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17 de Junho de 2024
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    Moradores do Golfo do México com sinais de intoxicação

    Orange Beach, Estados Unidos, 17/11/2010 Cada vez é maior o número de pessoas doentes na costa norte-americana do Golfo do México devido ao vazamento de petróleo da Britsh Petroleum (BP), que usou dispersantes tóxicos para enfrentar o desastre. Tenho um dolorosa urticária na altura do estômago, disse à IPS Denise Rednour, de Long Beach, no Estado do Mississippi. Parece que sangra por dentro, acrescentou.

    Denise vive perto da praia, por onde caminha quase diariamente desde que explodiu a plataforma petroleira da BP, no dia 20 de abril. Segundo ela, há cada vez menos animais silvestres e, em muitos dias, o cheiro de produtos químicos inunda o ar. Seus atuais problemas de saúde se juntam aos que padece há meses, como dor de cabeça, dificuldades respiratórias, resfriado, náuseas e hemorragia nos ouvidos.

    Para enfrentar o vazamento de pelo menos 4,9 milhões de barris de petróleo, a BP reconheceu que usou 7,18 milhões de litros do solvente Corexit, proibido em 19 países, para degradar o petróleo. Os dispersantes contêm químicos que, segundo muitos cientistas e toxicologistas, são perigosos para a saúde humana, a vida marinha e a silvestre.

    As graves consequências neurotóxicas da exposição a solventes orgânicos sobre trabalhadores e animais de laboratório são narcose, anestesia, depressão do sistema nervoso central, dificuldades respiratórias, inconsciência e morte, diz o estudo Neurotoxidade do solvente orgânico, divulgado em março de 1987 pelo Instituto Nacional de Saúde e Segurança Ocupacional. Vários compostos químicos que figuram no documento, como estireno, tolueno e xileno estão presentes no Golfo do México.

    Doem todos os meus músculos, disse à IPS a capitã Lori DeAngelis, que costuma comandar excursões para avistamento de golfinhos em Orange Beach, no Estado do Alabama. Quando subo escadas, tenho espasmos musculares. Tusso, a garganta coça o tempo todo, e tenho a voz rouca, acrescentou. Além disso, esqueço muitas coisas importantes. Tenho de andar com lápis e papel e escrever tudo para não esquecer, prosseguiu.

    A química Wilma Subra analisou, em outubro, o sangue de oito pessoas que vivem e trabalham na faixa costeira buscando sinais voláteis de solventes. As três mulheres e os cinco homens tinham etilbenzeno e m,p-xileno no sangue, diz o relatório de Wilma. São substâncias químicas orgânicas voláteis presentes no petróleo da BP, explicou.

    Problemas de saúde como os de Lori e Denise são comuns agora no Golfo do México, do Estado da Louisiana ao da Flórida. No começo de setembro, o governo local deu luz verde para que os surfistas voltassem à água, disse à IPS o diretor da Associação Oriental de Surfistas, Chuck Barnes, responsável por organizar competições esportivas. Contudo, em seguida, muitos começaram a ter dores de cabeça e problemas nas vias respiratórias, entre outros. Então, decidi que era necessário analisar a água, contou.

    As análises feitas na água da área de Orange Beach mostraram que estava tudo contaminado, disse Chuck. Preocupa o fato de todos darem luz verde e ninguém fazer uma análise honesta da qualidade da água. Transformaram o Golfo do México em um experimento científico. Somos observados com lupa e esperam para ver o que nos acontece, acrescentou.

    Agora tenho uma nova urticária no peito, depois das bolhas que me deixou o anterior. Fiz um exame em Pensacola, na Flórida, e descobriram que tinha seis dos nove produtos químicos utilizados pela BP, contou Jose Overstreet, comerciante da localidade de Fairhop, no Alabama. Jose, que trabalhou para a equipe de resposta ao desastre da BP, também fez um exame de sangue. Quase todas as noites tomo um analgésico para acordar sem dor de cabeça. Há pouco começou a me incomodar o lado direito e sinto dores muito fortes. Quando a dor chega tenho de parar com tudo que estou fazendo. Isso acontece diariamente, acrescentou.

    Acostumado a trabalhar com substâncias perigosas, Jose disse que ele e seus vizinhos podem sentir o cheiro do benzeno que chega à baía. Trabalhei na praia e quando a maré estava baixa podíamos sentir o aroma das ameijoas. Costumavam ser brancas, e agora são negras, contou. Ninguém parece dar atenção ao que está ocorrendo. Vivi aqui toda minha vida e sei que as coisas não estão certas, acrescentou. A falta de respostas por parte das autoridades locais o deixa desconcertado.

    Lori se preocupa com os golfinhos e a população costeira. É devastador, disse. Minha identidade depende de ser a capitã Lori, mas não sei se poderei voltar à água e cuidar de meus bebês. Ninguém nos diz o que acontece. Não sei como descrever. É o pior que o governo pode fazer com a gente, acrescentou. Envolverde/IPS

    FOTOS

    Crédito: Erika Blumenfeld/IPS

    Legenda: Crianças na praia de Orange Beach, no Estado norte-americano do Alabama.

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