embora e rompi com o PSDB. Depois, no primeiro governo do Lula, o Zé Dirceu [ex-ministro da Casa Civil] já queria essa trempe aí de PT com PMDB, com cimento de fisiologia. E o Lula resistiu. Eu testemunhei isso.

    Folha/UOL: Depois cedeu.

    Ciro Gomes : Depois da crise do mensalão ele resolveu ceder.

    Folha/UOL: E esse modelo foi herdado por Dilma Rousseff.

    Ciro Gomes : Sim. Mas o que ela está revelando, que é importante, é que ela não tem compromisso com o erro.

    Folha/UOL: Agora, quase 11 meses de governo Dilma Rousseff. O sr. poderia apontar dois grandes acertos ou dois grandes erros até agora na administração e na política?

    Ciro Gomes : Eu acho que o erro básico na política é que falta a engenharia da construção. Eu acho que ela pessoalmente não pode se dedicar a isso, o cerco de pessoas que teoricamente estariam encarregadas de fazer isso não têm a vivência. Eu já falei isso pessoalmente com ela. É preciso ter essa atitude de não ter compromisso com o erro, porque senão você delega sua autoridade para essas chantagens de CPI, para essa chantagem de uma certa mídia que parece moralista, parece preocupada com a ética, mas na verdade está querendo sangrar mais fundamente os cofres públicos e tal.

    Mas é preciso construir também. Por quê? Porque eu acho que, até agora, está indo tudo muito bem. A economia ainda não revelou o que vai revelar no ano que vem, que parece ser um ano tendente a zero no crescimento econômico. O espaço para os salários crescerem vai se fechar. O desemprego volta a ser um problema, não explosivo, mas volta a ser um problema.

    Para o ano que vem acumulam-se forças potencialmente negativas. Elas não são, nenhuma delas, explosivas. O Brasil não vai quebrar pela segunda vez em 150 anos porque essa crise pode até ter um lado muito favorável para o Brasil, mas nós não fizemos as equações. Esse é outro erro, na economia. Comentamos daqui a pouco. E não é dela [Dilma]. É um erro crônico na medida em que o PT desertou de qualquer visão estratégica realmente mudancista no Brasil.

    Folha/UOL: Agora, de economia, mas já que você está falando...

    Ciro Gomes : Mas falando na política, que é mais grave, é preciso ter essa atitude que ela está tendo de dizer: "Olha, eu não tenho compromisso com o erro". Claro que a iniciativa sendo de um ou outro órgão de imprensa etc etc é sempre muito perigoso. Porque não há boa intenção sempre. Há setores dessa grande imprensa que, na verdade, apenas querem sangrar mais profundamente os cofres do Estado...

    Folha/UOL: Já que o sr. mencionou...

    Ciro Gomes : ...mas a tese é a seguinte: falta atitude construtiva. Falta alguém capaz de separar o joio do trigo, estabelecer parcerias, cumplicidades, alinhamentos nessa relação...

    Folha/UOL: Quem seria esse alguém?

    Ciro Gomes : A Ideli [Salvatti, ministra de Relações Institucionais], que é minha amiga, é a encarregada institucional do assunto. Na verdade isso é uma atitude de governo, é uma atitude da presidente da República e isso tem que contaminar o governo como um todo. Mas a encarregada seria a Ideli, pessoalmente. E a Ideli, a mim me parece, ela não tem a vivência é... Sendo uma excelente pessoa, ela foi fortíssima quando nós precisamos dela naquela grave crise do mensalão, eu estava na coordenação junto com a Dilma, o Márcio Thomas Bastos [ex-ministro da Justiça] e a "petezada" afroxou toda e ela não. Ela foi uma pessoa excelente, foi corajosa, foi íntegra. Mas esse alinhamento exige mais malícia, mais experiência, mais vivência.

    Folha/UOL: Não há ninguém no governo, no núcleo central?

    Ciro Gomes : Esse é o problema. Ninguém.

    Folha/UOL: Nem a presidente poderia assumir isso?

    Ciro Gomes : Nunca foi boa tarefa, porque a Presidência é a última instância. Esse alguém tem que ser uma pessoa capaz de dizer sim e não.

    Folha/UOL: O ex-presidente Lula...

    Ciro Gomes : Essa pessoa tem que dizer o seguinte, como Maquiavel ensinava, que o príncipe, até disse isso a Dilma também, que o príncipe tem que ser amado ou temido. Não podendo ser amado, tem que ser temido.

    Folha/UOL: O ex-presidente Lula tinha, pelo menos até agora, até ficar enfermo [passa por um tratamento contra um câncer na laringe], colaborado bastante nessa área política.

    Ciro Gomes : Tinha. Mas isso gera um contraste, porque a Presidência da República, tanto mais na cultura política brasileira, que ainda é um legado meio imperial, meio monárquico... Eu mesmo falei publicamente. O presidente Lula sair de São Bernardo, descer em Brasília, fazer reunião com Sarney [José Sarney, ex-presidente da República e presidente do Senado] e tal para tratar de temas da coisa, diminui a personalidade da Presidência da República. Da presidente da República não digo, [mas] na Presidência como instituição. No telefone tudo bem, é uma colaboração sempre bem-vinda.

    Folha/UOL: Mas então a falta dessa figura que poderia desempenhar essa função para a presidente Dilma é um defeito desse governo que deveria ser resolvido?

    Ciro Gomes : É um defeito de engenharia política grave. Porque no começo do governo tudo são flores. Tanto mais um governo que sucedeu um governo de altíssima popularidade.

    Folha/UOL: Que tipo de problema pode provocar essa deficiência que o sr. aponta?

    Ciro Gomes : No Congresso. Começa com sintomas de greve. Sintomas de inação na atividade. E evolui, se houver margem, para CPIs, tumultos.

    Folha/UOL: Mas isso em geral ocorre quando em geral há uma conjuntura em que a política não vai bem e, às vezes, junto com a economia também indo muito mal.

    Ciro Gomes : Sim, a popularidade é um sinal. O que salvou o Lula por exemplo, nós tivemos uma tentativa de golpe naquela época, não todos, mas ali havia... Eu faço uma comparação como se fosse um linchamento. Ninguém num linchamento parece querer esquartejar o linchado. Todo mundo parece que quer dar só um peteleco. E estavam ali escalando o ...

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