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4 de Maio de 2024

Mensalão: Ministros apostam em novo julgamento

há 11 anos

Na véspera de o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, dar o voto de desempate quanto à aceitação dos embargos infringentes no processo do mensalão, ministros da Corte dão como certo que o colega votará pelo cabimento dos recursos. Caso essa tendência seja confirmada, 11 réus que receberam ao menos quatro votos pela absolvição serão julgados novamente pelo STF, o que levará a Ação Penal 470 a se estender até 2014.

Quatro ministros ouvidos pela reportagem avaliam que dificilmente Celso de Mello votará contra a validade dos infringentes. Todos acreditam que ele manterá o entendimento que expressou em 2 de agosto de 2012, no primeiro dia de julgamento do mensalão, quando, ao se manifestar contra o desmembramento do processo, o decano frisou que esses recursos são cabíveis. Não sendo um julgamento unânime serão admissíveis embargos infringentes do julgado e com uma característica: a mudança da relatoria, afirmou Celso de Mello, no ano passado.

Entre os ministros que consideram o posicionamento do decano pela possibilidade de novo julgamento de parte dos réus, dois votaram pelo cabimento do recurso e dois contra. Interlocutores de outros dois magistrados também avaliam como improvável uma mudança de Celso de Mello em relação à validade dos infringentes. Um dos ministros avalia que os votos proferidos em plenário, tanto os favoráveis quanto os contrários aos novos recursos, terão como efeito a rapidez na próxima etapa do processo, pois a maior parte dos ministros defendeu agilidade no caso.

O ministro Marco Aurélio Mello, embora reconheça que o decano é muito seguro em relação a suas posições, ainda nutre a expectativa de que o colega possa evoluir em sua opinião sobre os infringentes. O ministro Celso é muito seguro em tudo o que faz. Ele realmente apontou que os infringentes são cabíveis, mas a questão não estava em julgamento quando discutimos o problema do desmembramento. Foi uma justificativa (dele) de que haveria a possibilidade do recurso, ficou como uma opinião. Mas sabemos que somente os seguros evoluem, destacou Marco Aurélio.

SERENIDADE O ministro aposentado do STF Carlos Ayres Britto, que atuou no julgamento do mensalão entre agosto e novembro do ano passado, quando se aposentou compulsoriamente, afirmou que o ambiente de pressão sobre Celso de Mello não influirá. Ele é homem de sólida formação técnica e psicológica que se agrega à experiência de mais de 20 anos de judicatura no Supremo, disse Britto, que presidia a Corte durante os primei- ros meses de julgamento do mensalão.

Esse preparo dá a Mello condições de decidir de forma sóbria em qualquer circunstância, dando satisfações apenas à própria consciência, reforçou o ministro aposentado. Ele decidirá com serenidade e sensatez, ao modo dele, de acordo com sua consciência, completou. Ayres Britto não quis revelar sua posição sobre a admissibilidade dos embargos infringentes. Não tenho falado sobre o julgamento para não parecer assédio técnico sobre os colegas que ficaram, de quem deixou a Casa e ficou fazendo pressão. É uma questão de foro íntimo, justificou o ex-presidente do STF.

Na avaliação do advogado constitucionalista Erick Wilson Pereira, nenhuma pressão seria capaz de mudar a convicção do ministro Celso de Mello. Ele sempre foi um ministro de posições muito convictas, disse o doutor em direito constitucional pela PUC-SP.

Só têm a possibilidade de apresentar embargos infringentes os réus que receberam, no mínimo, quatro votos pela absolvição na análise dos crimes pelos quais foram condenados. A possível aceitação desses recursos levará o Supremo a julgar novamente réus como os deputados José Genoino (PT-SP) e João Paulo Cunha (PT-SP), o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Os três últimos poderão se livrar de cumprir pena no regime fechado e passar para o semiaberto caso sejam absolvidos no novo julgamento. Os réus podem ainda ter as penas diminuídas, mas há a possibilidade também de as condenações serem mantidas.

EQUÍVOCO O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), classificou de equívoco a interpretação de que haverá um novo julgamento em relação a réus no processo do mensalão. O ministro alerta que somente uma parte menor das decisões tomadas pelo plenário no ano passado poderá ser reanalisada. As declarações foram dadas em entrevista ao grupo A Gazeta, durante visita que o ministro fez ao Espírito Santo, onde proferiu palestra. O julgamento que durou mais de 50 sessões permanece absolutamente íntegro e as decisões ficam intactas. Se considerar que os embargos infringentes estão valendo, é que serão discutidos determinados aspectos do julgamento.

Já o ministro Gilmar Mendes afirmou ontem, em Cuiabá (MT), que, mesmo acolhidos, os embargos infringentes não devem resultar em alterações no resultado do julgamento do mensalão. Acho que nós deveríamos rejeitar os embargos infringentes. Acho que não seria cabível, mas, no tribunal, se a maioria entender que os embargos são cabíveis, nós devemos decidir isso com rapidez. Mas eu também não tenho expectativa de que haverá mudanças ou grandes mudanças em razão do acolhimento formal dos embargos infringentes, disse Mendes, em entrevista coletiva em Cuiabá, onde ministrou palestra. (Colaborou Ana D Angelo e Renata Mariz)

Perfil técnico e independente

Aos 67 anos, dos quais 43 dedicados à atuação jurídica, o ministro Celso de Mello é conhecido pelo perfil extremamente técnico. A extensão, por vezes inquietante, dos votos contrasta com a lista reduzida de amigos. Reservado, o ministro, que estará sob os holofotes do país inteiro amanhã, quando vai declarar se aceita os embargos infringentes dos réus do mensalão, não frequenta rodas sociais. Os passeios mais comuns se limitam à livraria, ao engraxate no aeroporto e ao McDonalds. Apesar da personalidade discreta, Mello é reverenciado entre colegas de profissão, que são unânimes em citar a independência do magistrado. Se alguém o convencer, tecnicamente, pela não admissibilidade dos embargos, ele o fará sem qualquer temor de ser criticado por, digamos, mudar o voto. Caso contrário, manterá o entendimento que já externou, opina um colega de Ministério Público de São Paulo, onde Mello atuou como promotor e procurador ao longo de 19 anos. Para o advogado José Rubens do Amaral Lincoln, com quem o ministro passou a infância em Tatuí, interior de São Paulo, Mello não se renderá a qualquer pressão social. Lincoln relembra o perfil combativo do amigo como promotor, depois de passar em primeiro lugar no concurso para o cargo. Uma coisa posso dizer: Celso de Mello não é covarde, afirmou Lincoln.

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O que causa maior indignação Simão Cirineu, é a impunidade que grassa no país. Justiça morosa demais, negligente, omissa, conivente porquanto permite e abre precedentes perigosos com decisões estapafúrdias,, em que condenados ou passíveis de julgamentos com antecedentes criminais andam livres em nosso meio e praticando toda sorte de delitos, alguns dos quais crimes hediondos. Essa lenga lenga da Justiça só faz agravar e aumentar a impunidade servido de péssimo exemplo para as novas gerações, insegurança e temor quanto ao futuro. Vejam nos noticiários os crimes que foram manchetes e quando ou em que situação estão aqueles que os praticaram. continuar lendo

A justiça no seu pudor é totalmente cega, portanto, não pode ser vantajosa nem para um lado, nem para outro, ainda mais em se tratando de políticos e empresários corruptos. É muito bom certificar-se de que aquele povo que outrora fazia piadas dos acontecimentos brasileiros por causa do inverter da justiça, dizendo até que a nossa justiça era semelhantemente ao da marinha Paraguaya porque lá não existe mar etc., acabou! Agora é outro tempo. Diante dos fatos e evidencias levantadas pela própria justiça, fica muito dificil aliviar qualquer um que seja neste trâmite judicial, ou então, o estopim da desordem, abalará a nação brasileira por falta de justiça. continuar lendo

Novos tempos surgindo. Doravante o corrupto, o desonesto em geral, se revestirá de outros meios para saciar suas sandices e não o público, não o político. continuar lendo

O Estado brasileiro não precisa de juízes apenas técnicos na cúpula do seu Poder Judiciário, mas de juízes independentes politicamente, cuja motivação de suas decisões jurídicas se dê de modo impessoal, apartidário, em consonância com o eco advindo da voz do Povo, como manda a Carta Maior da República, e não com a letra fria da lei, em subserviência aos que os nomearam. Basta de impunidade àqueles que, utilizando-se de ardil, subterfúgios, malabarismos e elucubrações, procuram procrastinar "ad aeternum" um julgamento, porquanto consciente de que, se julgados conforme a vontade da Constituição, seriam condenados pelos seus atos criminosos e repugnantes aos olhos da sociedade eticamente correta.
O país precisa urgentemente, em nome da independência dos Poderes, de uma modificação radical na forma de escolha dos ministros de todos os Tribunais e do Supremo Tribunal Federal, sob pena de o Presidente da República ou o Partido político que estiver no Poder, decidir, casuisticamente, conforme os seus próprios desígnios, como ocorrera em toda a história dessa pátria ainda amada por muitos. Espero, como jurista que sou, doutrinado pelos princípios constitucionais, que o Ministro Celso de Mello fundamente o seu voto em bases sólidas, todas de fundo constitucional, numa aplicação/interpretação razoável, ponderando todos os valores postos neste julgamento, de modo a aplicar a máxima eficácia ao que já decidira o colegiado, abandonando esse seu "perfil extremamente técnico" em nome da Justiça e da paz social! continuar lendo

Partilho do entendimento de alguns dos colegas sobre o assunto, principalmente sobre o seguinte: O Ministro Celso de Mello (que conheço pessoalmente e sobre quem já escrevi na imprensa nacional), de formação constitucionalista americana, como eu, pode surpreender. Ele sabe muito bem que as supremas cortes dos países adiantados (como a dos EUA, Grã-Bretanha e outros) prezam não só os aspectos técnicos, mas também os políticos e sua repercussão geral, tanto na opinião pública, como no tecido jurídico e social. Inúmeros são os julgados da Suprema Corte dos EUA e europeus relevando questões de alta indagação e conteúdo político, como como os raciais e, mais recentemente, o casamento gay. O confisco perpetrado por Collor no Brasil, julgado pelo STF, só aconteceu depois que o confisco acabou "em razão das altas implicações política e nas relações jurídicas", como me confidenciou na época um dos ministros daquela Corte.

Não estou tentando adivinhar qual será o voto de Celso de Mello amanhã, mas não se surpreendam se ele surpreender...

Convido os colegas que leiam artigo no meu blog (www.blogdopaulorollo.net) de ontem, sob o título "DE QUEM SERIA A CULPA???" sobre a matéria.

Saudações a todos e até amanhã, às 14 hs e um pouco... continuar lendo

Não obstante a enorme pressão que colegas dele do Tribunal, a mídia e os recursos de internet lhe fazem, creio que o Ministro decano do STF se alheará a ela, influenciando-lhe apenas seus conhecimentos jurídicos.
Conheço dele duas manifestações: uma em que condena, com extrema indignação (http://www.tribunadaimprensa.com.br/?p=50670), a prática exercida pelos chamados "mensaleiros" e outra em que claramente se declara a favor dos embargos -- que não significam necessariamente absolvição, mas oportunidade para que sejam reexaminados aspectos dos julgamentos em que determinados réus obtiveram, pelo menos, quatro votos favoráveis:https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=gX_5Lmi4thI
O que os indignados precisam entender é que novo julgamento de partes dos processos de alguns réus não significa necessariamente modificação de resultados. Os ministros que votaram pela aceitação desses embargos podem muito bem votar pelas condenações anteriores. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa...
A questão é técnica, não política. Aqueles inúmeros leigos que assinaram abaixo-assinado pedindo-lhe que vote pela recusa estarão merecendo a reprimenda que um sapateiro teria, no século IV a. C, recebido do pintor Apelles, que após lhe propor correção, logo aceita, de algo na sandália, se entusiasmou para novas observações na pintura. Ao que o artista se indignou: “Não suba o sapateiro além da sandália”. continuar lendo

Fato, justiça por justiça. Ainda que julgados bandidos, que a justiça lhes seja concedida. Um peso e uma medida. continuar lendo